Duas batidas sólidas na porta me trazem de volta ao presente.
Jesus! Fazia uma vida que não pensava em Amy ou Hilary. Essa espera realmente não esta me fazendo bem. Após as batidas a porta se abre
−Filho?
A mão apoiada na lateral da porta entreaberta seguiu-se da cabeça de meu pai sendo colocada para dentro. Sua expressão é um mix de incerteza e curiosidade. Estranho, com certeza muito estranho.
−Pode entrar pai. Estou aqui... Fazendo algo que ainda não sei o que.
Ele ri. Definitivamente algo difícil de ver em meu pai. No auge de seus sessenta e alguns anos ele é uma presença que se impõe sobre qualquer local em que se encontre. Um pouco fora de forma, mas com uma postura que deixa bem claro quem esta no controle. Os olhos são azuis iguais aos meus e os cabelos que antes eram castanhos, agora são de um branco acinzentado. O terno preto bem cortado contrastando com a camisa de botões branca sem uma única marca de amassado, concedem a imponência que o meu velho impõe com se fosse sua segunda pele. A única pessoa melhor do que ele nesta arte, é minha digníssima mãe cuja imponência só rivaliza com sua superficialidade. E que Deus salve a nós todos desta última, principalmente hoje.
−Esta quase na hora. Tem certeza que prefere ficar aqui até lá? Todos vieram te apoiar, você não precisa ficar só.
−Bom. Estou bem, prefiro ficar onde estou até que não possa evitar ir lá.
Ele se balançou nos calcanhares e hesitou, mais uma atitude muito rara de se presenciar, no que diz respeito a meu pai. Mas continuou seu discurso.
−Você esta bem Alecxander? Eu sei que este tipo de situação pode ser esmagadora, mas você parece meio fora de si no momento.
Nunca fomos muito próximos. Meu pai, Joseph Prince, é um homem seco e distante. Acredito que nem mesmo minha mãe, consiga se sentir próxima a ele. Mas, também não acho que isto faça qualquer diferença para ela, que apenas se preocupa com a aparência que todos nós ficaremos nas fotos, e a opinião que os outros emitirão ao nos ver. O senhor Prince não dá a mínima pra estas baboseira, e definitivamente tão pouco se encaixa no estilo conversa pai e filho. Portanto este bate papo é bem fora da curva para ele.
−Vou ficar. Assim que tudo isto estiver acabado e eu finalmente seguir com a minha vida. Sei que existem coisas que são necessárias, mas definitivamente este circo e esta espera eram totalmente dispensáveis na minha concepção e na dela também. Mas, as coisa são com tem que ser.
Ele elevou uma sobrancelha e seu olhar foi questionador esperando por mais. Bem, sorte dele. Hoje estou no modo falante.
−Toda esta movimentação me fez relembrar de alguns momentos que vivi. Talvez este seja o motivo de minha aparência inquieta.
−Pode ser. Mas você esta com a mesma cara de quando foi ao meu escritório falando que precisava sair da NYU. Lembro-me de achar que você tinha caído de cabeça no concreto.
Ele balançou incredulamente a cabeça como se a memoria estivesse passando na sua frente em uma tela de tv.
−Curioso. Estava lembrando de algumas coisas antes disto.
Apontando para a garrafa de scotch e servindo-se de uma dose ele continua com o bate papo.
−Quantos deste você já tomou?
−Três.
−Cuidado para não apagar antes da hora. Seria um prato cheio.
−Serei um homem morto se não fizer minha parte hoje. Mas, há quem diga que já morri mesmo. Poderíamos aproveitar todos reunidos para o funeral.
Ele riu novamente.
−Sei que nunca conversamos muito sobre qualquer coisa que não era a empresa. Mas diante de quão rápido tudo aconteceu, sinto que não seria indelicado de minha parte se eu questionar... Você se arrependeu? Em algum momento ou mesmo agora, você se arrepende?
A resposta veio sem precisar pensar.
−Não.
Ele balança a cabeça para trás e para frente em concordância, mas ao mesmo tempo como se esperasse por um complemento. E este vem tão fácil quanto a primeira resposta.
−Sei que nada foi muito convencional. Tudo foi... Precoce, na falta de um adjetivo melhor. Mas eu deveria estar aqui. Eu. Quero. Estar. Aqui.
−Agora se parece mais com você mesmo.
Engraçado ouvir alguém falando que algo se parece comigo quando nem eu sei o que ou quem realmente sou.
−Acho que estou reaprendendo a identificar o que se parece comigo. Desde que entrei nesta saleta estou tendo um "momento de iluminação", me encontrando com Alecxander Prince pela primeira vez em muitos anos. Ela fez isso comigo. Fez eu me encontrar debaixo de todas as camadas. E acredite, elas são muitas.
−Eu sabia que ela viraria seu mundo de cabeça para baixo no momento em que a vi. Se os pais tivessem lhe dado um nome do meio, ele seria impacto, ou quem sabe caos.
Desta vez fui eu quem riu. E com gosto pela primeira vez hoje.
−Com certeza teria combinado perfeitamente. Espero que você tenha tido a oportunidade de dizer-lhe isto pessoalmente. Com certeza seria um elogio que faria ela ganhar o dia.
Rimos juntos.
−Eu acredito que faria. Filho, não vou tentar dar sentido ou explicar de forma fácil a mudança em sua vida. Nada que vale a pena é fácil, seria pura hipocrisia minha tentar. Mas se tem uma coisa que aprendi ao longo de todas as minhas décadas caminhando sob este céu, é que se algo ou alguém te deixa confortável em sua própria pele, então vale a pena. Mesmo que seja por uma fração ínfima de tempo. A sensação de completude vale cada problema, cada dor, cada luta que você tiver que travar por ela. Independente do final. Vi isto em você. Pela primeira vez em muitos anos, vi você completo. Não meu arrojado diretor de operações e futuro CEO da PRINCE INC. Não o filho perfeito que sua mãe expõe como um cavalo puro sangue de competições. Não como o cobiçado perfil impecável destas merdas de tabloides. Vi meu filho. Aquele cujos olhos brilhavam durante as apresentações da escola. Por mais que eu só as assistisse em vídeo. O que se esgueirava pelos corredores com a ajuda dos empregados porque sua mãe não podia saber que a criança perfeita jogava basquete na quadra municipal sem se incomodar com os sobrenomes ao seu redor. E por mais que você pense que não sei, vi o adolescente que roubava meu carro da garagem antes de ter idade para dirigir. Principalmente, vi o olhar de felicidade que não enxerguei em você desde que Amy entrou em sua vida.
Isto é estranho. Para não falar mais. Meu pai fazendo este tipo de observação, definitivamente é o momento mais bizarro da minha vida. Nunca imaginei que ele soubesse tanto a meu respeito.
−Agradeço as palavras de estímulo. Realmente nunca imaginei o senhor tão atento a qualquer coisa fora da empresa. Entendo perfeitamente o que disse. As certezas da minha vida, de alguma forma, giram todas em torno dela. Não sei como a vida será daqui para frente. Mas não mudaria nada do momento em que a encontrei até o momento que nos trouxe até aqui.
−Bom. Caso você mude de ideia e resolva sair desta clausura auto imposta. Sua mãe, seus irmãos e eu gostaríamos de sua companhia lá.
Sem olhar em sua direção, apenas escuto o barulho dos passos se distanciar e sumir. Ao erguer a vista confirmo que estou sozinho com meus devaneios mais uma vez e miro a garrafa...nem tão sozinho assim...
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Garoto Ordinário - Série Garota Ordinária (Livro 3) Em Breve
Storie d'amoreAlec leva uma vida dupla desde a adolescência, e nunca achou nada de errado nisso. Até que uma garotinha de seu passado reaparece sem nenhum traço de "inha" e põe em xeque a forma prática e insensível como ele encara o mundo e seus relacionamentos...