1 COLOCANDO A MÁSCARA

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-Alec, telefone. Acorde!

Entreabro os olhos e vejo a figura magra de grandes olhos caramelo e cabelo loiro que é Betsy; empregada dos meus pais desde antes de eu nascer; olhando com uma carinhosa censura para meu estado amarrotado ainda de sapatos sobre os lençóis da cama. Não a culpo. Passei a noite em uma festa, cheguei as quatro da manhã, embriagado ao ponto de ter que subir as escadas que dão para o quarto com as mãos nos degraus feito um filhote de cachorro que esta começando a andar.

-Anota o recado Betsy. Me deixe dormir.

-É aquela garota. Ela está ligando desde as seis da manhã. Já acordou sua mãe, seu irmão, e não parece que esta disposta a desistir até falar com você.

Aquela garota é Amy. Minha namorada. Faz seis meses que começamos a sair. O que eu nunca teria imaginado é que uma garota bonita e de boa família, se transformaria numa verdadeira louca. Após o primeiro mês juntos tentei ser um cara legal e dizer que não estava funcionando para mim. Tinha em minha mente que eu seria sempre honesto com as garotas, as trataria com respeito e enquanto não achasse aquela que seria minha para sempre, me divertiria de forma sincera com as que aparecessem. Isto foi antes da Amy. Ela é uma dura lição de que as garotas não querem a verdade. Na verdade elas praticamente imploram por qualquer tipo de mentira barata desde que esta permita que elas continuem acreditando no que querem e atinjam seus objetivos.

Primeiro tentei com afinco fazer o relacionamento dar certo. Tendo total consciência de que era seu primeiro cara, fiz de tudo para que o momento fosse especial. Após algumas rodadas de sexo delicado e sem graça, tentei injetar um pouco mais de animação. Porra tenho dezesseis anos, não quero ficar esperando a casa vazia para fazer um papai e mamãe enfadonho. Quero os riscos de lugares inusitados, a aspereza do desejo que circula pelas veias, a sensação de posse de levar quem esta comigo ao ápice de formas que ela nem espera. Pena que nada disto esta nos planos da Amy.

Ao perceber que isto não estava funcionando para mim, abri o jogo com ela. O resultado foi uma chamada de sua prima informando que minha namorada tinha tomado meio frasco de remédios para dormir e estava no hospital chamando por mim.'

Este foi apenas o início de um espiral muito ruim. Sempre que tentava acabar o relacionamento Amy me chantageava com automutilação, tentativas ridículas de suicídio ou cenas histéricas na porta dos meus pais. Desisti de tentar me livrar dela. Mas também resolvi que não iria abrir mão do que queria por causa dela. Paro minha pequena reflexão e recebo o telefone. Sem me dar ao trabalho de disfarçar a voz, solto um rouco e abafado alô.

-Brooklyn. Você saiu sem mim Alecxander?

-Amy, estou passando mal desde o começo da noite de ontem. Não faço ideia de que festa você esta falando.

A linha ficou muda. Mesmo com todo o sono pude perceber que ela estava ponderando se acreditaria na minha estória ou não.

-Você tem certeza que não saiu ontem?

-Amy, estou muito mal. Acredite no que quiser. Preciso tentar dormir.

Minha indiferença sempre dispara seu botão do pânico. Rapidamente ela muda o tom de voz para um meloso.

-Acredito em você gatinho. Quer que eu vá cuidar de você?

-Não Amy. Você já acordou minha mãe. Melhor deixar tudo quieto por hoje. Amanhã nos vemos.

Ela bufa com raiva e resmunga mas acaba se convencendo. Mal desligo o telefone ele começa a tocar novamente, o que leva Betsy a entrar no meu quarto e me acordar mais uma vez.

Garoto Ordinário - Série Garota Ordinária (Livro 3) Em BreveOnde histórias criam vida. Descubra agora