A música já soava excessivamente alta enquanto Heather me puxava pela ponta do casaco através do pequeno passeio que nos levava até ao interior da casa. Provavelmente agarrava-me com medo que eu fugisse, o que aposto mais cedo ou mais tarde iria acontecer. Michael abriu a porta da entrada dando passagem aos três. Assim que entrei, senti um calor invadir-me o corpo juntamente com um cheiro desagradável que quase me dava vómitos.
Olhei em redor captando todos os pormenores que os meus olhos permitiam. Então isto é que era uma festa do secundário? Musica aos altos berros, um cheiro estonteante a álcool, casais a comerem-se em todos os cantos possíveis e imaginários. Não sei como pensava ao certo que seria, mas talvez algo, não sei… mais confortável?
Atravessámos então a sala, em direção à grande janela aberta que dava acesso ao exterior. Durante o caminho vi algumas pessoas que olhavam para mim, sem conseguir disfarçar o seu olhar incrédulo, provavelmente a pensar o que raio é que alguém como eu estaria a fazer num sítio como aquele. Bem, se o ponto alto desta sala fosse a sobriedade, o que decerto não era, já teria ouvido umas bocas. De qualquer forma, a realidade era que nem eu sabia o que raio estava ali a fazer.
- Digam lá se a festa não está altamente? – disse Michael com entusiamo. Voltei a olhar em volta. Ele só podia estar a gozar, certo?! Aquilo parecia uma pocilga infestada de porcos que já não deviam ver comida à mais de uma semana, por isso começaram a comer-se uns aos outros. – E a música? Não podia ser melhor! – disse ele enquanto imitia uns sons que seriam supostamente a melodia da guitarra que estava a tocar.
OK, ele estava a irritar-me. Quer dizer, passou todo o jogo a falar mal do Luke, mas agora que está numa festa com gente popular, a festa DO LUKE não podia estar melhor. Bufei e fechei os punhos tentando-me controlar. Olhei para o Ash que olhava em volta, parecendo também não dar muito interesse à conversa de Michael. Estava à procura dos seus amigos, de certeza. Procurei também com o olhar. Ao fundo do jardim vi Colin, amigo de Ash, juntamente com um grupo de rapazes que se encontravam de costas impossibilitando que os reconhece-se. Voltei a olhar para o meu irmão que continuava a passar os olhos por entre a multidão. Ele ainda não o tinha visto, pois caso contrário já não estaria ali. No entanto, não abri a boca. Não queria ficar sozinha com aqueles dois.
- Oh meu Deus, eu sei! – disse Heather enquanto juntava as mãos e sorria. Olhei para ela indignada. Oh meu Deus dizia eu, para onde raio é que tinha ido a inteligência que eu pensava que ela tinha? Isto era nojento e nada proveitoso! Porque raio é que não fui eu logo para casa?! Encostei-me à parede fria do exterior da casa e cruzei os braços à frente do peito enquanto eles conversavam. Quase podia apostar que parecia uma criancinha pronta a fazer birra, mas não me importei.
As minhas pernas estavam dormentes de todo o tempo que passei sentada e apesar de não estar na situação de me queixar propriamente da minha vida, naquele momento sentia-me miserável. A única coisa que conseguia pensar era como este sitio era repugnante e não queria estar aqui.
De repente, vi uma sombra passar mesmo à frente dos meus olhos. Exaltada, afastei a cabeça para trás enquanto tentava afastar a pequena borboleta da noite da frente dos meus olhos com a mão direita. Esta voou para o canto do jardim afugentada pelos meus movimentos bruscos. As suas assas e todo o seu corpo eram de um tom acastanhado, que com a escuridão da noite se confundiam com a paisagem em si. Os meus olhos seguiram-na ainda assim por entre os vultos e encontraram-se de seguida com um rapaz de cabelo igualmente castanho, com um casaco da equipa de futebol e uma garrafa de cerveja na mão. Não foi preciso olhar duas vezes, já sabia quem era. Calum Hood. Este estava com mais um grupo de rapazes também da equipa de futebol, rindo-se de qualquer coisa que eu imaginava não ser nada que realmente tivesse tanta piada, mas estes já deviam estar tão bêbedos que tudo tinha graça para eles.
