Capítulo 4:a cerimônia

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Estou prestes a fazer algo muito arriscado, se é loucura ou maluquice mesmo não importa. Preciso faze-lo.

Aquele restaurante me deixou inquieto, o Golden Temaki. O que há lá em baixo? Seriam drogas, contrabando ou sabe lá o que seja?

Esperei um dos funcionários sair e tomei a farda dele. Agora terei acesso a cozinha e discretamente poderei explorar o ambiente. Meu coração bate mais forte, a sensação de ser descoberto a qualquer momento mas o sentimento era imprescindível.

Adentrei a cozinha. Era um lugar mal-iluminado onde trabalhavam vários imigrantes. Tinha um azulejo branco encardido e ventiladores de teto que mal funcionavam. Tinham uma sala de frios e uma passagem que possivelmente dava pra um porão.

Verifiquei os lados, tomei coragem e desci as escadas. Era um tipo de túnel que dava pra algum lugar e a engenhosidade e simplismo me deixaram admirado. Ao longe ouvi vozes e me escondi em um buraco profundo na parede, que ficava num canto escuro quase imperceptível.

- ande logo, Shin! Seu irmão Soshiro já havia matado o seu primeiro homem muito mais jovem do que você.

- eu estou indo, papai. Apenas machuquei o pé numa pedra.

Pai? Ele é o tio que Naoki falou. Era um velho gordo, rosto enrugado e sóbrio. Usava um terno preto azulado e sapato social.

- tragam ele pra cá!

Os capangas trouxeram um homem com um saco na cabeça. Ele tinha braços e pernas amarrados e os bandidos o jogaram nos pés do adolescente.

- agora começa a cerimônia, filho. Um Sagashita só vira homem quando mata o primeiro.

Vi que o garoto hesitava vendo o corpo daquele ser azarado tremer e se urinar. Eu apenas torcia para que não o matasse já que qualquer intervenção que fizesse custaria minha vida. Pegou a Bereta das mãos do pai e apontou para a cabeça do coitado, que tentava falar mas sua boca havia sido tampada por algum trapo.

O tiro saiu e ouvi o cadáver cair. Preferi não ver a cena mas todos comemoravam aquilo com direito a uma garrafa de champanhe.

- é mesmo o meu filho! Sabia que não ia desonrar meu nome. Agora ajude eles a limpar a sujeira!

O chefe subiu e deixou os bandidos limpando. Não acreditei no que vi: meu tio Luigi estava entre eles.

- vamos jogar o corpo. Quer vir conosco?

- não. Vou limpar a mancha de sangue no chão.

Agora precisava sair daqui antes que voltassem e sem querer pisei em algo que fez barulho.

- droga! - sussurro.

- quem está aí?

Deu o primeiro tiro que quase acertou minha cabeça por dois centímetros. O segundo tiro acertou mais longe, do meu lado direito. Shin se aproximou e me puxou pela beca.

- seria uma pena se esse já não fosse meu esconderijo predileto. Meu pai não disse a vocês que não era pra descer aqui embaixo?

- anda logo! Me mata!

Desafiei mas me arrependi por essas palavras. Por sorte o garoto tirou a arma da minha cabeça mas deu uma coronhada no meu rosto.

- você não morrerá hoje, idiota. Mas abra o bico sobre o que aconteceu aqui e vai acordar com a boca cheia de formigas. Anda, sai logo daqui!

Esqueci que tava com o uniforme de cozinheiro. Talvez ele deve ter dado crédito por pensar que eu era novato.

Quero ir embora agora.


Entre anjos e reis( Em Atualização)Onde histórias criam vida. Descubra agora