old friends ever ends.

185 21 4
                                    

Após entrarmos, deixarmos os chinelos ao lado da porta e nos certificamos que as patas de Wolfie não iriam manchar a limpeza profunda e minuciosa de Joohyun; que certamente arrancaria nossas cabeças fora e penduraria em praça pública por desvalorizar seu trabalho como dona de casa, mas no fim Changkyun cedeu o próprio moletom não só temendo a fúria de minha mãe mas como prezando pelos sustos repentinos do bichinho a cada relâmpago pois seu perfume o tranquilizava. Se eu achei aquilo ainda mais adorável só eu saberia dizer. Decidi que era melhor preparar um lanche simples feito com o que sobrou na geladeira, o que não era muita coisa quando se tinha dois filhos adultos - e loucos por comida - morando no mesmo lugar. Meu paladar era apurado pra culinária rápida e massas caseiras. Levei um certo tempo revirando alguns armários em busca do pacote de pão de forma e molho de tomate, tendo em mente uma receita rápida e gostava tirada diretamente da internet, pizza de pão.

Mesmo reclamando, Changkyun me ajudou a montar as camadas numa forma de vidro fazendo uma cama de pão entre cada recheio. Se eu fosse comparar o jeito desleixado com que seu carro estava estacionado lá fora e a montagem perfeita sem brechas com pedaços nos tamanhos corretos, jamais diria que o rapaz era um perfeccionista. Levamos ao forno na temperatura mais alta depois de um curto debate sobre seguir a receita ou confiar nos cálculos mentais que o mais novo montou. Decidi confiar nele desde que estivesse disposto a pagar a pizza e não pusesse fogo em minha casa ou no meu fogão.

- Como posso confiar em alguém que queimou a mão cozinhando ramén? - Eu estava encostado no balcão encarando Changkyun no lado aposto sentado em um dos banquinhos altos de bar com uma carinha amarrada e olhinhos revirando.

- Primeiro que foi acidente, eu te contei. Segundo que eu não estou cozinhando ramén e não estou com as mãos dentro do forno, Kihyun. -- Bufou infantil descruzando os braços e me mostrando sua palma livre das ataduras brancas pela primeira vez na semana. Sua pele apresentava uma coloração rosada e outros mais avermelhados, mas nada tão assustador quanto a primeira foto que ele me enviou da queimadura. Já não parecia tão inflamada ou dolorida. - Eu até já consigo dirigir e tomar banho normalmente.

- Jeongguk te deu mesmo banho? - Ergui minhas sobrancelhas, repentinamente interessado no assunto. A imagem do maknae dando banho em Changkyun me causava um pouco de repulsa, mas a imagem de Changkyun no banho narrada pelo próprio era diferente.

- Deu, e foi ridículo. - Bagunçando os cabelos dentro da touca me olhou desgostoso, como se a lembrança fosse um delito ou pecado do qual ele não se orgulhava. Eu estava me segurando para não rir do semblante abatido que o tomou enquanto bebericava os últimos goles do suco que nos servi pouco antes da conversa; devagar como se empurrasse a vergonha goela abaixo. Empurrei o fundo do copo para que ele terminasse logo e continuasse a falar. - Naquela noite eu estava tão aéreo com a história do encontro e com os remédios que o Jin me receitou que além da dor na mão, eu estava com sono. Então Guk me levou pra casa e ficou com meu carro, até mesmo dormiu lá em casa. Eu nunca imaginei que veria outro homem abaixado minha cueca naquela situação. Foi bizarro.

- Como nunca imaginou outro homem tirando sua roupa?! - Perguntei ainda mais interessado. Changkyun não era gay, afinal de contas? Que tipo de gay nunca imaginou outro homem lhe despindo ou mesmo se despindo pra si independente da situação? Minha língua grande e eu estávamos tão pertinho de perguntar, mas um trovão estrondoso balançou as estruturas das paredes e as luzes se apagaram nos deixando num escuro aterrorizante. - Chang? Cadê você?! -Ateei sobre a bancada até encontrar sua mão repousando ao lado do copo que por pouco não caiu fazendo uma sujeira. Nossos dedos se tocaram e eu percebi estar tremendo pelo susto inicial. Meu coração palpitando na boca.

- Aqui, hyung. - Ele segurou minha mão com um aperto pedindo-me calma. Ouvi quando seu banco deslizou pelo chão e seus passos foram se aproximando sem quebrar nosso contato até que nos esbarramos sem querer. Meu desespero não passou desapercebido. Recebi uma carícia no bíceps e outra nos dedos. Meu olhar a todo tempo se forçava na escuridão procurando pelo dele. - Ok, te achei. Fique calmo, foi só uma queda de luz. Me dê seu celular e vamos procurar umas velas.

préciosité · changki.Onde histórias criam vida. Descubra agora