Apertei minhas mãos dentro do bolso do meu sobretudo, incomodada pelo frio intenso que atingia aquela área do Japão. Meus dedos estavam congelando apesar de estarem envoltos em uma luva quentinha de veludo.
Por que diabos o dia tinha que começar tão frio? E por que diabos eu estava na rua, para início de conversa?
Suspirei sozinha e continuei caminhando pela calçada, calmamente, em uma tentativa de me esquecer um pouco dos dias passados e relaxar um pouco a minha alma.
Eu estava me sentindo tão sobrecarregada.
Havia passado o dia anterior em casa, trancada e chorando — provavelmente deveria ter feito o mesmo hoje, entretanto eu precisava cumprir com minha agenda e se ficasse em casa, certamente não o faria —, sendo corroída pela saudade e pela culpa, juntamente com o medo pelo que eu estava prestes a fazer.
Quão ruim eu me sentia para acreditar que minha solução era única e somente a morte? A que ponto eu estava perdida?
Entretida em meus questionamentos, não percebi que eu havia parado na frente de uma confeitaria. Quando despertei, meus olhos pousaram sobre um bolo de chocolate e um manju tradicional que estavam expostos na vitrine. No mesmo instante eu percebi que olhar aquilo não me dava um pingo de fome, mesmo que eu não comesse há quase dois dias.
Outro suspiro escapou por meus lábios, mais parecendo um grunhido insatisfeito. Elevei meu olhar até dentro do estabelecimento, observando as diversas pessoas que se encontravam ali dentro. Crianças, advogados, empresários, estudantes, mães e pais. Alguns sorridentes, outros sérios e parecendo preocupados com o horário. Tão entretidos em seu próprio mundo que me fascinou a ideia de que eles pudessem notar o quanto eu estava mal. Será que eles poderiam perceber isso?
É claro que não. Eu ri com esse pensamento e em seguida me virei ao escutar meu nome ser chamado. Demorei algum milésimo de segundo para reconhecer a figura ao meu lado, que sorria complacente em minha direção.
— Jungkook-san! — Eu o cumprimentei, curvando suavemente o corpo em sua direção.
Apesar de Jungkook ser apenas alguns meses mais velho que eu, o honorífico “san” era utilizado por mim pelo fato dele ser uns centímetros mais alto e parecer bem mais maduro que a sua idade tão jovem. E também porque eu gostava de usar esse honorífico com ele. Nos primeiros meses que eu o chamei assim, ele pareceu claramente incomodado, mas com o tempo aceitou ele como um “apelido carinhoso”.
— Ayumi-chan. — Ele retribuiu, fazendo um careta. — Está muito frio, você devia estar em casa. — O mais velho avisou.
— Ah, eu precisava relaxar um pouco. — Forcei meu melhor sorriso a ele e encolhi os ombros.
Jungkook ficou calado, com seu olhar queimando sobre mim por algum tempo, e eu desviei o olhar para a vitrine, incomodada. Após, ele também olhou para as sobremesas a nossa frente, quieto, quando alguém saiu de dentro da confeitaria e se aproximou dele, trazendo dois sacos de papel marrom nas mãos, estendendo em sua direção um deles.
— Jungkook, eu trouxe manju¹ e shukurimu² pra você, ande logo, nós estamos atrasados pro colégio. — O garoto olhou em minha direção assim que notou a minha presença, parecendo um pouco surpreso antes de sorrir. — Olá, Ayumi-chan.
— Olá, Jimin-san. — Eu o cumprimentei, e seu sorriso era tão maravilhosamente cativante que foi impossível eu não retribuí-lo.
— Toma. — Jimin entregou o saco para Jungkook e se despediu de mim com um aceno antes de se dirigir ao SUV preto estacionado próximo ao local, alertando mais uma vez a ele que estavam atrasados.
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Singularity Shop || JJK
FanfictionDesde que se entendeu por gente, Koyama Ayumi teve que lidar com a falta de seu pai ao seu lado, que havia morrido por conta de uma doença degenerativa grave. Passou parte da sua infância sendo uma típica criança saudável, mas quando chegou em seus...