Era 5:55 da manhã de um domingo de um dia qualquer do mês de junho. A chuva já passara pelo meu quintal e a ansiedade foi a segunda a me visitar. Com olhos fixos na janela, eu permaneci sentado em um banco de madeira isolado pelas paredes do meu quarto. A luz da lâmpada fluorescente se confundia com o nascer do sol. Os fones em meus ouvidos tornavam o barulho dos pássaros quase inaudível, pássaros que insistiam em resistir naquela cidade que avançava mar a dentro.
Meus olhos cansados de mais uma noite de insônia fitavam a tela do computador que executava múltiplas tarefas em diversas abas abertas. A janela anônima denunciava a brecha que se abria na minha personalidade julgável pelos demais que nos rodeiam. É como cafeína que te deixa alerta por algum tempo e te dá prazer por alguns minutos, ou segundos se o dia for mais corrido que a madrugada dos que tem marcas de olheiras do choro da tristeza causada pelo coração partido do match de um aplicativo qualquer de relacionamento.
O ar condicionado gelado torna a pele enrugada e pegajosa. Os cabelos assanhados esbanjam o caos reprimido pelo seu corpo, extorquido pela sua alma que condensa a dor em um ataque de ansiedade que clama por ar puro, água fresca e o sol de meio-dia.
O vento sopra veladamente entrando de forma sorrateira por um dos vidros da janela quebrada expondo que o dia já raiara e a manhã já estava se instalando sob sua cabeça. O volume da música em seus ouvidos impulsionavam as mais diversas sensações e reflexões existenciais na mente de tal sujeito espontâneo ao se expor através de suas redes sociais. É como uma espécie de fuga das galinhas na qual seu objetivo nunca era cumprido. Suas unhas sujas e seus dedos fracos não conseguiam mais manifestar o que seu íntimo buscava explodir em meio a multidão de usuários de cafeína e internet.
O copo de água em sua mesa, transparente e quente devida as horas ali passadas eram engolidas um gole atrás do outro na tentativa de repor uma certa quantidade de líquido perdida naquela madrugada, o expediente da alma.
Os galhos das arvores frutíferas no quintal balançavam com o vento que entonava canto dos bem-te-vis, as suas copas dançavam em concordância com o ar dos pulmões do garoto que olhava para o céu atravessado por nuvens e luz solar, que embora fosse tímida, ainda assim, incomodava os olhos de quem só conhecia a escuridão da noite em sua abstração poética.
O seu corpo e sua alma pedia, mas o seu corpo e sua alma negava vivenciar o que era explanado nos contos dos literatas, na poesia dos poetas, nas canções e melodias dos músicos, na pinturas dos artistas, e na arte da tela dinâmica chamada vida, pois enquanto a sua mente identificasse as belezas do curso do multiverso, a mesma produzia o bocejo decadente da ilusão, que nos faz perder tempo com coisas que só devem serem perdidas em alguns momentos da vida, e não na maior parte deles. O maior inimigo da alma, é o nosso corpo.
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Resiliência
PoesíaPoemas, escritos e crônicas. "Não existe agonia maior do que guardar uma história não contada dentro de você" Deem destaque, assim vocês estarão me ajudando e me incentivando a sempre escrever mais. Talvez mais textos sejam acrescentados.