Capítulo 1

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Melissa Romano

— Estou grávida. — digo incerta observando-o, seus olhos passam de calmaria para um misto de surpresa e raiva em questão de segundos.

— Grávida? — me olha com desdém — E quem garante que esse filho é meu? — cospe as palavras na minha cara.

— Quem garante que é seu? Como tem coragem de dizer isso? É claro que o filho é seu, Marco!

— Meu? Como vou saber que depois daquela noite você não dormiu com outro, ou outros. — sabia que isso ia me ferir, e o fazia com prazer e um sorriso de escárnio em seu rosto.

— Tudo bem, Marco. Se você não acredita que o filho é seu, não posso fazer nada. Mas nunca ouse dizer que eu te afastei dessa criança, que te privei de estar na vida dela. Nunca! — peguei minha bolsa e fui em direção a porta do seu escritório.

— Onde você pensa que vai? — veio furioso em minha direção e agarrou meus braços. — Você joga toda essa merda em cima de mim e acha que é só ir embora assim? É isso? — gritava enquanto sacudia meu corpo. Fúria e ódio dançavam em seu olhar.

— Me solta! Você está me machucando. — tentei desvencilhar-me de seu aperto. — MARCO ME LARGA! — o empurrei com toda a força que tinha, fazendo-o se esbarrar em uma poltrona do escritório. — Nunca mais toque em mim! Não ouse me procurar quando se arrepender. Espero nunca mais te ver, me faça ao menos esse favor. Adeus.

Me virei e fui em direção a porta do escritório, passei pelo hall da sua mansão e dirigi-me à porta principal. Eu tremia, de raiva e medo, não conseguia acreditar ainda em suas palavras, no quanto ele me ofendeu. Esse definitivamente não era o Marco Reus que eu conhecia, o Marco pelo qual estava apaixonada. No pouco tempo que passamos juntos ele sempre foi carinhoso, engraçado, cavaleiro e muito mais. Esse Marco de hoje me fez sentir medo, vulnerável.

Fui caminhando lentamente pelas ruas segurando a incontrolável vontade de chorar, enquanto isso ponderava o que iria fazer dada a situação em que me encontrava, peguei um táxi, precisava chegar logo no meu apartamento para arrumar minhas coisas e ir embora o quanto antes. Pensava em como iria lidar com uma gravidez inesperada mais o fato de ser oficialmente mãe solteira. Foi então que lembrei que meu amigo tinha feito uma proposta de emprego à mim.

Eu e Kimmich éramos amigos a uns bons anos já. Nos conhecemos logo quando pisei em solo alemão, mais precisamente em Munique, a mais de 5 anos quando vim fazer intercâmbio. Completamente perdida e desorientada, Josh foi o primeiro a me oferecer ajuda, e um café. Desde então, apesar da distância, nunca perdemos o contato, sempre que ele ou eu tínhamos alguns dia de folga dávamos um jeito de se ver e se atualizar um sobre o outro.

Não tinha aceitado sua proposta de trabalho por causa de Marco, pois isso iria colocar uma distância enorme entre nós, ele em Dortmund e eu em Munique, mas agora essa distância se fazia necessária. Era apenas isso que eu precisava e queria de Marco Reus. Distância.

Paguei o taxista e desci decidida a iniciar um novo capítulo na minha vida. Subia as escadas do prédio pensando em cada detalhe possível dessa jornada que seria recomeçar longe daqui, e da vida dessa criança que carregava em meu ventre.

Gostaria que fosse uma menina, uma doce e bela menininha, mal podia pensar no quanto a mimaria, a amaria, meu coração ficou quentinho só de imaginar. Mas a magia acabou quando Marco me veio a mente, quando lembrei que ele rejeitou essa criança e que não iria acompanhar o seu crescimento, sua primeira palavra, seu primeiro dia na escola, sua primeira decepção amorosa. Uma profunda tristeza me tomou por inteira, ficava triste pelo meu filho, mas principalmente por Marco, mal sabe ele do que estava abrindo mão. Estava jogando o mais lindo e profundo amor fora, o amor de um filho.

Em meio a esses pensamento cheguei no meu apartamento, abri a porta e me dei conta de que não tinha sensação melhor do que a de estar em casa. Deixei minha bolsa em cima do balcão da cozinha e fui tirando minhas roupas enquanto caminhava para meu quarto, precisava de um banho quente e demorado.

Durante o banho pensava no que iria fazer primeiro, ligar pro Josh ou arrumar minhas coisas? Acho que ligar era mais importante no momento, pela primeira vez na vida eu não fazia a mínima ideia do que dizer à ele. Que tal um "olá amigo, estou grávida mas o Marco não quer assumir, o emprego ainda está de pé?", talvez isso seja direto demais pensando bem, acho que um "oi" é o suficiente por hora.

Depois de longos e demorados minutos chorando debaixo do chuveiro, decido que já é hora de sair, enrolo uma toalha branca no corpo e vou até o espelho, passo a mão no vidro para limpar o vapor e me deparo com uma derrotada. Estava visível no meu rosto o cansaço e a derrota, enormes olheiras de quem veio o caminho todo até em casa segurando o choro.

Sentir tudo isso era horrível, mas necessário. Necessário para que eu jamais deixasse isso acontecer de novo, jamais entregar de novo meu coração à alguém que não sabe sequer cuidar do próprio.

Vou para o quarto, visto um pijama qualquer e seco os cabelos, depois caminho até a cozinha para pegar um copo d'água e telefonar para o Kimmich. Sento no sofá da sala e coloco algo na TV para não me sentir só. Bebo a água enquanto o telefone chama, quando deposito o copo na mesa de centro Josh atende.

— Lissa?

— Oi, Josh. — digo desanimada, estava a ponto de chorar de novo.

— Que surpresa uma ligação sua assim tão repentina. Como você está? — pergunta todo animado.

Se tinha uma coisa que eu admirava nesse homem, além da beleza, era seu bom humor. Argh, como conseguia ser assim sempre?

— Para ser sincera, estou muito mal. — suspiro — Mas isso não vem ao caso agora, eu gostaria de saber se aquela sua proposta de emprego ainda está de pé. — digo com a esperança de que ainda esteja.

— Lissa aconteceu algo? Você está estranha.

— Não posso falar disso agora, Kimmich. — esperava que o chamar pelo sobrenome o fizesse entender que agora não era hora para explicações. — A proposta ainda está de pé?

— Sim, claro que sim! — respondeu eufórico — Quando pretende vir para Munique?

— O mais cedo possível, que tal amanhã?

— Amanhã? Ótimo, acho ótimo! Vou deixar tudo pronto para sua chegada, mas não quer me contar antes o que está acontecendo? — Joshua acha mesmo que pode me persuadir, bobinho.

— Quando chegar ai te conto, agora deixe tudo pronto e me espere no aeroporto amanhã, ok?

— Ok chefe! Estarei amanhã no aeroporto ao seu dispor.

— Bom, muito bom. Agora tenho que ir organizar minhas coisas, até amanhã. Te amo. — digo as últimas palavras em português, é um código nosso.

— Também me amo, muito obrigado.

— Joshua? — digo com falsa mágoa.

— Te amo Lissa, até amanhã.

— Até. — e então a linha fica muda.

Relaxo no sofá e penso em como minha vida mudou em questão de horas. Levanto antes que a preguiça me tome por inteira e caminho até o quarto para fazer as malas.

Amanhã é um novo dia. Em outra cidade, e principalmente, a quilômetros de Marco Reus.

Redenção (pausada)Onde histórias criam vida. Descubra agora