Sentir

8 - Silêncio

Sabe quando você leva um baque tao grande de realidade que tudo que consegue fazer é ter os olhos vidrados em algum ponto especifico? Estava assim, sangrando por dentro, minha alma se esvaindo como fumaça no tempo ate que ele grita comigo.

_ Jéssica? Esta prestando atenção em tudo que eu disse?

Balanço a cabeça tentando dissipar meus pensamentos que não criaram forma para sair de minha boca. Tirei forças não sei de onde para pronunciar um som, mas ele continuou.

_ Não da mais, a gente levou ate onde pode, tentei falar com minha mãe que já quer fazer um casamento entre nos, mas essa possibilidade não existe e não existirá. Peço que me entenda, mas não consigo, sou muito novo pra fazer uma coisa dessas e pra falar a verdade já não sinto mais nada por você. 

Pisquei varias vezes, atônita e sem reação. Balancei a cabeça lhe dando as costas, mas de repente tudo ficou preto, vi as imagens se embaçando e senti apenas o baque de minha cabeça no chão.

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Acordei deitada no sofá da casa de Antônio com Dona Esmeralda ao meu lado e Antônio aos meus pés. Novamente pisquei varias vezes sentindo a dor dilacerando meu peito, não sabia o que doía mais, a rejeição da pessoa que pensei ser a única ou a dor na minha cabeça.

_ Querida, você nos deu um susto, sua pressão deve ter caído. Se sente melhor? Dona Esmeralda me pergunta segurando minha mão.

Antônio me olha como se pudesse me estrangular com o olhar, respondo conforme sai, sem prever as palavras.

_ Nãooo, não, como posso estar bem passando por isso?

Solto-me da senhora ao meu lado e me ajoelho ao chão, aos pés de Antônio e imploro choro como nunca chorei na vida e ele simplesmente me esnoba.

_Antônio, pelo amor de Deus não faz isso comigo, eu te imploro não me deixe. Como vou encarar minha mãe e dizer a ela  que estou gravida e que você me abandonou? Não faz isso com a gente, vamos tentar por tudo que é mais sagrado mas não faz isso comigo. Fiquei transtornada, gritava e me agarrei a suas pernas de joelho, me humilhando por uma pessoa que simplesmente não se importava comigo.

Ele me empurrou e cai praticamente sentada, Dona Esmeralda ficou em choque. Um silencio ensurdecedor invadiu a sala, apenas o silêncio e minhas lágrimas. Naquele momento percebi que nada que eu fizesse o faria mudar de ideia e vi em seus olho que ele que nunca me amou, servi apenas de passa tempo para seus joguinhos e quando não servi mais fui descartada da maneira mais covarde que se pode fazer a uma pessoa.

Dona Esmeralda me levantou, me olhou com olhos de pena, me senti um lixo, não deixei que ela me falasse mais nem uma palavra, sai da sala seguindo meu caminho, mas voltei e me dirigi a Antônio com uma fúria que não me cabia dentro da alma.

_ Essa foi a ultima vez que me rebaixei, por algo tão pouco, não quero olhar na sua cara nunca mais em minha vida. Você não merece meu amor, não merece o que tenho aqui dentro de mim, você jogou fora tudo que fiz e dediquei a você e sinto lhe informar, mas não perdoarei o que esta me fazendo. Não serei feliz agora, mas você também não será! Espero que tudo, mas tudo mesmo que estou sentindo você possa sentir dez vezes mais e que Deus tenha misericórdia de você porque de mim você não terá mais nada.

Dona Esmeralda vem e me abraça, mesmo não dizendo nada me sinto acolhida por ela. Sei que não me negará a mão caso eu precise, mas neste momento quero apenas sumir deste lugar.

Saio em passos arrastados de sua casa, mas como se não bastasse ele me segue e faz o maior escândalo me expondo para seus vizinhos.

_ Você acha mesmo que vou sentir alguma coisa, olha pra você, não é nada e não tem ninguém. E a proposito, quem ira querer algo com uma mãe solteira? Você acha que encontrará outro cara que aguente sua mãe e os pirralhos de seus irmão? Ele ri sarcástico.

_Boa Sorte, você ira precisar mais da misericórdia de Deus do que eu.