3 - Antes de Tudo/ 2

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Apesar das represálias de minha mãe, onde não nos era permitido nada, ela sempre incentivou a leitura e os estudos, diferente dos meus irmão que parecem ser alérgicos ao livros, porem, este incentivo era freado quando lia algo que não era de seu agrado. Mas vendo que minha paixão pela leitura era ardente e que não me seria fácil tirar, fingiu não notar quando me escondia no quarto ou debaixo da cama para um minuto de paz e sossego e assim apreciar uma boa obra literária ou quando perdia o horário por estar na biblioteca da escola.

_ Pode olhar menina, isso não é normal ficar agarrada nestes livros a maior parte do tempo. Vai ver uma televisão. -Ela sempre dizia;

_ Como não mãe, a senhora deveria ficar feliz, pois te peço livros e não pra sair ou dinheiro para comprar bobagens como os gêmeos. Abaixo a cabeça e termino a frase - a Televisão não tem histórias, e para mim a senhora nunca tem nada, nem tempo.

_ O mesmo tempo que tenho pra você tenho para eles, e se não quer ver, dá licença e vá fazer algo de útil.

Não sei o que se passa com minha mãe, ultimamente ela está indiferente, mas não a culpo, sei o quanto sofreu e sofre para dar conta de sustentar nos três. Meu pai nos iludiu, como sempre minha mãe acreditou nele e mais uma vez a decepção cortou seu coração, hoje diz não sentir nada, mas sei que a mágoa que a invade é fruto dos desgostos que ele nos causou e nos causa. Ele poderia ajudar minha mãe nas despesas, já que tem três filhos e se diz ser o modelo exemplo de pai de família.

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Haverá um Sarau no colégio no qual estudo, será a oportunidade de conhecer novos escritores e me candidatar a vaga de monitora escolar, já que estudo somente um período, não vejo objeção da parte de minha mãe, sabendo que estarei o tempo todo lidando com crianças, dentro da instituição com o intuito de crescer não só como aluna, mas podendo ter trabalho extra e ajuda-la em casa com alguma despesa.

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O evento foi maravilhoso, muitas obras de autoria própria e de grandes escritores. Tive a oportunidade de apresentar uma obra autoral, que orgulho ter varias pessoas  aplaudindo um trabalho no qual tenho paixão e doou tanto para apresentar da melhor forma possível.

Depois de um tempo, minha mãe recebe elogios por parte da diretoria do colégio;

_ A senhora deve se orgulhar muito, ela é uma artista e sua habilidade com crianças impressionante.

outras diziam;

_ Será uma ótima professora, os alunos a adoram.

E o ego da minha mãe se inflava, mas quando chegava em casa as coisas mudavam de contexto, José se tornava o incrível e Josy a princesinha que podia se quebrar a qualquer momento, enquanto a mim, a Isaura que era obrigada a ser boa filha, melhor aluna e a doméstica de todos sem receber um obrigado em casa.

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Nas festividades de final de ano no colégio, conheci uma pessoa, a qual foi presenciar as solenidades da ocasião, me senti nos livros de romance que lia todos os dias antes de dormir, ele era alegre, me oferecia atenção sem ao menos eu pedir, então como na linguagem dos adolescentes de minha época (não tão longe assim)começamos a ficar, escondido claro.

Gente do céu, nunca me senti prioridade de ninguém depois da morte de minha avó, e quando estávamos juntos, parecia existir só nos dois  naquele momento. Não vou negar, me apaixonei no momento que o vi, sem ao menos conhece-lo, como estava feliz.

Minha mãe descobriu, não reagiu bem a situação, primeiramente conversou comigo, na mais tranquila paz e depois com nos dois juntos onde pensei que ela nos lincharia. 

Meus irmão faziam de tudo para que minha mãe implicasse com nosso relacionamento, principalmente Josy, não sabia onde ela queria chegar com tanto ódio, mesmo com as regras sem noção que minha mãe nos impunha era impossível manter um namoro dentro dos padrões normais nesta família.

Não podíamos ficar sozinhos, não podíamos nos encostar, primeiro suas obrigações, depois você namora com os gêmeos no meio do sofá, não sei como ele aguentou tanto tempo ou fingiu aguentar para mais tarde ter meu coração em suas mãos e esmagá-lo lentamente enquanto me via definhar de tristeza.

Antes de tudo sempre dávamos um jeito, como era voluntaria na igreja e participava dos movimentos que eram intitulados à obras sociais, sempre via uma brecha em poder ir a casa de Antônio e vermos um filme, claro que era um pretexto de ficarmos a sós, visto que sempre estávamos inventando desculpas para onde ficávamos quando éramos procurados.

Em um desses filmes aconteceu, não foi planejado, não foi sequer pensado, mas aconteceu. O tive dentro de mim, com receio, mas com a promessa de que seriamos um do outro para sempre, então não havia motivos para tardar este ato. Fiquei inercia no momento, só existia nos dois naquele ápice, não importava se tinha sido a pior experiência de minha vida, ambos não sabíamos o que fazia, e o deleite não me deixava raciocinar direito. 

Até hoje tenho a imagem em minha mente, não por ter sido minha primeira vez, mas por ter sido com quem eu achava ser a única pessoa que me tocaria na vida, lembro como se fosse hoje, de ser retirada as pressas quando minha até então sogra chegou e fui lançada aos barrancos de seu colo com as pernas respigando sangue e orientada e me esconder no banheiro com desculpa de estar com dor de barriga.

Foi tanta dedicação em vão...

SentirOnde histórias criam vida. Descubra agora