1 - Uma Notícia Inesperada

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Não, não, não! Isso não pode estar acontecendo comigo.

Acabo de sair do hospital, com as palavras do médico em minha cabeça:

_ Você não esta doente garota, esta grávida! grávida! - Diz, praticamente jogando os exames que foram feitos no dia anterior em minha cara, fico  impressionada como o atendimento na rede publica é solícito e acolhedor com as pessoas que carecem atendimento imediato.

Paro em um banco de uma praça qualquer,  tentando assimilar a notícia que me foi dada, imaginei tudo, um câncer, lúpus, a perda de uma parte do corpo, problemas psicológicos até mesmo espirituais, mas jamais, jamais, em toda a minha existência calculada imaginei uma gravidez, isso ia contra todos os meus preceitos, eu me prevenia, como foi acontecer logo comigo? Que até a pílula cronometrava o horário para não acontecer imprevistos.

Claro que como toda mulher, sonhava com este momento, mas não nessa ordem, não agora, sempre fui muito perfeccionista pra deixar algo em minha vida sair fora do controle, tinha acabado de sair do ensino médio, sonhava com a faculdade, queria a sensação de  conquistar o  mundo, me formar, me casar e então poder formar minha família, não queria estar sozinha quando acontecesse.

Será que ele iria gostar? Ficaria feliz com a notícia? E minha mãe? Será que ficaria do meu lado, mesmo eu sendo a maior decepção de sua vida? Ligo pra ele e fico em silencio, apenas escutando o tu tu tu do celular, ligo novamente, de novo, de novo e de novo. Desisto e fico pensando em como iria voltar pra casa tarde da noite , sozinha, sem dinheiro para o ônibus, sem um pensamento coerente em relação a minha vida. O que falaria pra minha mãe? Como será daqui pra frente? Deus me ajuda!

Me levanto em meio aos meus devaneios, sigo de cabeça baixa tropeçando pela rua escura quando sinto o celular vibrar, é ele.

_ E ai? Tá doente? Ele pergunta, me parecendo não se interessar pelo que havia dito antes, pelas minhas suspeitas de estar com algo grave.

Respondo suspirando fundo:

_ De certa forma não, quero dizer, sim, precisamos conversar.

_Como? É sim ou não. Onde esta? Pergunta de forma abrupta.

_ Estou indo pra casa, pode vir se encontrar comigo? Estou a pé, não tenho dinheiro nem para o ônibus, não há uma alma viva na rua e estou com medo.

Ele me responde como se eu tivesse pedido algo absurdo:

_ Você sabe que estou tendo provas, preciso voltar agora, estão me esperando. Encontro com você em sua casa, lá você me fala o que quer. Escuto ao fundo varias pessoas conversando com ele, suspira e se despede como nunca fez antes, sendo gélido, grosso, frio. 

Fiquei estática, ainda não sabia como me portar diante dessa nova possibilidade.

Continuei andando, pensando em tudo que me aconteceu nos últimos anos, imaginando o que seria da minha vida daqui pra frente. Não tinha estabilidade, não tinha nada, não era nada! Minha mãe sempre nos trouxe debaixo de suas asas, como uma galinha com seus pintinhos, nunca nos permitiu amizades, nunca nos permitiu sair e ter amigos, como vou explicar algo de tamanha complexidade se nem ao menos conversar esses assuntos era permitido?

_ Vai dar tudo certo! Disse pra mim mesma. Sempre supero os percalços que a vida me impõe, e claro que agora não seria diferente. É  apenas uma gravidez, um ato impensado de duas pessoas que não pensaram nas consequências futuras, mas meu futuro é estar ao lado dele, ele disse que eu era o melhor presente de sua vida e que estaria comigo para todo o sempre, este também era um de seus sonhos, apenas adiantamos as coisas, ou melhor invertemos os detalhes. 

Não deixarei de conquistar meus ideais estando ao lado dele, pelo contrario, dele virá minha força, dele vira meu sustento, dele virá o meu milagre. Não seremos mais um ou dois, seremos três, como a cabeça de uma mulher gravida muda em questões de horas? Senhor, já não sou a mesma.

E lá vou eu, andando sozinha em uma das avenidas mais perigosas da minha cidade e sonhando acordada com meu futuro próximo!

SentirOnde histórias criam vida. Descubra agora