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  Após marcar os exames de Gabriel, Pedro voltou para a sala e chamou ele, do lado de fora estava chovendo forte, eles correram para o carro e seguiram para a fazenda.

- Você veio sozinho para consulta? -perguntou Pedro lembrando que a fazenda era um pouco longe.

- Sim, vim caminhando, depois de sete anos cego eu aprendi a me virar sozinho.

- Que bom que está se saindo bem, mas e a sua família?

- Depois que meu pai morreu meus tios foram embora, eu fiquei para cuidar dos aluguéis e da fazenda.

- E a dança? -perguntou lembrando que Gabriel amava dançar.

- Eu parei um pouco, não tenho mais o mesmo ânimo de quando era adolescente e eu só dançava para você...

- Que pena, você dançava muito bem.

  Eles ficaram em silêncio o resto do caminho, ao chegarem na fazenda correram para o celeiro, o lugar estava um pouco diferente do que Pedro lembrava, não tinha mais feno e ferramentas, até os animais sumiram, havia apenas um piso de madeira e uma grande caixa de som.

- O que aconteceu com o celeiro?

- Reformei ele, agora o cavalo e as galinhas ficam no outro celeiro que mandei construir.

- Ficou bonito, mas não é mais um celeiro... -Pedro sentou em um sofá no canto, Gabriel sentou do lado.

- E então?

- Soube que vai ficar noivo.

- É sobre isso que quer falar?

- Não exatamente, mas também sobre isso.

- Sim, meu namorado marcou nosso noivado. -Pedro ficou nervoso e louco de ciúmes, mas engoliu seus sentimentos.

- Parabéns, quem é o felizardo?

- Wesley, um empresário que chegou aqui algum tempo depois que você foi embora.

- Legal.

- Arranjou algum namorado na cidade grande?

- Eu tive alguns relacionamentos, mas nenhum durou...

- Você é um homem incrível, não vai demorar para achar alguém que lhe faça feliz, vou estar sempre torcendo por você.

- Não diga isso Gabriel, podemos até ser amigos agora que eu voltei, mas não aja como se não soubesse o quanto eu te amava e o quanto foi difícil para mim tentar ficar com outra pessoa.

- Eu sei, só queria saber como reparar tudo isso de um jeito que ambos conseguíssemos ficar em paz.

- Não tem que reparar nada, o que está feito está feito, você também deve ter sofrido, só me responda uma coisa, você está feliz?

- Como assim?

- Sua vida é feliz? Eu só preciso saber disso, não ligo se você está com outra pessoa, se você estiver feliz então tudo bem, vamos ser amigos, vou te dar todo meu apoio.

- Eu... Estou feliz. -Gabriel estava sorrindo, mas seu olhar era de tristeza, Pedro não acreditou muito no que ele disse, mas preferiu não questionar ele naquele momento.

- Então tudo bem, se precisar de algo estarei na minha casa antiga, boa noite. -Pedro se levantou para sair, Gabriel pegou no braço dele.

- Espera, você está feliz?

- Não.

  Pedro se soltou e saiu sem dizer mais nada, entrou no carro e foi para casa meio confuso, Gabriel não parecia estar sendo sincero. Ao se aproximar de casa Pedro levou um susto ao ver que a chuva conseguiu derrubar uma árvore grande caiu em cima de sua casa, destruindo boa parte dela.

- Eu não acredito nisso...

  Pedro riu da desgraça, afinal poderia ter sido pior e ele estar dentro da casa quando tudo aconteceu, não poderia nem entrar para pegar suas coisas, já que os fios de eletricidade caíram junto, ele voltou para trás com o carro e foi até a fazenda de Gabriel, bateu na porta da casa algumas vezes e não demorou para ele abrir a porta.

- Quem é?

- Eu voltei, aconteceu algo bem engraçado, uma árvore destruiu minha casa logo hoje, o que eu faço?

- Meu Deus, entre, vou ligar para a delegada Lana, ela sempre sabe o que fazer, vai dar um jeito na situação.

  Pedro entrou dentro da casa, enquanto Gabriel foi até a cozinha e começou a discar o número com calma para não errar, uma mulher atendeu e ele contou para ela o que aconteceu.

- Pronto, ela disse que vai vir com os bombeiros verificar e depois vir aqui, você está bem?

- Sim, obrigado, o que aconteceu com o delegado Roger?

- Ele se aposentou, Lana é a filha mais velha dele, não se lembra dela?

- Não, nem sabia que ele tinha filhas.

- Ela é incrível, ajuda todo mundo, virou heroína da cidade depois de resgatar os órfãs de um incêndio, entrar em um posso para salvar um cachorro e resgatar reféns de um assalto, ela só é um pouco violenta, mas uma boa pessoa.

- Que bom que as coisas estão melhorando por aqui, espero que minha casa tenha salvação. -disse colocando a mão na cabeça ao lembrar que seus documentos e alguns itens importantes estavam na casa.

- Não se preocupe, pode ficar em um dos quartos daqui por um tempo.

- Seu namorado não vai sentir ciúmes?

- Não, ele é bem tranquilo, de qualquer forma a casa é minha.

- Obrigado...

Dança No Escuro Onde histórias criam vida. Descubra agora