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Ela é minha.

Lauren saboreou aquela sensação avassaladora de triunfo. Se Camila Cabello soubesse o instinto predatório e brutalmente sexual que havia por trás daquela conquista, talvez pensasse duas vezes antes de aceitar jantar com ela. A primeira coisa em que Lauren pensou quando a viu foi prensá-la contra a superfície plana mais próxima e possuí-la com ardor e vontade. Do ponto de vista de Camila, era a primeira vez que se viam. Na verdade, estavam se reencontrando depois de duzentos anos de separação. Dois malditos séculos de espera e sofrimento. E logo naquele dia. A vida sempre arrumava um jeito de produzir surpresas nos momentos mais inconvenientes, puta que pariu.

Mas disso ela não podia reclamar, e jamais iria. Karla, é o seu amor. Elas nunca tinham ficado separadas por tanto tempo. Seus reencontros eram sempre aleatórios e imprevisíveis, mas nunca deixavam de ser arrebatadores. Eram almas gêmeas, apesar dos caminhos opostos que suas vidas tomavam. O interminável ciclo de mortes imposto a ela, e sua incapacidade de lembrar o que significavam uma para a outra, era seu castigo por não respeitar a lei que ela havia sido criada para pôr em prática. Era uma repetição dolorosamente eficaz. Ela estava morrendo aos poucos. Sua alma, o cerne de sua existência angelical, estava sendo devastada pela tristeza, raiva e sede de vingança. A cada vez que perdia Karla, e a cada dia que era forçada a viver sem ela, sua capacidade de cumprir sua missão se perdia um pouco. A ausência dela eclipsava seu comprometimento com a tarefa que definia quem ela era, um soldado, um líder, a senhora do destino de tantos seres. Duzentos malditos anos. Era tempo suficiente para transformá-la numa pessoa perigosa.

Um serafim com o coração endurecido era um perigo para todos ao redor. Inclusive para Karla, porque seu desejo era tão voraz e urgente que ela não sabia se era capaz de controlá-lo. Quando ela se foi, o mundo acabou para Lauren. O silêncio dentro dela se tornou ensurdecedor. Então ela retornou, e tudo voltou à vida com uma explosão, o coração disparado dentro do peito, o calor de seu toque, o poder de seu desejo. A vida. Tudo o que desaparecia quando ela a perdia.

Quando elas se sentaram de novo, Camila comentou:

- Meu pai disse que você é o Howard Hughes da minha geração.

Lauren sentiu a impaciência tomar conta de seu corpo. Conversar sobre seu necessário porém sem sentido disfarce depois de tudo o que tinha acontecido naquele dia lhe parecia um castigo cruel e angustiante. Ela estava mais do que agitada, com o sangue pulsando nas veias, de raiva e desejo.

- Prefiro acreditar que não sou tão excêntrica - ela respondeu num tom de voz que denunciou sua inquietação.

Cada célula de seu corpo estava concentrada em Camila Cabello, o corpo que carregava a alma que ela amava. As necessidades físicas de sua fachada humana se impuseram de maneira furiosa, lembrando-a que fazia tempo demais que não a tomava nos braços. Ela jamais se esqueceria do quanto aquela sensação era maravilhosa. Um simples olhar podia desencadear um desejo inflamado que demoraria horas para ser dissipado. Lauren ansiava por aqueles momentos de intimidade com ela. Lauren ansiava por ela. Apesar de a aparência física de Karla ser resultado da linhagem genética da família de Camila, ela a sentia e reconhecia independentemente do corpo em que tivesse nascido. Ao longo dos anos, a aparência e a etnia dela variaram bastante, mas seu amor por ela não diminuía nem um pouco apesar disso. Sua atração vinha da conexão que sentia com ela, da sensação de encontrar sua alma gêmea. Camila encolheu os ombros.

- Eu não me incomodo com a excentricidade. Ela pode deixar as coisas mais interessantes. - As gotas de chuva brilhavam no cabelo de Camila. Nessa encarnação era uma morena, com cabelos naturais absurdamente sensuais. Ela teve que segurar a vontade de agarrá-los e mantê-la imóvel para beijá-la na boca e aplacar a sede que sentia pelo gosto dela. O amor que nutria era pela alma de Karla, mas Camila Cabello estava despertando nela um desejo luxurioso. A combinação das duas coisas era devastadora, especialmente naquele momento de vulnerabilidade. Ela sentia um desconforto nas costas, vendo-se obrigada a segurar suas asas, que desejavam se abrir numa demonstração de prazer ao vê-la e sentir seu cheiro. Ficar sentada ao lado dela no avião seria como estar no paraíso e no inferno ao mesmo tempo. Ela tinha a vantagem de se lembrar de suas relações anteriores, enquanto Camila contava apenas com seus instintos, que claramente estavam mandando mensagens que ela não sabia muito bem como interpretar. A respiração dela parecia acelerada, as pupilas estavam dilatadas, e a linguagem corporal confirmava a reciprocidade da atração. Camila a observava com atenção, avaliando-a. De tímida não tinha nada. Era confiante e corajosa. Bastante segura de si. Lauren gostou dela logo de cara, e sabia que sentiria o mesmo independentemente de seu histórico com Karla.

A Touch of CrimsonOnde histórias criam vida. Descubra agora