10 - Especial quarentena

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Camila desceu do avião, pôs os óculos escuros e olhou ao redor.

- Puta merda.

Sentiu a mão quente de Lauren espalmada na base de sua coluna seguida por sua voz murmurante.

- Que foi? - Ela se virou devagar para ela.

- Cadê o chão?

A pista de pouso acabava... em pleno ar.

- Estamos no alto de uma chapada.

- Não pode ser.

- Pode ser, sim.

- Quem seria maluco de construir uma pista de pouso em cima de uma chapada? Se o piloto errar os cálculos, já era.

Lauren contorceu de leve a boca, fazendo com que Camila sentisse vontade de vê-la sorrir de novo.

- Vamos lá.

Ela a conduziu até o pequeno estacionamento do aeroporto, onde dois sedãs escuros estavam à espera. Jason e Shawn subiram no banco de trás do primeiro, e Elijah se acomodou no assento do carona do segundo.

- Saint George, né? - Ela perguntou quando Lauren abriu a porta para ela. - Nunca estive em Utah antes.

- É um lugar muito bonito. - Se sentou ao lado de Camila e fechou a porta. O carro arrancou. - O sul do estado tem umas formações rochosas lindíssimas.

- Para onde estamos indo?

- Não muito longe. Uma cidadezinha chamada Her - ah - kun. - Camila franziu a testa.

- Her - ah - kun? Que nome esquisito.

Mais uma vez, Lauren quase sorriu.

- Na verdade, a grafia é igual à de 'hurricane'.

Uma tempestade. Puxa vida...

Uma coisa ficou bem clara na cabeça de Camila. O nome da cidade não podia ser só uma coincidência, assim como nada do que vinha acontecendo com ela desde que saiu de Raleigh.

Enquanto desciam para a cidade, Lauren foi ficando cada vez mais imóvel e silenciosa, mas ela sentia sua força volátil se acumulando a cada quilômetro. Seu melhor amigo estava morto. Por mais estoica que Lauren parecesse ser, com certeza havia sentido profundamente aquela perda. A dor a humanizava, tornava-a mais do que um anjo. Isso também a levou a se perguntar em que ela buscava  conforto quando precisava, ou se internalizava tudo aquilo. Mesmo cercada por anjos dispostos a morrer por ela, Lauren parecia solitária.

Camila deixou cair uma das mãos no assento e depois agarrou discretamente o dedo mindinho da Serafim com o seu. Apesar de não ter esboçado nenhuma reação, Camila sentiu que ela ficou surpresa com o gesto e apertou a mão dela com força, sem tirar os olhos da janela. Ela escondeu suas mãos dadas com a bolsa de lona, protegendo-as da mira do espelho retrovisor. Lauren retribuiu com um rápido olhar de gratidão.

Estranhamente comovida por se ver como uma fonte de conforto para ela, Camila refletiu sobre a proximidade que havia desenvolvido. Ambas  estavam se abrindo uma com a outra de uma maneira que não ousavam fazer com os demais.

Por quê? Por que Lauren quis levá-la para sua casa na noite anterior? Um restaurante seria a melhor escolha para manter seus segredos seguros. E por  que Lauren parecia tão íntima? Tão carinhosa... E por que ela havia permitido essa intimidade? Por que não foi cautelosa como era com todo mundo que cruzava seu caminho?

Ela olhava distraidamente pela janela, perguntando-se por que precisava ser tão estranha. Por que era capaz de se mover tão depressa se era apenas uma humana? Seu pai a levava ao médico a cada sinal de irritação na pele ou nariz escorrendo. Ela já tinha feito uma enorme quantidade de radiografias, exames de sangue e até uma tomografia quando caiu do balanço no quintal de uma amiga. Não havia uma explicação científica para suas habilidades. Mas sem dúvida nenhuma ela era diferente, e eram essas anomalias que fomentavam sua afinidade com Lauren. Ela só não sabia se isso era bom ou ruim.

A Touch of CrimsonOnde histórias criam vida. Descubra agora