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Ao ver Camila limpar os lábios com a língua, Lauren não sentiu remorso por seus pensamentos sexuais. Ela era uma linda mulher, com cabelos castanhos e olhos penetrantes, mas o que mais a excitou foi a vontade com que ela comia. Alternando entre os pauzinhos e os dedos, ela deixava evidente sua satisfação com gemidos baixinhos de prazer enquanto devorava a comida.

- Isso está muito bom. - Ela elogiou. A empolgação dela fez com que Lauren sorrisse por dentro.

Os Sentinelas foram criados para ser neutros em relação a manifestações de paixões. Os altos e baixos dos sentimentos humanos não significavam nada para eles. Os Sentinelas eram o peso que equilibrava a balança, a espada que definia o destino da batalha.

Camila segurou um camarão pelo rabo.

- Uma vez meu pai levou minha avó para jantar num restaurante de teppanyaki. Ela adorou as chamas, as espátulas voando e as acrobacias do chefe, até que um camarão cru foi parar no prato dela. Eu achei demais. O cara fazia coisas incríveis. Mas a minha avó ficou olhando um tempão para o camarão... como se estivesse olhando para a própria morte, imagina só... e acabou devolvendo o prato. Ela ficou ofendidíssima. Falou que o cozinheiro de um bom restaurante precisava ter um pouco mais de compostura. - Lauren levantou as sobrancelhas. Camila se recostou no banquinho junto ao balcão, às gargalhadas. - Você precisava ter visto a cara do sujeito. Meu pai precisou pagar umas doses de saquê para ele recuperar o ânimo. - A risada dela era contagiante. Tão sincera e espontânea que Lauren não conseguiu conter mais seu riso. E riu pela primeira vez depois de séculos. Ela gostava de Camila. Queria conhecê-la melhor. No entanto, ela precisava manter a aparência de uma anfitriã tranquila e controlada. Tanto para ela como para os outros Sentinelas.

A desconfiança dos demais era visível. Ninguém jamais diria nada, mas eles sabiam que a presença de Karla a enfraquecia. Essa preocupação poderia se transformar em ressentimento caso Lauren não tomasse cuidado. Sua unidade era composta por serafins mais fortes que ela, anjos que não sofriam daquelas fragilidades emocionais. Eles não eram capazes nem de entender a vulnerabilidade que Karla representava para Lauren, pois não tinham ideia do que era o amor que Lauren sentia por ela. Caso um Sentinela achasse que sua missão podia ser arruinada por Camila, isso seria um motivo justificável para matá-la.

Lauren tentou se concentrar na fritura do tempura, evitando olhar muito para Camila. Ela estava sentada num banquinho do outro lado do balcão de mármore de sua cozinha, bebendo o terceiro copo d'água. Ela ficou excitada ao observar a maneira como ela engolia. Os duzentos anos de celibato estavam cobrando seu preço. Durante a ausência de Karla, ela não desejava o toque de nenhuma outra mulher. Quando a alma dela renascia, porém, seus desejos reprimidos afloravam, e ainda mais intensos depois de serem contidos por tanto tempo.

Lauren estava desesperada para sentir o gosto dela, penetrá-la, fazê-la estremecer com as estocadas de seu pau. Mas isso teria que esperar. Camila precisava aprender a confiar na serafim primeiro, e depois desejá-la com a mesma intensidade com que Lauren a desejava. Quando ela enfim a possuísse, não haveria mais barreiras. Era parte da natureza dela. Quando Camila se entregasse, seria de forma definitiva. Aquela mulher tinha coração de guerreira e alma de sofredora. Ela só precisava ser paciente e tomar todas as medidas necessárias mantê-la em segurança, fortalecê-la e ganhar sua confiança.

- Você não está comendo. - Camila observou.

- Na verdade estou, sim. Mas não da mesma forma que você.

- Ah, é? - Ela assumiu um tom enganosamente neutro. - E qual é a sua forma de comer? - A maneira como ela segurou os pauzinhos mudou, tornou-se mais agressiva. Lauren podia quebrá-la ao meio com um estalar de dedos, e mesmo assim o senso que Camila sentia de certo e errado e a necessidade de proteger os demais a induziam a se preparar para uma luta em que não tinha como sair vencedora.

A Touch of CrimsonOnde histórias criam vida. Descubra agora