V. Um Pacto Com O Diabo

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    As sextas feiras à noite eram dias de serão no castelo. No grande salão, a comida, a música e as conversas desenrolavam-se até tarde, acompanhadas pelos jogos de fortuna ou azar, e pelas danças clássicas. As jovens damas aproveitavam várias vezes estas noites para serem introduzidas na mais alta sociedade, na esperança de conhecerem os seus futuros pretendentes. Os jovens cortejavam-nas, e acabavam por convidá-las para dançar, indicando o seu possível interesse.

    Ou, pelo menos, era assim que deveria acontecer. Na realidade, era por vezes ponto de encontro de amantes, que sussurravam palavras discretas ou trocavam pequenos sinais escondidos. Também era um lugar de luxúria, onde as mais belas prostitutas dos mais reconhecidos bordéis se alinhavam para depois satisfazerem os homens que pagariam caro por aquelas noites. Juntava-se o amor condenado, infiel, entre jovens e prostitutas, a impossibilidade e as esperanças desvanecidas...mas deixemos isso de parte por enquanto.

    Slash entrou no salão, animado. Afinal, aquilo era praticamente uma festa. Esta seria a primeira oportunidade, desde que se encontrava na Transilvânia para conseguir desfrutar de alguma diversão noturna, aquilo no qual ele era melhor. Vestia-se de cores avermelhadas, mais alegres e limpas, que condiziam melhor com o seu estado de espírito.

    Aproximaram-se de si duas senhoras, uma com um vestido preto e a outra com um de mármore rosa, muito suave e fluído. Contudo, eram vestidos algo exuberantes e exageradamente decotados, com rendados e pormenores que copiavam a moda da época e, por esse facto, Slash percebeu logo a função das duas madames com certa facilidade.

    -Boa noite, meu senhor!-exclamou a rapariga de preto, com os seus cachos negros vivos que combinavam com o vestido e um leque que abanava insistentemente-Sois novo por aqui-assumiu, pousando-lhe a mão no peito.

    -Poderei arranjar-lhe algo para beber?-perguntou então a outra, que se encostava subtilmente ao jovem cavaleiro.

    Slash sorriu, um sorriso guloso, e quis logo apressar a noite. Afinal, não esteve com nenhuma dama desde que deixara Mures.

    -E se me acompanharem até ao meu quarto primeiro?-sugeriu, gesticulando com alguma vaidade e confiança. As duas damas trocaram um risinho, e seguiram Slash até ao seu quarto.

    Axl, por outro lado, encontrava-se sentado no seu trono, observando a festa dali. Estava vestido de preto da cabeça aos pés, e estava totalmente aborrecido. Avistando a corte e os diversos membros espalhados pelo salão, já conseguia adivinhar que o Lorde Forrester iria voltar a apresentar-lhe as suas duas filhas, as irmãs Antonia e Leopoldina Forrester que, na verdade, já não estavam muito para donzelas: Já ultrapassavam ambas os trinta anos, quase perto dos quarenta. A verdade é que os conselheiros de Axl têm-no pressionado cada vez mais para arranjar um casamento, e Axl sabe que se não responder da forma considerada adequada aos pedidos, irá levantar suspeitas desnecessárias. O que significa que, muito provavelmente, Axl casaria durante os próximos meses, fosse com uma das Forrester, fosse com a filha de outro Lorde qualquer.

    -Boa noite, vossa Majestade-aproximou-se o Lorde Forrester, fazendo-lhe uma vénia-Vejo que aproveitais o serão.

    Axl não lhe respondeu, concentrado na pequena massa de pessoas que dançavam à sua frente, bebendo e comendo, dançando, mas sem ousarem aproximar-se demasiado do príncipe, dirigindo-lhe vénias e elogios de minuto em minuto.

    -Eu encontro-me acompanhado das minhas filhas, a Maria Antonia Targu Forrester e a Ana Leopoldina Serena Forrester, que eu acredito que vós já conheceis-afirmou, indicando às filhas que se apresentassem ao rei. Ambas curvaram-se a seus pés, de modo um pouco desleixado, balbuciando vários elogios hiperbólicos ao príncipe. Rose permaneceu intacto, com o cotovelo apoiado no braço do trono e a mão numa pose elegante, balançando no ar.

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