moon mist

133 11 5
                                    

"Stay alive"

1880
Era uma noite fria de sábado, não havia movimentação nas ruas, o que me conforta, não desejo ser vista. Vou dando passos lentos pela areia da praia, sem objetivo. Sentei em um banco próximo as ondas calmas do mar salgado como minhas lágrimas. Observo a lua cheia, minha única amiga em momentos difíceis, em momentos que mergulho nas lembranças com sua presença. A dor no peito me sufoca, minhas mãos tremem, pálidas, novamente olho para a Lua e ouço suas palavras... Ou seria minha alma?

- Se acalme, Sonhadora.

Todas as noites procurei conforto na lua. Tornei dela minha confidente. Só a lua sabe quantas vezes já derramei lágrimas por ele.

- Oh lua, me lembro da forma como ele partiu, tão de repente... A batalha não é sua, ele disse, mas eu esqueci de dizer a ele que a vida dele teria virado a minha a partir do momento que o vi.

Me enrolo em meus próprios braços buscando um calor em um corpo vazio e gelado. Meus olhos pesam, minha cabeça dói, me sinto em um labirinto sem saída.

- O que fará Sonhadora? Deixará seus sonhos morrerem e levará frieza por onde quer que vá? Mesmo que suas palavras soem como faíscas de esperança, dificilmente ele voltará.

Fico calada, não sei quanto tempo caminhei. Não sei quem sou. Não sei quantos anos tenho. Não sei meu nome. Não sei mais nada. Me escondi tanto tempo atrás de máscaras que não sei mais viver da minha forma. Já fui triste, já fui feliz, já fui livre, já fui presa, já fui o sonho de qualquer príncipe, já fui assassina, já fui guerreira, já fui muitas coisas, menos eu.

Novamente escuto as palavras da Lua em minha mente:

- Não és a única que implora pela volta do seu amor. Se recomponha, nenhum amor poderá abraçar suas lágrimas de tristeza, nem seu próprio.

Me ergo lentamente do banco, sinto as partículas da areia em meus dedos, de alguma forma encontro o caminho para casa. Que caminho escolhi? Não fui capaz de aceitar sua perda, escolhi o mesmo caminho que o seu, estou indo ao seu encontro.

Entro no banheiro fechando a tranca da porta, vou até a banheira e ali me deito. A água morna se mistura aos panos de minhas roupas e aos restos de areia em meus pés.
Respiro lentamente, sentindo o calor da água me envolver.
Sinto a água em meu pescoço. Relaxo meu corpo.
A água já envolve a raiz de meus cabelos negros como a noite.
Sinto todo o meu corpo quente.
Meus olhos se fecham.
Consigo vê-lo, mais brilhante que a luz do Sol.

Seguro sua mão e lhe envolvo em meus braços como deve, te encubro com meus beijos como precisa, sendo amado por mim como quero.

Finalmente... finalmente te encontrei...

"Sempre te amarei, além da vida, além da morte."

 life and death [ I ] Onde histórias criam vida. Descubra agora