endnotes

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1888 †
Estou deitada sobre esse maldito mármore gelado. Poderia congelar os meus frágeis ossos facilmente, mas sinto que não é isso que ele quer. Não agora. Faz isso lentamente, uma tortura.
Sou incapaz de qualquer movimento, não sinto o ar entrando e saindo dos meus pulmões. É como se meus órgãos estivessem ainda se formando, dentro de uma casca de células descartáveis.
Jogam flores sobre mim. Sempre amei ganhá-las, mas elas parecem tão tristes agora, suas cores possuíam algum significado, eu sabia disso, mas é impossível lembrar. Tento pegar uma delas, mas o movimento que antes era tão fácil, virou inexecutável.

Então ela apareceu.

Seu rosto tão conhecido, tão semelhante ao meu, uma versão mais detalhada dele, como se todas as emoções fossem materiais, e ali se manifestassem.

Parecia flutuar sobre as poucas pessoas ali presentes, pareciam não perceber sua presença. Seu vestido preto e sua pele pálida criavam um contraste ilógico. E mesmo assim. Ninguém parecia notar.

Tentei falar, mas as palavras não se manifestavam, nem se quer como murmúrios, era torturante.
Tentei abraçá-la, mas eu estava paralisada, nem se quer sentia minha própria carne.
Tentei sorrir, minha mente compreendia uma saudade não explicada, mas qualquer emoção era imperceptível.

Então descobri, a verdadeira sensação da morte. Nenhum sacrifício será capaz de recuperar uma parte perdida.
Então ali esperei, paralisada, apenas olhando para as flores.

Porque o amor, é perfeitamente destrutível.

Ass: noir

 life and death [ I ] Onde histórias criam vida. Descubra agora