Capítulo 01

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Estou atrasada para o trabalho. Não levemente atrasada, mas atrasada pra cacete, para ser sincera. É meu primeiro dia depois das minhas merecidas férias e começar chegando depois do horário não vai deixar uma boa impressão. A situação é ruim, mas pode ser contornada. Há mais ou menos um ano ocupo o posto de editora geral do jornal, então tenho certeza de que minha equipe é capacitada e começará o trabalho sem mim. Quando chego à redação, não há ninguém para puxar minha orelha, felizmente. O trânsito estava caótico e eu não me sentia nada amigável naquele momento. Cumprimentei todos por quem passei e segui direto para a minha sala, pedindo para Martina, minha secretária, providenciar um fumegante e forte café para mim.

Logo cedo, definimos os assuntos das reportagens que irão estampar nossa próxima edição. Mando alguns repórteres e fotógrafos para as ruas, para cobrirem notícias importantes. Dedico algum tempo a fazer uma segunda revisão nos materiais enviados por Lisandra, minha editora assistente. Martina volta com o meu café no meio de uma revisão minuciosa e eu a agradeço apenas com um gesto de cabeça. Passo horas imersa no trabalho até que...

— Com licença, Marcela — Martina diz, colocando a cabeça dentro da minha sala e parecendo apreensiva. — A senhora não... — lanço um olhar furioso na sua direção e ela logo se corrige, envergonhada. — Digo... Você não vai sair para almoçar? Já passa das duas da tarde e você normalmente almoça ao meio dia — ela me dirige um sorriso amarelo e eu encaro meu relógio para constatar que ela tem razão. Perdi a hora completamente!

— Já estou indo. Obrigada, Martina — agradeço e ela assente, satisfeita. Finalizo a matéria na qual estava trabalhando e só então saio para almoçar.

Chamo o elevador e, quem encontro por lá? Nina, é claro. Ela trabalha cinco andares acima do meu e volta e meia nós nos esbarramos. Ela me cumprimenta com um abraço apertado e eu reviro os olhos. Parece que não nos vemos há uma eternidade, mas estivemos juntas ontem mesmo. Ela foi me buscar no aeroporto e me deixou em casa sã e salva (como se eu não pudesse chamar um táxi).

— Você já almoçou? — pergunto para ela, que nega com a cabeça. — Então é minha convidada! — ela bate palminhas, demonstrando entusiasmo por nós duas. Nego com a cabeça, levemente constrangida, mas estou sorrindo.

Chegamos ao novo restaurante da esquina, que serve deliciosas carnes grelhadas. Peço um bife de chorizo mal passado e Nina escolhe um baby beef ao ponto. Suco de laranja é a bebida da vez e ela chega antes dos nossos pratos.

— Como estão as pequenas? — pergunto, me referindo a suas filhas. Nina abre um sorriso bobo e eu sei que ela tem novidades.

— A Dani veio conversar comigo e disse que já passou da hora de ganhar um sutiã. Um sutiã, Marcela! Dá para acreditar?

— Parece que foi ontem que ela comemorou os sete anos — recordo nostálgica, me lembrando do sorriso avassalador que invadiu seu rostinho quando ela se deparou com a decoração de Frozen, exatamente como queria.

— Ela já está planejando o aniversário de dez, se você quer saber – sorrio, incerta sobre que virá por aí.

O garçom reaparece com nossos pedidos e nos serve. Estamos famintas, então devoramos tudo em silêncio e com certa rapidez. Nina quer dividir uma sobremesa comigo, apesar de eu sentir que não há espaço para mais nada dentro de mim. Assim que o profiterole de doce de leite é servido, mudo de ideia a respeito de não haver mais espaço e me deleito em uma das melhores sobremesas que já experimentei.

Voltamos para o prédio do Diario 26 e nos despedimos assim que eu chego ao meu andar. Martina está à minha espera com recados em mãos. Ela me passa um a um e imediatamente peço que ela comece a fazer algumas ligações. O dia segue agitado até o final. Quando finalmente volto para casa, me livro das sandálias de salto e quase deixo escapar um gemido com a maravilhosa sensação de me jogar no sofá.

— Oi, amor... — sou recebida com um sorriso largo e infinitamente reconfortante. — Cansada?

— Eu havia me esquecido de como é cansativo trabalhar na redação de um jornal — confesso, agradecida por sua aproximação.

— Que tal uma massagem nos pés? — oferece e eu deixo escapar um suspiro de puro prazer.

— Quando foi que você aprendeu a ler meus pensamentos? — questiono, divertida. Sua aproximação é rápida e quando suas mãos começam a massagear meus pés doloridos, me sinto perto do paraíso.

— Mais ou menos na época do nosso noivado — responde, entrando na brincadeira.

— Então acho que foi por isso que eu disse "sim" — devolvo e já estamos rindo e trocando olhares cúmplices.

****

— Eu estava pensando... Será que ainda dá tempo de trocarmos as angélicas por magnólias? — pergunta, com uma expressão séria e concentrada. Franzo o cenho, confusa com sua indagação. — As flores do nosso casamento... Será que ainda dá tempo de trocar?

— São só flores — respondo com um dar de ombros e levo meus olhos de volta para minha leitura. Trata-se do melhor livro já editado por Nina. E estou feliz por poder ler uma prova confidencial.

— Você pode, por favor, ao menos fingir que se importa com o nosso casamento? Ou é pedir demais?! — ele está me encarando com uma expressão pouquíssimo amigável e percebo que fiz mais uma vez.

— Eu... Sinto muito, Valentín. Você sabe que o adoro, só não sou muito fã de casamentos e grandes cerimônias.

— Então por que estamos fazendo isso? A festa acontece em um mês e você já teve tempo demais para assimilar tudo isso, mas parece que de nada adiantou.

— Estamos morando juntos há meses... Não é como se uma festa fosse fazer tanta diferença. E você sabe que eu só aceitei esse circo todo porque você me pediu. Você praticamente implorou. E eu estou fazendo o melhor que posso, Valentín. Sinto muito se não é o bastante.

— Honestamente? Vou parar de me preocupar tanto com isso. Angélicas, magnólias... Tanto faz, não é mesmo? Contanto que você apareça no dia do casamento.

— Eu vou aparecer. Não se preocupe.


***

Nota: Marcela sendo Marcela, não é mesmo? Façam suas apostas para o próximo capítulo! Aproveitando... Me digam a cidade e o estado onde moram porque me dá certa agonia ver os rostinhos de vocês e não saber quão perto ou longe estamos, rs.

A gente se vê na próxima quinta-feira nesse mesmo batcanal, combinado? ♥

Rainha do Pouco CasoOnde histórias criam vida. Descubra agora