Foi difícil acordar na manhã seguinte. Não cheguei a beber muito na noite anterior, quatro ou cinco garrafas de Corona, todas divididas com minha secretária. Talvez a formulação da bebida fosse diferente da do Brasil, o que, honestamente, não tinha como eu saber estando levemente atrasada para o trabalho.
Entrei no chuveiro e quase tive um orgasmo com a água quente que saía dele; o jato era forte e concentrado, exatamente do jeito que gosto. Vesti uma calça jeans, uma camisa branca social, os mesmos sapatos do dia anterior e um sobretudo bordô, que a Rafa insistiu para que eu trouxesse. Nota mental: agradecer a ela por isso.
Segui até a garagem, dei partida no carro da empresa e lá estava eu, encarando o caótico trânsito mexicano em direção ao trabalho. Tudo que eu queria era ter um dia tranquilo de muito trabalho, mas assim que cheguei a redação, percebi que precisaria lidar com um pepino daqueles.
— Bom dia, Marcela — Paloma me cumprimentou assim que eu surgi na redação.
— Que merda é essa? — resmunguei, encarando pelo menos sete caras sentados nas poltronas de espera diante da minha sala.
— Eu fui bastante específica sobre os nossos termos, mas nos enviaram esses candidatos — explicou aos sussurros enquanto me seguia até a minha sala. Recebo um bom dia sussurrado de todos à minha espera e lhes lanço um sorriso pouco amigável sem mostrar os dentes.
— NÃO É POSSÍVEL — não tive a intenção real de levantar a voz, mas sei que acabei fazendo exatamente isso. Respirei fundo uma, duas, três vezes antes de me jogar na minha cadeira. Paloma me entregou uma pasta que, honestamente, tô até receosa de abrir.
— Posso ler pra você, se quiser — ofereceu gentil, um sorriso sem graça nos lábios e um dar de ombros quase imperceptível.
— Tá tudo bem — garanto, um segundo antes de abrir a pasta.
Li o nome de todos os candidatos sem muito interesse. Não tô nem um pouco interessada em saber onde se formaram ou quais sãos suas credenciais. Eles podem ter fotografado a droga da Rainha da Inglaterra, não ligo. Quando aceitei o cargo de editora chefe da Feminist, deixei bem claro que trabalharia com um time 100% feminino. Isso inclui os freelancers.
Continuei lendo o arquivo meio por alto, até chegar à informação que buscava. Precisava saber quem havia sido o infeliz a me enviar sete candidatos do sexo masculino quando eu havia pedido exatamente pelo contrário. Sem muitas surpresas, encontrei o nome de Stéfan ao fim da folha e quis gritar com esse filho da puta que, com certeza, estava fazendo isso para me irritar.
— Se me ligarem, diga que não estou — informei a Paloma, antes de tirar meu sobretudo e jogá-lo em cima da mesa. Saí da sala com passos firmes e, logo depois que abri a porta, declarei aos candidatos: — Stéfan falará com vocês em alguns minutos. Aguardem no saguão principal.
Talvez eu devesse perder alguns minutos do meu dia para dispensá-los de forma cordial e individual. Mas se foi Stéfan quem montou esse circo, ele que se preocupe em desmontá-lo. Chamei o elevador e segui, furiosa, para o andar dele. Entrei na redação do jornal do Diario 26 com cara de poucos amigos e ninguém, nem uma alma viva, ousou entrar no meu caminho enquanto eu seguia rumo à sala do diretor chefe do andar. Abri a porta com violência e sem cerimônias e não dei à mínima quando constatei que havia um cara sentado diante dele, provavelmente em uma pequena reunião informal ou coisa do tipo. Aproximei-me o suficiente para tacar a pasta em cima da mesa dele e anunciar:
— Se meta na minha revista mais uma vez e eu acabo com você — ele se mostrava sereno e tranquilo, nem se deu ao trabalho de abrir a pasta e checar o conteúdo. — Os fotógrafos que você chamou para a entrevista estão à sua espera no saguão principal.
Ele dispensou o cara com quem conversava anteriormente e indicou a cadeira para que eu me sentasse. Encarei-o por um breve minuto antes de mandá-lo ir à merda. Ele sorriu, como se estivesse se divertindo às minhas custas e eu precisei me controlar para não voar no pescoço dele e fazê-lo se arrepender de mostrar aqueles dentes pra mim.
— Diana estava atolada em serviço e pediu para que eu selecionasse fotógrafos para que você pudesse entrevistar — explicou, com aquela falsa calmaria na voz que me tirava dos eixos.
— Fotógrafas — corrigi quase rosnando para ele. — A Feminist tem uma equipe 100% feminina e você saberia disso se tivesse lido a droga do release que enviei.
— Não tive tempo — justificou com indiferença, enquanto eu calculava quanto tempo ficaria na cadeira se cometesse homicídio doloso.
— Já dizia Pabllo Vittar: problema seu! — não segurei o sorriso debochado. — Não se meta mais na minha revista. Se Diana precisar de qualquer coisa, diga para me procurar. E trate de encontrar tempo para dispensar os fotógrafos que estão lá embaixo ou garantirei que a diária de todos eles sejam descontadas do seu salário — eu podia esperar por uma resposta, mas não quis. Citar Pabllo Vittar no meio da discussão havia sido o auge do deboche e eu não queria arriscar perdê-lo. Segui de volta para o meu andar, pisando firme. Sobre a questão de descontar as diárias dos fotógrafos do salário dele: eu tinha um total de zero autonomia para fazer isso, mas pisa no meu calo para você ver se não dou um jeito.
Voltei para o décimo terceiro andar, onde todas pareciam estar segurando o ar. Talvez eu tenha saído da minha sala parecendo um pouco assustadora? Talvez. Mas aquelas mulheres maravilhosas não precisavam de estresse extra no segundo dia de trabalho.
— Está tudo certo, garotas — avisei, com o sorriso mais gentil que consegui improvisar. — De volta ao trabalho!
Paloma estava à minha espera quando entrei na sala. Parecia que ela não havia se movido nem meio centímetro durante a minha ausência. Eu precisava conversar com uma das minhas jornalistas em alguns instantes, mas também precisava encontrar fotógrafas com certa urgência. Praticamente lendo meus pensamentos, Paloma sugeriu fazer algumas ligações e ver se conseguia entrevistar uma ou duas profissionais ainda hoje.
Graças a Deusa!!!!
Eu poderia beijar a boca dessa mulher em agradecimento.
Quer dizer, metaforicamente falando.
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Com apenas 7 capítulos, nós já alcançamos 2K de leituras :O Eu tô TÃO feliz e TÃO agradecida, que ó... Nem sei, viu? Sério, muito obrigada pelo apoio mesmo eu tendo ficado um bocado de tempo longe. Significa muito para mim voltar aqui e encontrar cada um de vocês ♥
Não ousei atrasar o capítulo de hoje, afinal, não é todo dia que se comemora 2 mil leituras, né? E, para agradecer um pouquinho mais, que tal um SORTEIO? Se você quer receber marcadores autografados da série, comenta EU QUERO aqui embaixo e, na semana seguinte, vou sortear duas pessoas para receber esse pequeno agradecimento cheio afeto!
Aproveitem e me digam o que acharam do capítulo... Tenho lá minhas dúvidas sobre a Marcela estar falando apenas metaforicamente kkkkkkk E vocês?
Pra galera de São Paulo: estarei aí no próximo sábado, de 13 às 18h no evento do Se Liga em 2019. Quem puder ir me dar abraços e amor, será mais que bem-vindo.
Por hoje é só. Nos vemos na próxima semana nesse mesmo batcanal? :p
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Rainha do Pouco Caso
ChickLitTerceiro e último livro da série Poder Extra G. | Os livros são independentes: o primeiro (Poder Extra G) é narrado pela Nina; o segundo (Singular) é narrado pelo Noah; o terceiro (Rainha do Pouco Caso) é narrado pela Marcela. Lançamento: 20/12/18 |...