Capítulo 09

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As coisas iam muito bem na Feminist, não tinha do que reclamar. Dizer que juntar mulheres diversas com um propósito em comum não é boa ideia é absurdo, para dizer o mínimo. Apesar dos arranca-rabos vez ou outra, nossa revista nascia com toda pompa a que tinha direito. Mulheres geniais davam o sangue (literalmente) para que ela saísse exatamente como imaginada. Fiquem calmos sobre o lance do sangue, foi assustador, mas já passou. Uma de nossas fotógrafas (sim, no plural mesmo; nós conseguimos duas!) escalou uma construção para conseguir o clique perfeito de uma manifestação a favor da legalização do aborto e nem se importou em esfolar a própria pele por isso. Ela recebeu o tratamento devido, além de uma pequena advertência para não colocar a própria vida em risco, mas tenho certeza que as parabenizações pela fotografia incrível acabaram falando mais alto.

No meio de tantos compromissos, reuniões e pepinos a resolver, meus dois primeiros meses no México passaram voando. Paloma acabou se tornando mais do que uma secretária: eu já me sentia confortável para chamá-la de amiga. Ela não é a única, claro que não. Mas definitivamente é a mais próxima. A moça de pele morena e cabelos cacheados e volumosos já havia me visto nas situações mais improváveis; e, ainda assim, seu semblante era de pura admiração e afabilidade.

O dia da festa de lançamento da revista chegou tão depressa que é meio difícil acreditar. Eu estava no meu apartamento tentando não surtar, enquanto Paloma resolvia detalhes de última hora por telefone. Seu semblante é tranquilo como quem diz não há nada com o que se preocupar aqui. Segui para o meu banho enquanto me lembrava mentalmente de que precisava respirar (não que eu estivesse me esquecendo disso, é claro). Se Nina estivesse aqui, ela poderia surtar por nós duas. Mas minha secretária é o total oposto e parecia um poço de tranquilidade. Eu, honestamente, só tentava manter a fachada.

***

Já passava das nove da noite quando o maior volume de convidados adentrava nossa festa de lançamento. Paloma usava um vestido dourado que deixava suas costas nuas enquanto cumprimentava um a um e lhes dava as boas vindas. Eu, de calça skinny preta e terno branco com caimento igualmente justo, parecia fugir de qualquer conversa que não fosse estritamente necessária.

— Vai passar a festa toda se escondendo? — a pergunta me pegou desprevenida e me esforcei para não cuspir o espumante que tinha na boca.

Diana estava simplesmente deslumbrante. Trajava um macacão folgado com uma estampa marcante e colorida. Ao seu lado estava o embuste. Digo, o Stéfan. Tentei abrir um sorriso menos debochado do que gostaria. Deveria traçar um resposta educada para minha superior dizendo algo como imagina, não estou me escondendo, mas sinceridade sempre foi o meu lema.

— Eu nem teria vindo, se você não tivesse me obrigado — Stéfan não acreditou na minha resposta mal criada, mas, Diana, que sabe exatamente quem eu sou, caiu na gargalhada.

— Você é parte dessa história, Marcela — lembrou com um tom que, apesar de aveludado, também soava imponente. — Nenhuma comemoração poderia ocorrer sem você.

A conversa não durou mais que dez minutos. Paloma logo surgiu das profundezas do além para me resgatar e me levar até o bar. Não é como se eu precisasse de uma salvadora ou coisa assim, mas minha birra era apenas com Stéfan e ele permaneceu a conversa inteira calado, apenas concordando, como quem tem medo de emitir as próprias opiniões e deixar escapar o verdadeiro eu.

— Qual é a sua história com o babaca do jornal? — ela sabia que eu não gostava dele, mas nada além disso. Talvez estivesse na hora de me abrir um pouco.

— Tentamos nos envolver sexual e emocionalmente no passado — confessei, ponderando atentamente a escolha de palavras. — Descobri que ele era um babaca e não deu certo.

— Então é o famoso clichê dos livros e filmes de amor odioso ou ódio amoroso? — ela deu um grande gole em seu drinque extravagante e colorido enquanto me encarava nos olhos.

— Nem um nem outro. Ele me irrita, mas não merece muito mais do que isso — Paloma deu um novo gole e, em seguida, mordeu os lábios inferiores. Não de um jeito delicado e tonto tipo Anastasia Steele, mas de um jeito sexy e provocante tipo Megan Fox. Senti meu ventre se contorcer e precisei enfiar toda a minha bebida goela adentro para ver se ajudava.

— Tudo bem? — eu devia estar com uma cara realmente preocupante a ponto dela me perguntar. Sorri meio torto e assenti.

— Vou ao banheiro... — nem dei tempo para que ela respondesse nada. Vai que Paloma resolve surgir com um papo de ótimo, vou você?!

Deixei minha secretária para traz e tentei fazer o mesmo com os meus pensamentos. Fugir do clichê de ódio/amor para entrar no clichê de chefe/secretária não era algo que eu vinha buscando. Que a Deusa me livrasse dos clichês ou eu precisaria ouvir a Nina falar um monte sobre como a vida é uma eterna novela mexicana.

Entrei na cabine e embora não estivesse com vontade de fazer xixi, fiz mesmo assim. Esperei duas moças retocarem as próprias maquiagens para poder lavar as mãos. Elas bem que poderiam me julgar por estar com a cara totalmente limpa, mas não o fizeram. E cada vez mais, eu sentia que a Feminist criava um ambiente acolhedor para chamar de meu. De nosso.

A festa estava rolando e eu achava que nada mais pudesse dar errado. Não aquela altura, pelo menos. Mas é como diz minha melhor amiga: toda calmaria é o início de uma grande reviravolta. Quer dizer, não tenho certeza se é isso que ela diz, mas é algo do tipo.

Paloma e Maria se aproximaram de mim apressadas. Parecia aflitas. Elas me pegaram pelo braço e começaram a me carregar para longe da pista de dança. Entramos em uma sala quieta (ou o mais quieta que se pode esperar) e nos encaramos. Eu começava a ficar incomodada com o silêncio das duas.

— Vão me dizer o que está acontecendo ou pretendem me trancar aqui como refém? — arqueei uma sobrancelha na direção delas. Paloma suspirou, mas foi Maria quem respondeu.

— É melhor você se sentar...

— Acabaram de nos jogar uma bomba, Marcela, e você não vai gostar.

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Me desculpem pelo sumiço </3

Eu entrei num período muito louco que, se não era meu inferno astral, parecia. Aí foi um monte de coisa dando errado e escrever acabava sendo a última coisa que queria fazer. Mas tô aqui, com capítulo novo (ainda que não numa quinta, como esperado) e o início das tão famosas reviravoltas que a vida gosta de dar!

Alguém aí arrisca um palpite do que está por vir? Se alguém acertar (o que não tenho certeza se vai acontecer, eu envio marcadores bem bonitos ♥). Por falar em marcadores, os das @LittleGhostVoig foram enviados ontem o/

E acho que é isso! Espero voltar aqui na próxima semana com novo capítulo!!!

Rainha do Pouco CasoOnde histórias criam vida. Descubra agora