Capítulo 14

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O dia é intenso e corrido. Diana convoca uma reunião às pressas para falarmos dos ataques e de como eles impactaram positivamente nas vendas. Os superiores estão superanimados; é como diz o ditado: falem bem ou falem mal, mas falem de mim. Adaptando-o para o sistema capitalista, eu digo: falem bem ou falem mal, mas comprem nosso produto. Isso, honestamente, não combina comigo. Quero que nossas vendas sejam mais expressivas em virtude do conteúdo excelente que estamos criando e deixo isso claro para todos os presentes.
— O foco de vocês são os números... O meu sempre será o conteúdo. Quem sabe não consigamos chegar a um denominador comum nas edições futuras?!
Não espero uma resposta, já estou com os documentos de que preciso em mãos, pronta para sair da sala. Abro a porta da sala de reuniões e por muito pouco Stéfan e eu não colidimos como numa patética cena de comédia romântica. Sabe quando o mocinho esbarra na mocinha, que derruba tudo que tem em mãos e espera o cara catar tudo e entregar pra ela? Ela sorri de um jeito meigo, com um olhar constrangido e ele se desculpa enquanto lança um sorriso sedutor. Em seguida, vem um convite para um encontro ou qualquer coisa cafona assim. Pelo jeito que me encara, arrisco dizer que é exatamente isso que ele esperava que acontecesse. Ergo a sobrancelha direita na sua direção, como quem diz: vou atravessar essa porta e você não ouse entrar no meu caminho. Ele dá um passo discreto para trás e então eu continuo.
Volto para o andar da Feminist quando o expediente está quase no fim. Entro na minha sala e me deparo com Paloma que, ao telefone, está dizendo para alguém que não estou disponível para entrevistas. A pessoa do outro lado da linha parece insistir, pois ela precisa repetir a informação mais três vezes antes de finalmente desligar.
— Esse povo não cansa? — passo por ela e me jogo no sofá em que normalmente recebo visitas. Ela se levanta e se joga ao meu lado. Não é nada demais, mas sinto meu ventre se contorcer em resposta à sua aproximação. Mesmo depois de um estressante dia de trabalho, ela continua com uma fragrância agradável que não consigo decifrar.
— Acho que esse povo não aprendeu a ouvir não. Quando é um homem do outro lado da linha, a insistência é ainda maior — ela se ajeita no sofá e seu joelho esbarra no meu. Apesar de haver uma camada de roupa entre nossas peles, sinto um choque quase instantaneamente e então me afasto. — Vamos? — olho para ela confusa. "Vamos para onde?", é a pergunta que surge em minha mente. Por uma fração mínima de segundo acho que ela está me convidando para sair. Ou para fazer algo indecente com ela ali mesmo, no sofá do escritório. Percebendo minha confusão, ela acrescenta: — Minha casa. Você está me devendo respostas.
Parte de mim quer bufar e revirar os olhos porque é final do dia e não quero ter que passar por um interrogatório nem dar satisfações. A outra parte, contudo, acha uma boa ideia ir para casa dela. Talvez... Aconteça mais que um interrogatório. Talvez... Outras partes dos nossos corpos se encostem. Talvez...
MERDA, Marcela!!!
"No que você tá pensando?" me recrimino mentalmente.
"Em levar a Paloma pra cama e foder com ela como se o mundo estivesse prestes a acabar", minha parte nada sensata responde.
Paloma está com um sorriso no rosto, esperando que eu me levante. Questiono-me se ela continuaria a sorrir se soubesse no que estou pensando.

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⏰ Última atualização: Sep 19, 2019 ⏰

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Rainha do Pouco CasoOnde histórias criam vida. Descubra agora