O tempo passou tão depressa, que mal vi quando aterrissamos no aeroporto internacional da cidade que seria minha residência pelos próximos doze meses. Deixei que os passageiros se levantassem e brigassem silenciosamente entre si para poderem sair da aeronave primeiro. Continuei em minha poltrona, passando pelo feed do Instagram de forma despretensiosa. Nunca entendi muito bem esse desespero todo para sair. Todos o farão em algum momento, é só ter um pouquinho de paciência. É claro que existem pessoas atrasadas para pegar uma conexão e outras que sofrem com algum tipo de claustrofobia e ansiedade, mas no geral, as pessoas só costumam estar desesperadas para tirar algum tipo de vantagem mesmo, por mais insignificante que seja.
Quando todos por fim saíram, me levantei, retirei minha mala de mão do compartimento acima do meu assento e segui em frente. Segui à esteira indicada para buscar o restante das minhas coisas e, depois de fazê-lo, finalmente segui para fora do aeroporto, à procura de um táxi. A revista queria mandar um motorista para me buscar, desses que ficam segurando uma plaquinha com o nome da pessoa, sabe? E deixei bem claro que não aceitaria o cargo se fizessem isso. Recusei o recurso em todas as minhas outras viagens – embora nem sempre tenha viajado sozinha. A questão era: eu podia dar conta de mim mesma. Era só um trajeto do aeroporto até meu novo apartamento, nada demais.
Entrei em um carro antigo, com cores em demasia na parte de dentro e um motorista de meia idade que tinha um bigode maior que os lábios. Informei o meu destino e evitei todos os assuntos que ele tentou puxar comigo ao longo do caminho. Na primeira vez em que estive aqui, me assustei com o trajeto, pois encontrei mais pobreza do que esperava. O contraste das classes sociais era tão evidente quanto no Brasil. Talvez até um pouco mais. Em um instante eu passava por uma área carente, com muitos moradores de rua tentando se proteger de modo precário do frio impiedoso da noite mexicana em pleno janeiro e alguns minutos depois eu entrava na capital, com luzes, vida noturna e um trânsito extremamente agitado. O som das buzinas não havia diminuído em nada desde a última vez que estive aqui.
Assim que entramos na Avenida Chapultepec, comecei a me sentir um pouco mais em casa. Eu já havia me familiarizado com aquela região, inclusive com o apartamento que ocuparia dali pra frente – era o mesmo da minha última estada. Com a ajuda do taxista, retirei todas as minhas malas de dentro do carro e fui recebida por Javier, o porteiro mais simpático dali – e, honestamente, o único que gostava de trabalhar. Ele me cumprimentou e, mesmo sem eu pedir, se aproximou e pegou a minha mala mais pesada. Seguiu em direção ao único elevador do edifício e fui logo atrás.
— É bom ter a senhora de volta — seu sotaque era muito diferente do argentino, mas depois de assistir quinhentas novelas mexicanas com a Nina, até que era um pouco familiar.
— Muito obrigada. É bom estar de volta — talvez isso ainda não fosse uma verdade absoluta, mas eu estava realmente disposta a tentar.
Assim que entrei no apartamento, me deparei com o banheiro. Mais a frente, estava a cozinha compacta. Adiante, uma bancada com bancos altos que dividia o ambiente, uma cama de casal extra grande, uma pequena mesa circular acompanhada de uma poltrona. Era pequeno, mas simples e confortável. Em cima da minha cama enorme e confortável havia uma caixa de chocolates, uma garrafa de vinho e um bilhete:
Estamos felizes de tê-la conosco na Feminist.
Você é parte fundamental dessa história.
Sorri comigo mesma, fechei o bilhete e tratei de pegar um dos chocolates da caixa. Era tão deliciosamente gostoso, que derreteu assim que o coloquei na minha boca. Peguei meu celular e me deparei com três mensagens da minha melhor amiga querendo saber se eu tinha chegado bem. Respondi que sim. Avisei ao Noah também. Resolvi pedir algo para comer junto com a garrafa de vinho. Meu sábado terminaria na melhor companhia do mundo: a minha.
***
O trânsito da Cidade do México é caótico e não precisa morar aqui para saber disso. E se tinha uma coisa que eu me recusava a fazer, era chegar atrasada no meu primeiro dia de trabalho. No segundo talvez não fosse nada demais, mas no primeiro era inconcebível até para mim. Acordei cedo, tomei um reforçado café da manhã continental junto de outros hóspedes e chamei um Uber para me levar ao prédio da sede mexicana do Diario 26.A Feminist ocuparia os andares treze e catorze e foram esses números que apertei assim que entrei no elevador. Eu estava ansiosa, confesso, e bufei quando meu meio de transporte vertical parou no quarto andar. E depois no sexto. E também no sétimo. Concentrei-me no meu celular: faltavam dois minutos para o meu expediente começar oficialmente.
Droga, será que eu me atrasaria por causa da merda do elevador?
Quando o ascensor parou no décimo, eu já estava vermelha de raiva. Quem seria o ser humano maldito a cruzar aquela porta?
Eu esperava que fosse qualquer um.
Menos ele.
— Marcela? — não sei se foi proposital, mas meu nome saiu de seus lábios como uma pergunta. Ele arregalou os olhos e abriu algo entre um sorriso e uma náusea.
Tentando ser profissional e educada, eu o cumprimentei:
— Olá, Stéfan.
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Hey, people. Olha eu por aqui ✩ Por um momento, achei que não conseguiria postar capítulo novo hoje. Não sei se vocês sabem, mas eu trabalho com outras coisas além da escrita: confecção de artes diversas, diagramação e também sou editora. Além disso, estou fazendo a rifa do Se Liga (selo do qual sou editora; vocês já conhecem?), organizando eventos e sempre com um monte de coisas. E os capítulos de RDPC são escritos às quintas-feiras, pouco antes de eu aparecer por aqui. Embora as ideias já estivessem todas na minha mente, quem disse que é fácil arrumar tempo para se desconectar de todo o resto e escrever?? MAAAAS, cá estou eu, jogando uma pequena bomba por aqui. Será que vem histeria, gritaria e confusão por aí? hm
Me digam o que estão achando da história porque isso vai me ajudar tipo, muito! ♥
E ah, sabe a rifa do Se Liga que eu mencionei ali em cima?! Ela ainda tá rolando e, se você aí do outro lado quiser garantir um ou mais números, vai ser muito bacana. O dinheiro arrecadado com a rifa vai ajudar a tirar projetos do meu selo do papel: como eventos, brindes, divulgação. E o Se Liga é um selo de literatura jovem voltado para obras que valorizam todo o tipo de diversidade: sexual, de gênero, cor, etnia etc. Vou deixar mais informações sobre a rifa aqui embaixo para quem quiser saber! E se tiverem dúvidas, podem deixar aí nos comentários que eu respondo com o maior prazer :p
E por hoje é só. Vejo vocês na semana que vem? *-*
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Rainha do Pouco Caso
ChickLitTerceiro e último livro da série Poder Extra G. | Os livros são independentes: o primeiro (Poder Extra G) é narrado pela Nina; o segundo (Singular) é narrado pelo Noah; o terceiro (Rainha do Pouco Caso) é narrado pela Marcela. Lançamento: 20/12/18 |...