Our First Date

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Me olhei pela milésima vez no espelho naquele final de tarde, minha calça jeans estava ajustada e parecia cair bem em minhas pernas, minha blusa de mangas compridas me aquecia e ornava, o cordão fino com um pequeno coração de pingente deixava meu colo ainda mais harmonioso. Acho que não estava de todo mal. Passei os dedos por meu cabelo jogando-os para o lado, não estava liso como de costume e nem ondulados, preferi deixá-los do modo natural, ele não ligaria.

Aquela não era a primeira vez que sairíamos, na verdade, é algo que tem se tornado rotineiro desde a primeira leitura. Protagonizar uma novela era sem dúvida uma grande responsabilidade, era sua função coordena-la, seu personagem teria o maior destaque e precisava dar certo. Era tudo o que pensava quando peguei aquele roteiro pela primeira vez, prometi a mim mesma que faria com todo amor e dedicação e nada me distrairia... até olhar naqueles olhos azuis profundos pela primeira vez. Confesso que senti um pouco de frustração quando Klebber declinou a produção da novela, já tínhamos formado um clima gostoso de amizade e na minha mente, daria certo.

Mas então outra pessoa entrou para o papel de Samuel e cumprimenta-lo pela primeira vez foi como uma descarga passando por meu corpo, ele fez questão de deixar um beijo em meu rosto deixando seu perfume forte impregnado em mim. Foram cerca de cinquenta minutos de reunião e em cada segundo seus olhos faziam questão de desviar para mim, eu podia sentir. Foi então no final que os olhares se encontraram e o papo do Léo de "testar a química" entre os protagonistas nem mesmo fora citado novamente. Quando todos se cumprimentavam e comemoravam o começo de mais um trabalho, ele chegou sorrateiramente com as mãos no bolso e sorriso de menino levado me perguntando se conhecia São Paulo. Foi ali que uma longa conversa começou. O papo então inocente foi para o aplicativo de mensagens, para uma chamada inesperada a noite até surgir o convite para uma peça de teatro. Era incrível o quanto tínhamos assunto e eu, uma pessoa ainda machucada por fantasmas do passado me permitia a sorrir novamente.

Olhei no espelho novamente me permitindo sorrir, um sorriso de mostrar os dentes e enrugar os olhos. Era assim que eu me sentia aos quinze anos com o primeiro namoradinho? Uma afobação, coração palpitando e palavras fugindo ao vocabulário? Eu não lembrava mais, mas com certeza nessa noite valeria a pena tentar. Peguei meu nécessaire tirando um vidro de perfume lá de dentro e espirrando em minha nuca e entre os seios, peguei também um batom de cor clara e pintei meus lábios. Sentei na beirada da cama calçando minhas sandálias, lá fora uma São Paulo fria já escurecia.

Olhei o celular percebendo sua notificação. Nicolas precisou ir ao Rio de Janeiro resolver algo sobre seu filme que estava em pós-produção, mas não quis desmarcar nosso encontro, nem mesmo quando eu disse que problema não haveria. Dizia que estava ansioso para me ver e se corrigiu abaixo falando que era para debater mais um conjunto de texto que havia recebido, essa era a desculpa, mas nunca falamos uma só palavra de Samuel ou Maria Marcolina.

Entrei no táxi ainda digitando, as luzes daquela enorme cidade passavam por mim, mas eu só tinha olhos para o pequeno aparelho a minha frente. Ele queria me buscar, talvez alugar um carro já que estávamos em laboratório na terra da garoa, mas respondi novamente que não havia problema, nos encontraríamos no restaurante. Cerca de vinte minutos depois deixei o carro enquanto me encolhia com o vento gelado.

Atravessei o grande salão aquecido, o cheiro de queijo e vinho impregnavam em meu nariz me fazendo salivar. Segurei minha pequena bolsa enquanto me aproximava na mesa mais ao canto, perto da janela. Meu companheiro de cena estava de costas, usava uma blusa de mangas compridas preta e seu corpo curvado denunciava as mensagens que chegavam uma atrás da outra em meu celular.

- Ei – sussurrei em seu ouvindo, ele deu um pequeno pulo em sua cadeira e sorriu de volta – Demorei muito?

Ele se levantou e me puxou pela cintura deixando um beijo em minha bochecha, seu nariz passou disfarçadamente em minha bochecha antes de se afastar e puxar a cadeira da frente para mim.

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