I Do

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Me debrucei no parapeito do hotel aspirando a brisa fresca da tarde. Lá embaixo, pessoas aproveitavam sua praia da melhor maneira carioca que poderiam. Eu via os carros passando, as pessoas chegando e as ondas quebrando na areia. Também ouvia o murmúrio de conversas, gritinhos animados das crianças ou os vendedores gritando para anunciar seu produto. Era um dia típico, exceto por um detalhe. Suspirei mais uma vez e meus olhos fitaram o chão, tão longe dos meus pés que uma pequena tontura atravessou meu corpo e então, me afastei. Eu estava quase entrando no quarto mês de gestação e os incômodos, apesar de mais brandos, ainda estavam lá.

Empurrei as cortinas finas para voltar ao quarto, onde um verdadeiro exército havia sido montado. Maletas de maquiagens tomavam a penteadeira, cabides e mais cabides ornavam o ambiente com suas variadas cores, um carrinho intocado de frutas e suco aguardava minha fome ao canto e na janela, meu vestido branco e rendado contrastava com a luz do sol. Um frio cortou minha barriga em imaginar que dali há algumas horas eu entraria na igreja de braços dados com meu pai e finalmente diria sim ao amor da minha vida. Um misto de sentimentos tomava meus pensamentos, eu não sabia nem mesmo o que dizer. Todos me perguntavam sobre o nervosismo, ansiedade, mas eu só conseguia pensar em emoção e no quanto nosso amor cresceu. Cresceu e multiplicou. Levei a mão na pequena barriga e acariciei com as pontas dos dedos, aquela criança que crescia em meu ventre era a prova que tudo que fiz até aqui, em toda minha vida, deu certo.

Escolhemos aquele sábado para trocar nossas promessas de amor em frente a quase trezentas pessoas muito bem selecionadas. Acho que nunca se correu tanto com um casamento. Apenas Nicolas e meus pais sabiam da minha gravidez, eu não gostava da ideia de dar satisfação a alguém e pedi a Nicolas que isso fosse mantido em segredo até que fizéssemos nossos votos. Foram longos dias escolhendo igreja, comidas, convites, doces e flores. Sem falar na escolha das damas, pajens ou o tipo de aliança, prezei para a mais discreta possível em ouro branco com uma pequena pedrinha em cima, eu usaria junto a minha de noivado. Logo, tantos preparativos caiu na imprensa e a bola de neve se tornou ainda maior. Minha mãe e a assessoria do Nicolas se desdobraram para tornar tudo o mais íntimo possível, mas em duas semanas a igreja escolhida para o casório já era conhecida por todas e sabiam até mesmo o ateliê que bordaria meu véu. Um assunto privado se tornou completamente público, e agora nosso casamento era contado os dias para caírem em cima. Ótimo.

- Juliana, você não comeu nada? – minha mãe entrou no ambiente segurando um saco preto de roupa, seu cabelo estava tomado por bobs e ela usava um roupão – Vai passar mal até a noite, minha filha.

- Não estou com fome – deitei na cama abraçando um travesseiro – Você falou com Nicolas? Sabe se ele chegou aqui?

- Falei com a Gisele, ele vai se arrumar no hotel aqui do lado, mas ainda não foi para lá. Ela me contou que ele cismou de surfar com alguns amigos, to achando que o atrasado será o noivo. 

- Será que ele teve uma boa despedida de solteiro? – ergui a sobrancelha. Quando me disse que sairia com alguns amigos, confesso que uma pontada de ciúmes me atingiu. Não por pensar que ele faria alguma besteira, mas sim onde essas pessoas o levariam. Um deles me mandou uma foto pouco após as três da manhã, era um local com luzes quentes e ambiente escuro, preferi nem responder para não criar alguma paranoia.

- É onde os homens transam pela última vez antes de casar, né? – minha mãe provavelmente percebeu meu espanto antes de jogar sua cabeça para trás rindo alto, ela pegou um pedaço de fruta e jogou na boca – Aquele homem é doido por você, deve ter ido em um clube desses ai de homem pra jogar conversa fora mesmo.

- Não imagino Nicolas em uma casa noturna. – falei mais para mim que a ela.  – Até porque, em casa não falta a ele.

- Veja só, quando me casei sua avó veio com as bochechas vermelhas enquanto me preparava para me contar sobre o que acontecia com os casais na noite de núpcias, não que eu não soubesse, mas foi engraçado vê-la falar tanto e nunca nomeando as coisas. Hoje minha filha vai entrar no altar com uma misturinha de vocês na barriga. – sorri sentindo uma lágrima solitária descer por minha bochecha. Estava mais emotiva que o normal, já havia chorado algumas vezes desde que acordei.

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