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Após contar até três Brigitte fechou os olhos com toda força, encheu seus pulmões de ar e pretendia se lançar no abismo, quando braços fortes a puxaram pela cintura, impedindo que ela fosse adiante.

Após rolar pelo chão com o desconhecido, ralando o cotovelo e quase batendo a cabeça em uma pedra, ela ainda tentava entender o que tinha acabado de acontecer alí.

- o que você está fazendo garota? O que pensa que está fazendo?

A voz do homem era desesperada e o seu semblante, mesmo no escuro também estava carregado por uma emoção pesada e aterrorizante.

Sem ter uma resposta para a sua pergunta, Brigitte simplesmente ficou onde estava, nos braços daquele estranho e chorou compulsivamente enquanto soluçava, não conseguia controlar o próprio corpo, que parecia querer expulsar todos os sentimentos ruins que tentavam sufoca-la como mãos invisíveis em sua garganta, apertando sem piedade.

Ela já não sabia se chorava exatamente por suas dores ou por não ter conseguido por um fim definitivo nelas. Nem saberia dizer por quanto tempo permaneceu alí, deitada no chão pedregoso com um estranho, que agora a abraçava tão forte, sem dizer mais nada enquanto ela sujava a camisa dele camisa com as suas lágrimas. Até que por fim voltou a si e percebeu o quão constrangedora era sua situação.

- e-eu sinto, eu sinto muito.- obrigou-se a dizer, sentindo a sua garganta seca e dolorida.

- olha, não precisa me explicar o que aconteceu, pra que você viesse até aqui, mas, eu não poderia permitir que você fizesse isso na minha frente, e também não posso deixar você aqui sozinha.- diferente do desespero inicial, a voz dele agora era calma e macia.

- por favor, eu não quero voltar...

- tudo bem, tudo bem, você não vai voltar pra onde quer que seja, só me diz pra onde você quer ir e eu te deixo lá, ok?

- você não entende, eu não quero voltar pra minha vida.

As palavras tão duras, causaram um impacto que Fabrizio não esperava e a vulnerabilidade da moça o tocou de forma ainda mais acentuada. Não poderia simplesmente se despedir e deixá-la onde estava.

- olha, eu preciso que você venha comigo está bem? Eu prometo que não vou te levar a sua antiga vida. Que tal viver algo novo, hum? Parece bom pra você?- ele agora falava como se estivesse tratando com alguma criança, mas, não era exatamente assim que todos a tratavam? Como se fosse uma criança tola? Mas, será que ele poderia mesmo lhe oferecer alguma coisa nova?

Apesar de não responder, a jovem não ofereceu nenhum tipo de resistência enquanto Fabrizio a ajudou a se levantar do chão e a guiou para baixo, e ao observa-la, mesmo no escuro, ele não pôde deixar de notar o quanto era bonita.

Apenas ao descerem o monte Fabrizio se lembrou do motivo pelo qual estava alí e quase praguejou, mas ele não era o tipo de homem que praguejava na frente de uma dama, por isso se conteve e tentou buscar uma segunda alternativa para saírem seguros dali.

- acho que teremos que usar o seu carro, o meu quebrou na estrada e eu estava tentando encontrar um sinal de telefone, quando... A gente se conheceu.

- tudo bem, deixei a chave na ignição.- disse de forma imparcial, como se não se importasse.

Aquela mulher deveria ser mesmo uma louca, entrando em um carro com um pleno desconhecido, a noite, sem oferecer nenhuma reação ou resistência, e a forma com que se conheceram só confirmava ainda mais esta tese, porém, de alguma forma ele se via obrigado a ajudá-la, a estar ali, e pensar que em seu lugar poderia estar qualquer homem de má índole, trazia um sentimento estranho a Fabrizio, um incômodo sem nenhuma razão aparente, mas que de alguma forma fazia todo sentido.

Fabrizio abriu a porta do passageiro e esperou ela entrar, enquanto a mesma o encarava de uma forma estranha. Depois ele deu a volta no carro e ocupou o lugar do motorista. Era incrível, nunca havia dirigido um carro como aquele antes e até de atrapalhou com o câmbio automático.

Ligando o lindo conversível rosa, os dois partiram rumo a fazenda de Fabrizio. Ele não poderia pensar em um lugar melhor para leva-la e já era noite.

Somente na estrada ele percebeu que sequer haviam se apresentado e resolveu tomar a iniciativa, levando em conta que a garota parecia um pouco fora do ar.

- posso saber seu nome, moça? Já que tecnicamente estamos indo pra o mesmo lugar

- me chamo Brigitte, mas todos me chamam de Brie.

- eu sou Fabrizio. E todos me chamam de Fabrizio.

O olhar triste da jovem continuava fixo na estrada e ficou claro pra Fabrizio que ela não estava a fim de conversar, e nem iria sorrir de suas piadas sem graça, então, o resto do caminho foi no mais absoluto silêncio e antes que chegassem a fazenda a jovem adormeceu, estava absolutamente vulnerável e machucada por dentro.

Quando estacionou na fazenda, todos já estavam dormindo, o dia no campo começava bem cedo e todos costumavam ir pra cama pouco depois do jantar.

Com todo o cuidado, Fabrizio abriu a porta de casa e voltou até o carro para buscar sua hóspede maluca. Temendo acorda-la, lentamente a colocou nos braços e caminhou até o primeiro andar, onde ficavam os quartos. O quarto de hóspedes não havia sido preparado para recebê-la e Fabrizio ainda tinha medo de deixá-la sozinha, por isso a levou até o seu próprio quarto. A colocou sobre a sua cama da forma mais delicada que pôde e tirou as sandálias de salto alto dos seus pés.

"como ela subiu no monte com aquele tipo de sapato? "

Caminhando até o armário, escolheu algumas cobertas e as colocou sobre ela, em seguida sentou na poltrona do canto do quarto, temendo deixa-la por qualquer instante que fosse. De onde estava, ele a observou por alguns instantes, mesmo fechados os seus olhos estavam visivelmente inchados e vermelhos devido ao choro e os seus cabelos escuros se espalhavam como caracóis pelo seu colchão. Sem dúvida, aquela era a noite mais estranha de toda sua vida.

Ele permaneceu observando os belos traços da garota a sua frente até que foi vencido pelo cansasso e também adormeceu.

Salva Pelo AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora