Então respondi: - nunca mais papai, e não pretendo vê-lo novamente.
Pensava que essa minha fala o pudesse fazer se desviar da intenção de provocar mal a Robert, e conclui que tudo estaria apaziguado daí em
diante, e disse em meu pensamento: Ainda bem que não cedi a vontade de ir falar com ele, pois o momento dele estar naquele ângulo em que papai o pôde ver da janela foi terrivelmente importuno, e me lamentei em pensamentos e sentimentos de tristeza, silenciosamente, para que papai não pudesse perceber, mas aí então da sua boca saiu a frase, na verdade a sentença que estagnou, massacrou e pisoteou meu coração, e tive vontade de chorar desoladamente.Meu pai disse: - Pois bem, muito bem, mas só isso não será suficiente, ele vai voltar, causar a sua morte ou até mesmo matá-lo com as minhas
próprias mãos também será uma opção, disse com grande convicção e
determinação.Me espantei e me horrorizei vendo crescer ou até mesmo mostrar algo
que já estava dentro dele, o desejo de fazer justiça com a própria acusação e sentença. E a de Robert não era nada boa, agonizei, corri para meu quarto, não me importei que o mesmo me visse chorando, não consegui disfarçar ou atuar que tudo estava bem, pois eu sabia desde pequena que tudo que meu pai dizia com aquela convicção e determinação, ele fazia cumprir, só não pude imaginar que coisa tão horrenda pudesse sair de sua boca, talvez não o conhecesse tanto assim como imaginava, sonhei acordada com a cena de Robert e eu
rindo, correndo pela praia se sentindo felizes e como se nada pudesse impedir aquele momento ou até mesmo aquele nosso destino reluzente, quando voltei a mim e me deparei com a realidade, senti um
frio no estômago e chorei desoladamente.Tia Carla, você o conhece e sabe do que ele é capaz de fazer para conseguir o que quer, por isso sempre me esforcei para fazer o que ele
queria de mim, como dar aula na cidade, nunca me mudar daqui e até
mesmo usar a minha imagem para apoiá-lo na candidatura a prefeito,
afinal eu era a única professora da cidade e muito respeitada também,
temo que a única razão que o fez querer que eu me tornasse professora foi para que quando pudesse tirar vantagem disso, ele assim o fizesse mas como a senhora sabe ele não conseguiu ser eleito, e sinceramente dei graças a Deus por isso, pois ele já comanda a minha vida sendo apenas meu pai, comandaria muito mais como prefeito da cidade, porém meu pai não ficou satisfeito e nem assumiu a derrota. Decretou inimizade contra o mais novo prefeito e sua família, que além de conseguir se eleger fez uma passeata na cidade no dia da posse, momentos depois de ter recebido a chave da cidade, e fez
questão que a mesma dessa três voltas em frente a nossa casa, achei bem merecido para meu pai, pois, na eleição não jogou limpo e usou
de todas as artimanhas possíveis para que a cidade desacreditasse de
seu oponente e até mesmo inventou calúnias para difamar o filho do
mesmo, era como assistir um carro desgovernado pelas ruas asfaltadas,
sem freio e carregado com imenso ódio.
Na época tentei relevar o comportamento de meu pai e fazer vista grossa pensando que aquele era um caso isolado e que o mesmo só
tinha feito isso pois a cadeira de prefeito era deveras importante para ele. Mas hoje diante dos eventuais acontecimentos percebo que a
maldade sempre esteve impregnada nas suas atitudes.
Mas não o bastante, o prefeito e sua família eram as principais fontes de questionamentos da população local sobre a possível incapacidade de administração de sua empresa e para isso eles usavam o que estava
acontecendo comigo, a minha paixão por Robert, o principal contrabandista da cidade, eu fiquei sem saber o que fazer, não culpava o atual prefeito e os seus, pois sei de muitas artimanhas que meu pai utilizou durante a campanha eleitoral mas odiava ficar no meio dessa rixa.