Garimpo

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Mas para que ele não percebesse que eu estava me sentindo intimidada eu disse no mesmo tom de voz:
- Eu pensei que aqui era o lugar onde contrabandistas vendiam aquilo que vim buscar e não que ficavam brincando de pique-esconde.
Ele me olhou atentamente porém desconfiado, talvez tenha pensado
que eu era uma daquelas pessoas que o podiam obrigá-lo a fugir da cidade por medo que eu o denunciasse as autoridades se não conseguisse o que fui buscar naquela noite. Então ele me disse, de uma forma que eu pude perceber que ele estava tentando saber que tipo de pessoa eu era, através das minhas reações:
- Fala o que você quer, muita gente ainda vai passar por aqui essa
noite, gente que paga muito bem ao contrário de você que nem sei o
que quer pois nunca a vi antes e nem sei se é boa pagadora.
De repente subiu um medo e pensei se teria chance de sobreviver se saísse correndo mas logo percebi que não conseguiria. Não estava com as roupas apropriadas que pudessem me dar vantagem a correr dele e nem conhecia tão bem o bosque como o mesmo, a opção mais viável era permanecer ali e tentar sair o mais ilesa possível. Pensei rápido e
disse:
- Quero duas coisas e definitivamente pago bem, você pode não me conhecer, afinal quem é você, mas eu conheço muito bem o que compro e de quem compro, se continuar com essa atitude eu aviso para os seus parceiros que você anda empacando o negócio deles.
Aí eu pude perceber que ele levou um breve susto mas se recuperou
rápido, talvez tenha aprendido do mesmo conselho que obtive de
Robert, talvez esse conselho seja um tipo de mandamento entre os
fora da lei.
Eu definitivamente não sabia o que poderia ter a venda em um contrabando de uma pequena cidade como essa mas então para que
pudesse passar a imagem de uma compradora antiga que compra sempre a mesma coisa e sabe o que quer e não de uma iniciante que
pergunta o que tem a venda, eu comecei a andar em direção aos
artigos o encarando o tempo todo temendo pela minha vida e querendo descobrir o que tinha a venda que eu pudesse comprar para sair logo dali.
Perto dos artigos tinham outros dois contrabandistas negociando também, então vi que no topo de um saco tinha um espelho de mão pequeno mas com a moldura trabalhada em ouro, era linda e eu definitivamente sabia que era ouro de verdade pela forma que reluzia mesmo na escuridão da noite no bosque com apenas algumas
lamparinas acesas e falei que queria comprar um pequeno espelho em ouro, então o mesmo se dirigiu até aquele saco e só pude ver um pedaço de outro artigo de ouro também mas não consegui perceber o que era, logo me distrai olhando o bosque e o rio esperando que ele me trouxesse o espelho pequeno e pensando em como poderia pagá-lo e se agora já seria um bom momento para a fuga desesperada que passou dois segundos pela minha mente como uma ótima opção, mas vi que era besteira e não conseguiria sair daquela situação dessa
maneira.
Então desesperada e passando a mão pelo meu cabelo como forma de me acalmar para descobrir o que eu poderia dar em troca pelo espelho e também não aparentar que estava aterrorizada, pensando duas vezes se a minha decisão de ir até aquele local tinha sido realmente minha única opção de ver o meu amado, quando nesse momento meu dedos enrascaram no meu cabelo, e tentei desenrascar e achei estranhamente difícil quando não consegui de primeira, então percebi que não era meu dedo que estava enrascado no meu cabelo mas sim o anel que estava nele, fiquei satisfeita por isso ter acontecido e sabia que podia usar isso para dar em troca do espelho pois era algo que ganhei em um de meus aniversários de um parente distante e ninguém se lembraria dele, pensei que daria tudo certo, até o momento que o sujeito veio me entregar o espelho e dei meu anel em troca para
comprá-lo e cruzei os dedos, discretamente, para que o anel tivesse
valor suficiente, e fiquei contente quando o mesmo aceitou a troca,
pronto agora poderia ir embora eu pensei mas.... acontece que me
enganei. Quando o contrabandista fez a seguinte pergunta:
- Qual é a segunda coisa?
Arqueei uma das sobrancelhas para ele, não entendi o que ele queria dizer com aquilo, por dentro eu só queria ir embora o mais rápido possível, então pensei em sair andando e ignorá-lo, pensei que ele não poderia reclamar e se ele viesse atrás de mim e dissesse algo eu o diria que já tinha o que tinha ido buscar ali, parecia um bom plano para mim mas, na verdade, não era.
Eu já tinha começado a me despontar dali quando eu escutei um barulho de algo sendo aberto, olhei para ele e vi que era um canivete aberto, desejei gritar por ajuda, não queria nem podia disfarçar mais, tinha chegado no meu limite, pois o pior podia acontecer, eu podia morrer bem ali e ninguém iria saber, nem Robert nem minha família, com certeza jogariam o meu corpo morto no rio antes que qualquer pessoa pudesse contestar.
O indivíduo, sutilmente na tentativa de me intimidar pegou o instrumento e roçou em sua perna sorrindo debochadamente, queria enfiar aquela faça na perna dele e fugir, até pensei nisso. Mas não conseguiria me livrar dos outros dois que estavam vendendo os artigos mas estavam bem atentos a qualquer movimentação diferente que
pudesse ocorrer, fiquei aterrorizada e desesperada.
Pensei no que poderia ter mais de valioso para dar em troca da tal segunda coisa, e vi na minha mão que ainda havia um anel, o mais valioso que eu tinha, meu pai me deu quando achou que pudesse ganhar a eleição, me disse que a filha do futuro perfeito tinha que ter um diamante em sua mão para que todos vissem no dia da posse e percebessem que antes que ele fizesse parte da vida pública ele já era muito bem de vida como era importante e mesmo quando soube que não tinha ganhado pediu para que eu o continuasse usando até o dia
em que ele de fato se tornasse o prefeito, pois segundo ele isso
aconteceria de um jeito ou de outro. Tia Carla, hoje me lembro dessas
coisas que meu pai planejou e disse e vejo que ele não era tão diferente dos perigosos e foras da lei afinal.
Enquanto, aquele sujeito vinha em minha direção, disse a mim mesma
que meu pai não perceberia o fato de não estar usando mais o anel e mais importante que isso eu não me importava mais se ele percebesse,
eu só queria salvar o amor da minha vida.
Então, rapidamente, arranquei o anel de meu dedo e disse que queria o que ele tivesse de mais valioso e exuberante, com certeza aquele
diamante no anel cobriria o que fosse que ele tivesse, e não deu outra, um anel de tamanho valor o deixara satisfatoriamente com um sorriso de canto de boca. Certamente não parecia o mesmo que havia me
ameaçado há 10 minutos atrás, ah como é a vida, seja no submundo ou
no pedestal, digo isso com muito pesar.

Quando o Sol RaiarOnde histórias criam vida. Descubra agora