Capítulo 5

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O primeiro dia em Gramado possivelmente iria terminar com chave de ouro. Diego conseguiu convencer que todos fossem ao Dreamland Museu de Cera, alegando que essa seria a única forma de "conhecer" seus personagens prediletos que fazem parte de Os Vingadores. Nossos pais disseram que iriam resolver pendências, mas que sob minha supervisão, poderíamos visitar o Museu. Apesar da relutância de Anthony — provavelmente por eu ter sido o motivo de atrapalhar seus planos maquiavélicos —, ele cedeu e partimos ao pôr-do-sol.

O céu estava coberto por uma mixagem de cores, o tornando ainda mais esplêndido. Chamamos por um Uber e cerca de vinte minutos depois uma Chrysler estacionou na frente do Hotel. Os meninos e eu nos aproximamos para confirmar se era realmente o carro que a gente estava esperando.

— Olá, boa noite! Foram vocês que chamaram por um Uber?

— Sim, fomos nós.

Após nos acomodarmos nos bancos de trás, passei a localização para o senhor de aparentemente cinquenta anos, que rapidamente iniciou seu percurso.

As ruas da cidade estavam tomadas por luzes e decorações estonteantes, o que já era de se esperar, levando em conta que durante o ano todo os moradores se empenhavam demais para receber os turistas que vinham de toda parte do Brasil. Quando paramos em um dos semáforos, pude ver do meu lado direito, duas crianças segurando bacias com enfeites decorativos, ao tempo que uma mulher pendurava uma por uma, nos galhos da árvore que roubava o cenário de seu jardim. Em um piscar de olhos duas das bolas de Natal que se encontravam dentro da mesma bacia, saltitaram quando a menina pequena tentou segurá-las com uma mão só.

As bolas correram em direção à avenida repleta de carros. Suspeitei que mesmo debaixo de um destes, a garota ainda tentaria pegar. Com movimentos incalculáveis abri a porta de passageiros e consegui antes dela, capturar as duas bolas que mais pareciam correr uma maratona.

A garotinha estava tão, mas tão envergonhada, que desejei que não continuasse a tentar pronunciar as palavras que tanto queria. Balbuciou pelo menos três vezes até que eu mesma falei em seu lugar.

— Está tudo bem, querida. Volte para a sua mãe. Os carros vão voltar a circular.

A gaúcha aliviou-se pelo seu ato um pouco desengonçado, me agradeceu e correu de volta para sua mãe que já estava à procura da filha. Três minutos depois o semáforo alertou que os carros poderiam avançar, dando continuidade ao trajeto.

Por ser fim de ano a cidade estava ainda mais cheia do que de costume, o que não era de grande incômodo pois a diversidade humana era ainda maior. Chegando em frente ao Museu, contemplei a grama que agora era iluminada pelo luar e por alguns postes próximos ao estabelecimento.

Paguei a corrida e desejei ao senhor do Uber boas festas de fim de ano, não demorando muito para ir atrás dos garotos que estavam eufóricos com o que estivesse por vir.

— Esperem pelo amor de Deus! Não quero ter que denunciar o desaparecimento de nenhum de vocês.

— Você anda muito devagar. — Anthony respondeu, revirando os olhos.

— Alguém tinha de pagar o carro, não é mesmo?

— Tanto faz. Vamos.

Paramos para comprar as entradas que de acordo com o vendedor de ingressos, estavam quase esgotando. Quase dei pra trás quando ele falou o valor a pagar pelos três. Porém não me arrependi quando entramos. Poderia fingir um papo bastante realista com Os Beatles, Michael Jackson, personagens de filmes como a Mulher Gato, entre outros que também eram bastante admirados. Ao lado dos personagens que compõe Os Vingadores havia uma representação em cera de alguém que eu nunca ouvi falar antes dentro do meio artístico.

Me aproximei para ler na placa de ouro forjado o seu nome que dizia Capitão Jack Sparrow. Nunca escutei a menção desse nome antes, mas com certeza não fazia parte do cenário musical, já que seus trajes apresentavam a típica roupa de um pirata. Quando estava prestes a prosseguir, escutei um ronco tão forte que me fez virar em busca do ruído. Olhei para todos os lados a procura de onde vinha, mas nada explicava o som repentino.

De novo, escutei.

E dessa vez sabia de onde estava vindo.

— Não faça escândalo, não é tão anormal assim.

O pirata tentava não esboçar nenhum semblante para não estragar seu disfarce.

— Estou tendo alucinações ou realmente tem uma obra do Museu se dirigindo a mim? — O estranho não respondeu, até notar a aproximação de uma família. 

— Incrível essa representação, não é? Parece tão real.

— Realmente, o trabalho que fizeram nesse personagem ficou fantástico. Tão real que se eu beliscar, a cera não vai sair na minha mão. — Antes que pronunciassem as próximas palavras, mostrei para o casal de mulheres e para as três crianças, como beliscar uma arte em exposição. O desconhecido permaneceu intacto, como se estivesse acostumado com aquilo todos os dias. Falhei miseravelmente, e daria um jeito de sair dali o quanto antes.

— A gente realmente não esperava que fosse desmanchar ou algo assim. — Riram baixo em uníssino — Pode tirar uma foto nossa com o Capitão Jack?

— Ah, mas é claro!

Ultrapassando a quantidade que haviam pedido, bati uma série de fotos provenientes das repentinas distrações da garotada. No último click, o garotinho comentou para uma das moças ter escutado um ronco estranho enquanto estavam parados sendo fotografados. Segurei o meu riso entre os dentes, até ouvir o seguinte comentário e notar que entenderam tudo errado.

— A menina deve estar morrendo de fome.

Pensando que não escutei, a mulher virou-se para mim e me perguntou se eu queria os acompanhar para jantar. Recusei o pedido, nitidamente envergonhada pelo mal entendido. Esperei que estivessem longe o suficiente para que eu pudesse pedir explicações ao suposto Capitão Jack, sem parecer estranha demais.

— Dá pra você, seja lá quem for, me explicar o que aconteceu aqui? 

Admirador de JadeOnde histórias criam vida. Descubra agora