Capítulo 2

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Um mês antes das férias de Dezembro, eu e minha família nos encontrávamos na Cafeteria Attraits, programando como seria a nossa viagem, dos pontos desconhecidos até os mais visitados na cidade de Gramado. Como nossos avós paternos moravam lá e a casa deles era exageradamente grande, nos instalaríamos por lá até o fim da viagem, coisa que eu não sabia se seria bom ou ruim. O papai era muito mimado pelos pais, e se deixava levar pelos caprichos que os meus avós faziam, acabando por refletir na minha mãe, que durante o ano não desfrutava muito da presença do marido por conta de ambas carreiras profissionais.

Fui tirada dos meus pensamentos quando senti no paladar antes mesmo de experimentar o nosso café da manhã. O aroma tomava todo o ambiente, e eu me lembro como se fosse hoje. O primeiro prato a ser colocado na mesa foi o do Diego, que havia pedido panquecas e cappuccino, sendo seguido de uma tigelinha de frutas. Anthony pediu o mesmo, e logo me vi querendo os pratos dos meus irmãos. Minha mãe pediu donuts com vitamina de banana (o que obviamente era uma combinação um tanto quanto estranha), enquanto meu pai ficou no bolo vegano de cenoura e um suco verde para acompanhar. Particularmente, a nossa mesa parecia a própria vitrine da cafeteria! Era tanta variedade de sabores e pratos que se por muito tempo olhando, me deixaria louca. Enquanto eu desfrutava de minha crepioca, nossos pais cochichavam algo sobre a viagem que me tomou logo a atenção.

— Ele é louco? Uma casa daquele tamanho e ele cobrou só isso?

— Também estranhei, querida. Eu estava pesquisando sobre ele, perguntando a clientes e tudo mais, e pelo o que me contaram ele vai vender por tão baixo preço porque não terminou o quintal. E o quintal realmente era pra ser a parte mais encantadora da casa, já que vamos realizar nossas reuniões lá. Respondeu meu pai, sem poder continuar, pois intervi.

— Como assim nossas reuniões lá? Lá aonde? Quintal de quê? Como assim?

— Não era pra você estar se entretendo com os meninos? Você é a mais velha mas não significa que não pode ter os mesmo papos que eles.

—Não tenho experiências amorosas com mulheres, porque é nítido que eles só sabem falar sobre isso, sem contar que... Ah, para!  Não muda de assunto, mãe. Do que vocês estavam falando?

— A gente pretendia contar mais pra frente, para não assustar vocês. Só que você é curiosa demais, realmente não tem como esconder tão fácil assim.

— Nós iremos nos mudar nessas férias. Começar uma vida em Gramado. Logo após essa fala do papai, os meninos notaram que havia uma conversa estranha acontecendo ali.

Diego e Anthony, que até então falavam maliciosamente de garotas, nos olharam em união, depois suas expressões mudaram para o espanto enquanto engoliam o que lhes limitavam a fala, e protestaram contra esse anúncio repentino.

— Que diabos dois garotos de quinze e dezesseis anos estarão perdendo aqui?

— Ué, Jade... mulheres!

— Deixa eu contar pra vocês algo surpreendente que eu aposto que vocês não sabem: Lá também existem meninas. Ou, sei lá, mulheres como vocês preferirem nomear. Ri debochada, mas não sabia se pela inteligência dos dois ou por se dirigirem a meninas mais novas que eles, como mulheres. Eles reviraram os olhos e optaram por retornar ao assunto anterior em vez de debater.

— Então significa que está tudo bem pra você, querida? Nós sabemos o quanto gosta do colégio, que pretendia começar um emprego agora, das amizades e dos namoricos que você dizia ser apenas amizade...

— PAI!

— Tudo bem, tudo bem. O que eu quero saber é se realmente você está tranquila.

Meu pai me olhou com aqueles olhos, do jeito que ele sempre fazia quando queria me convencer de alguma coisa. Os seus olhos além de serem especiais por serem de cor âmbar, exalavam um brilho inexplicável. O papai aos quarenta e dois anos era um homem realmente muito atraente e por sua semelhança com os meninos, parecia até ser um irmão. Por mais que eu realmente estivesse um pouco surpresa com a revelação, eu não poderia deixar que eles se limitassem de algo por minha causa. Comecei naquele exato momento ter flashblacks dos momentos que passei aqui com o meu pessoal... mas nada, nada, me faria recuar quando fosse pela felicidade deles.

Então o olhei, recebendo seus olhos convidativos em minha direção em aguardo de uma resposta, quando animadamente os respondi:

— Quando iremos nos mudar?

Pouco antes das doze da tarde, resolvemos ir para casa e planejar uma festa de despedida com alguns de nossos amigos mais íntimos e alguns familiares próximos que não pretendiam por nada sair de Curitiba. A mamãe ficou responsável pelos aperitivos, meu pai se responsabilizou por fazer a lista de decoração, os garotos ficaram com a playlist e eu tratei de fazer o convite direto com cada pessoa que chamaríamos. 

Parecia grandioso enquanto resolvíamos como iria ser tudo, mas não era pra tanto assim. A real é que sempre fomos muito organizados e acabava por parecer tudo muito mais do que realmente era. Faltavam cerca de duas semanas para a viagem — que não é mais viagem e sim mudança de vida —, então sugeri que a festa fosse feita cinco dias antes para nos dar tempo de arrumar tudo e preparar a casa para quem fosse se interessar por alugar. 

Admirador de JadeOnde histórias criam vida. Descubra agora