O Curandeiro

113 19 52
                                    

Estava tudo escuro, a única coisa que ele podia ouvir eram as vozes de duas crianças conversando.

- Será que ele tá morto?

- Claro que não! Olha! Acho que dessa vez ele acorda.

- Já é a quinta vez que você fala isso.

- Mas desta vez é sério... Olha!

Ao abrir os olhos a primeira coisa que Seth viu era o teto laranja do quarto, ele estava deitado em uma cama e ao tentar se mexer percebeu que seus braços e pernas estavam amarrados a ela.

- Saiam logo daí! – Uma voz grossa surgiu. – Eu já falei pra vocês não ficarem aqui.

Seth olhou para o lado, duas crianças de cabelo laranja saíam correndo pela porta. Um homem trazia uma bandeja com alguns itens, uma tigela, um copo e algumas folhas.

Ele tinha barba e cabelos ruivos e usava roupas feitas com panos leves e amarelados, ele era forte e tinha cicatrizes em seus braços.

- Onde estou?

- Em minha casa garoto, a vila de Valfor, no Deserto de Mortrahz.

- E onde fica isso?

- Bem... – O homem franziu a testa. - Acho que a pancada foi bem forte. – O homem pegou a tigela, jogou algumas plantas e começou a moer. – Meu nome é Rakar, sou o curandeiro da vila. Você se lembra do seu nome?

- Meu nome é Seth.

- E sabe me dizer de onde você é... Seth?

Ele por um momento pensou em responder, mas a cidadela poderia nem mesmo existir mais. A cidadela era uma grande torre, com 20 cidades uma em cima da outra; o projeto das Metrópoles torre havia sido criado pelos antigos da Era Perdida. Mas aquilo não importava mais, mesmo que ele explicasse o que era a Cidadela, aquele homem não entenderia, mesmo assim, Seth resolver tentar.

- Eu sou da Cidadela...

Rakar olhou para ele, levantou as sobrancelhas, e voltou a amassar as plantas. Aquela reação fazia Seth se perguntar o que ele estava pensando.
Quando o curandeiro terminou de amassar a mistura, colocou a pasta verde em um copo, despejou algo que parecia ser água e misturou mais um pouco.

- Toma, vai precisar disso para evitar infecções.

- O que aconteceu? – Seth falou ao perceber que sua cabeça estava enfaixada.

- Minha filha te encontrou desmaiado no meio do deserto, com essas roupas estranhas e esse machucado na cabeça.
- Ele já acordou? – Uma voz familiar surgiu enquanto a porta de madeira abria.

- Sim... Essa aqui é a minha filha... Lifia.

De início Seth não a reconheceu, mas assim que viu o machado de antes, entendeu q era a mesma garota que tinha acertado ele em cheio mais cedo.

- Ah eu... – Antes que ele terminasse a frase, Lifia arregalou os olhos e, aproveitando que Rakar não estava olhando, colocou o dedo na boca para implorar o silencio de Seth. – Eu agradeceria se não estivesse preso.

- É para nossa segurança, não sabemos quem você é, então nos instruíram a te manter assim até que Sarin chegasse. – Rakar falava calmamente enquanto Lifia balançava a cabeça, concordando com as palavras do pai.

De repente Rakar se levantou e cochichou algo no ouvido de Lifia. Ele seguiu para fora da sala. Ao ver que o pai tinha saído, a garota foi até um armário e puxou algo de cima dele.

- Isso aqui é seu? – Lifia segurava a mochila do garoto.

- Sim! - Ele respondeu. A garota sorriu e foi até a porta, abriu lentamente, olhou para ver se havia alguém por perto e voltou. - Tá... Porque você me desmaiou?

- Você tava armado... Eu fiz isso pra me proteger.

- Mas eu nem tinha sacado a espada.

- E você acha que eu ia deixar você fazer isso? - Eles se encararam por um momento e ela sorriu de novo, pegando algo que estava dentro da mochila.

- E onde minha catana tá?

- Eu tive que entregar ao meu pai, aliás. – Ela abriu a mochila. – Esse tipo de bolsa com bolsos menores é bem versátil.

- Não mexe aí...

- E quem vai me impedir? – A garota sorria enquanto tirava uma caixinha de dentro da mochila. – O que é isso?

- São... São remédios. – Ele gaguejou ao lembrar das tais "Vidas extras" que Thaniels tinha dado a ele.

A garota abriu e tirou uma pílula vermelha de dentro da caixa.

- Meu pai é curandeiro... Nunca vi um tipo de remédio assim, parece um rubi. – Os olhos da garota brilhavam ao olhar as pílulas. – Será que tem um gosto bom?... – A jovem sorria e olhava para ele enquanto jogava a pílula na boca.

- NÃO... – Seth gritou.

- Humm... Por que você não quer que eu coma isso?... É gostoso! – Ela falava enquanto mascava a pílula.

- Eu só tenho 8 dessas agora...

- É porquê você tem poucas?... Então eu vou deixar as outras pra você... Mas... Não seja tão egoísta assim... é falta de educação não dividir as coisas boas da vida. - Ela falava enquanto se sentava na beira da cama e olhava ele de cima a baixo.

- Você não vai entender se eu tentar explicar... – Murmurou o garoto encarando-a, ele sentia que seu rosto estava vermelho, mas tentava fazer parecer ser raiva e não vergonha. Ela sorria para ele, o que o deixava ainda mais desconfortável.

- Vamos direto ao ponto... - Ela puxou o papel com a bussola desenhada da mochila. - Você consegue ler isso?

- Sim.

- Ok, você sabe ler... E isso? - Ela olhava a bussola enquanto girava o papel. - Isso aponta pra uma direção, mas não é o Norte, foi você quem fez isso?

- Não... Foi um amigo meu.

- Então você conhece um mago? Para onde a bussula aponta, pra ele?

De repente, os dois ouviram que alguém estava se aproximando. Lifia jogou rapidamente a mochila para baixo da cama.

- Ele está nesse quarto? – Uma voz grossa veio de traz da porta.

- Sim... Ele não parece hostil e parece estar bem de saúde, o ferimento da pancada está se curando mais rápido do que o normal. – Rakar falou enquanto abria a porta.

- Isso é bom... – Um homem grande e forte entrou na sala acompanhado por Rakar; tinha pele negra e cabeça raspada, usava brincos e um piercing no nariz. O homem olhou para Seth com um olhar imponente. – Garoto... Seth... Meu nome é Sarin, nós vamos te soltar já que o chefe da vila quer falar com você. Saiba que se você tentar qualquer coisa... Eu quebro a sua cara... Entendeu?

Seth fez que sim com a cabeça, enquanto engolia saliva.

- Precisa ameaçar assim Sarin? – Lifia perguntou.

- Precisa... – Sarin se virou revelando um machado de batalha em suas costas, com o cabo feito com um osso grande amarrado a duas lâminas curvadas feitas com o que parecia ser cobre. – Soltem ele. – Rakar e Lifia libertaram o garoto, eles o levantaram e amarraram as mãos. – Vamos garoto, Nilrik está esperando por você.

Pyron V0Onde histórias criam vida. Descubra agora