Capítulo 8

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O Edu teve que viajar para uma filial da loja, fiquei em casa, sendo assim o Rodrigo foi pro quarto dele e voltei a ficar sozinha no meu, enquanto ia pra empresa, verificava as situações que o Edu me pedia pelo whatsapp em meio a piadinhas e fotos de duplo sentido e o Rodrigo procurava uma casa pra alugar.

Como tivemos bastante tempo para conversar, ele me contou que trabalhava pro exército, não chegou a ir em nenhuma guerra, apenas em missões de paz na África, o que de certa forma é uma guerra também, mas uma que ninguém se importa, dizia que ouvia os pedidos de socorro pelo rádio, mas não podiam fazer muita coisa, apenas "o que era mandado" ele podia ser um sargento, mas em lugar que tinha patentes mais altas ele não apitava em nada. Conseguiu se aposentar relativamente jovem, agora quis vir morar mais próximo da família e fazer alguma coisa que lhe agradasse, ele não é o tipo de pessoa que fica quieta num sofá em um domingo a tarde bebendo cerveja e comendo salame, ele é do tipo que em um domingo à tarde só pq está entediado vira a casa de cabeça para baixo fazendo faxina.

Acho que para quebrar a rotina de anos deixava a barba crescer, mas quando eu começava a me acostumar ele raspava tudo "pq coça" ficava horas na academia "pra ter o que fazer" gente, dá preguiça só de ver a disposição dele, enquanto eu só pedia arrego e cama o homem parecia ligado no 220 w. Enfim, depois de uma semana o Edu voltou e o Rodrigo ainda não tinha arrumado uma casa, ele disse que jamais dormiria com o Edu pq ele era muito barulhento dormindo – gente meu sono é tão pesado assim? Nunca ouvi nada naqueles dias que ficamos em casa – e que preferia o sofá, eu ofereci o colchão do meu quarto, vivíamos na mesma casa a uns dias, eu era visita também, é desconfortável? Com certeza, mas o mínimo era oferecer né?

E sim ele aceitou, vi uma sombra de sorriso no rosto dele, mas por hora vou fingir que não vi, não quero criar ilusões e histórias da carochinha na minha cabecinha pq sempre invento e tiro coisas que não existem e me lasco toda depois por não acontecer....

O tempo foi passando, o Rodrigo ainda não achou nenhuma casa, ele e o Edu estão com alguma coisa, vivem conversando, mas quando eu chego perto silencio total.... Todos os dias quando acordo fico com a sensação de ser observada, mas o Rodrigo está sempre dormindo ou nem está em casa quando acordo, vou aproveitar o feriadão da semana santa e vou para a casa dos meus pais.

Consegui escapar e fui pro interior, passei os dias enfurnada na casa dos pais, acho que devo ter engordado horrores – alguém me explica pq quando mãe quer agradar faz rango gostoso? Porra, lasanha, estrogonofe, churrasco (esse é especialidade do papis), sem falar nos doces hummmm – curti aquele fim de semana tipicamente podre em família, assistindo filme velho na tv, comendo e dormindo, quando fui embora deu uma vontade de ficar, mas dessa vez eu estava voltando pra um lugar onde gosto de estar.

Quando chego em casa descubro que o Rodrigo já tinha alugado um apartamento perto de casa, aproveitou o fim de semana pra montar tudo e se mudar, confesso que passei a sentir falta dele, de conversar antes de dormir, passei a chama-lo no whats só pra ter esse pequeno prazer de volta, no fim de semana o Edu resolveu dar outra festa daquelas e eu? Pedi abrigo no apartamento do Rodrigo, não tenho condições psicológicas pra outra daquelas, então deixei meu quarto trancado e fui pra casa dele passar o fim de semana inteiro – não queria lidar com aquele cheiro de vomito novamente, só voltaria depois que ele já tivesse limpado tudo.

Foi engraçado, era um lugar estranho, móveis estranhos, não sabia onde ficava nada, mas me sentia totalmente em casa, a sensação é de nos conhecermos a anos e não apenas uns pares de meses, funcionávamos bem, cozinhamos juntos, ele se preocupava com a carne enquanto eu fazia a salada, montava a mesa enquanto eu estava refogando arroz, ficávamos rindo, brincando, apesar de ser tão durão ele é extremamente engraçado, na tarde do sábado ficamos assistindo filmes, ele prefere os de terror, pedi encarecidamente pra trocarmos – sim, sou medrosa, pode chamar do que quiser, mas não assisto de jeito nenhum – aceitei de bom grado um filme de super herói, não acho tanta graça mas melhor que sonhar com o Jason ou o Fred Krueger, a noite pedimos uma pizza e ficamos conversando deitados no sofá cama dele, acho que adormeci e ele também, acordei com meu celular apitando durante a madrugada, era um vizinho brigando comigo de novo pelo barulho da festa as duas da manhã, expliquei que não estava em casa mas que iria pra lá. Pedi pro Rodrigo me levar, fomos na moto dele, chegamos quase junto de uma viatura da PM, eles procuravam pelo dono da casa, fomos falar com eles, pedimos uns minutinhos que iríamos acabar com a festa, não era a primeira vez que eles iam lá, o Edu era famoso por essas festas, o Rodrigo me mandou ficar ao lado da viatura e foi lá dentro soltar as broncas, eu praticamente me escondi atrás do policial maior, depois que todo mundo aparentemente foi embora entrei na casa, se na outra vez foi um tsunami, nem sei nomear desta, o Edu estava tão bêbado que mal nos reconheceu, colocamos ele pra dormir, o André chegou depois e ficou com ele, trancamos a casa e fomos embora, vim pensando no caminho pra casa do Rodrigo

- Rodrigo, acho que vou sair da casa do Edu, voltar a morar sozinha

- Mas pq isso agora?

- É que... sinto estar incomodando, sei que eles pensam em morar juntos, hoje que teve aquela festa tive que sair de lá e pedir abrigo aqui, acho que consigo me virar sozinha como fazia antes, o aluguel aqui é mais caro, mas posso procurar um lugar mais barato e ainda tenho guardado alguns móveis...

- Acho que sei o que quer dizer, você já morou sozinha né? Quer sua independência de volta, já percebi que você se sente uma hospede lá, eu abusei um pouco aceitando ficar no seu quarto, mas sei que só ofereceu pq além de ser bondosa se via uma estranha lá também

- Mais ou menos isso mesmo

- E se eu te fizer uma proposta?

- Qual?

- Sou aposentado e não rico, e se eu te alugar um quarto aqui, o de hospedes é enorme e está vazio, você coloca suas coisas lá, o resto dividimos, será que assim você se sentiria melhor?

- Não sei, eu já ajudo o Edu com as contas, não é a mesma coisa

- Entendo – ele ficou triste? – mas faz assim, pensa sem pressa... agora acho que vou dormir, boa noite

Não entendi muito essa parte, mas enfim, me arrumei no sofá cama dele, tinha arrumado com lençóis antes do filme, não conseguia dormir, a imagem dele me parecia triste na memória, a luz do quarto acesa, mas ele estava com sono, precisei ir ao banheiro aproveitei e passei pelo quarto dele, já eram quase 4 da manhã, abri um pouco a porta, ele já estava dormindo, sua feição continuava triste como na minha mente, apaguei a luz e fui dormir.

Acordei no domingo quase uma da tarde, o Rodrigo estava estranho, aparentemente mais seco, fiquei chateada, o que aconteceu? Ele já havia almoçado o resto da pizza e foi dormir, em todos os meses que ficamos juntos ele nunca dormiu depois do almoço, comi alguma coisa, não iria fazer só pra mim né, mas resolvi fazer um bolo de cenoura pra mais tarde, eu só iria voltar a noite pra casa mesmo. Nem com o barulho do liquidificador ele acordou, ou fingiu, não sei, por fim, nessa agonia toda de não entender nada – sim, sou neurótica mesmo – invadi o quarto dele e fiquei ao seu lado, sentei na cama e sem perceber comecei a fazer carinho nele, comecei pelo braço, bochechas e parei nos cabelos, fazendo um cafuné.

Imprevisível destinoOnde histórias criam vida. Descubra agora