fall twenty-four steps

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Estava tão frio naquela manhã que Jooheon havia decidido tomar um longo banho quente, mas ainda não se sentia bem o suficiente para se quer descer as escadas de casa. Mesmo sozinho ele ainda sentia medo de encarar outras faces o observando.

Observou meu braço direito atentamente enquanto a água quente molhava seu cabelo, e caía sob seus olhos. Se assustou por um momento olhando para a água indo para o ralo num tom vermelho, até lembrar-se que eram só os restos de tinta vermelha em seu cabelo.

Seus cortes ainda estavam avermelhados e quando tocados, coçavam. Jooheon se arrependeu de fazê-los tão rasos, pois sua pele ficava mais irritada do que sangrava. Pensou se demoraria ou seria muito angustiante morrer assim.

Saiu do chuveiro tremendo devido ao inverno pelo qual passava na cidade. Se enrolou no roupão felpudo branco — que originalmente deveria ser de seu pai, mas ele não gostava muito disso e o deu como resto para o filho.

Se encarou no chuveiro. O cabelo molhados caindo sobre seus olhos, os lábios entreabertos e a pele com transparência devido a temperatura: tudo isso o fez questionar se era necessário mesmo estar ali.

Jooheon lembrou-se mais uma vez do seu erro do passado. Se olhando no espelho, indagou mentalmente se seus pais chorariam no seu enterro — afinal eles choraram, e muito, no enterro do seu irmão ainda bebê anos atrás.

Sabia que nem ao menos Changkyun iria comparecer na cerimônia. Eles nunca haviam sido amigos de verdade, que contam segredos ou sentimentos, que se ajudam nos períodos de necessidade ou dizem um para o outro que se amam. Era uma amizade de aparências necessária, pois Jooheon não poderia ser um badboy sem ter amigos.

Na verdade gostava de chamar essas pessoas de contatos. Quando precisavam de favores se chamavam, iam juntos as festas por aparência ou status, se divertiam sem preocupações ou deveres de cuidar um dos outros. Jooheon achava aquilo desprezível — mas precisava para seus objetivos.

Ainda de roupão, mas com meias e pantufas nos pés, Lee Jooheon parou em frente ao primeiro degrau. Eram cerca de vinte e quatro degraus. Desejou ser bom em física para calcular a velocidade que demoraria para descer rolando todos eles. E desejou ainda mais ter conhecimentos de medicina para saber se morreria na queda ou ficaria com fraturas.

Desceu todos eles segurando no corrimão, pois era covarde e não tinha coragem de fazer aquilo, ainda. Entrou na cozinha esfregando os olhos, não queria chorar mais uma vez pois seus olhos já ardiam. Abriu a geladeira e observou todo aquele alimento, não tinha vontade de se nutrir pois isso o manteria vivo.

"Fomos visitar o tio Hyunjoo, voltamos em dois dias. Tem macarrão instantâneo nos armários."

Jooheon deu uma pequena risadinha enquanto jogava o bilhetinho em folha amarela, que estava colado na geladeira, no lixo. Seus pais faziam isso com frequência: iam viajar por alguns dias sem avisar e deixavam somente comida pronta para o filho. Jooheon tentava não ligar, mas cada vez mais que aquilo acontecia, mais uma pequena rachadura aparecia em seu coração surrado.

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Minhyuk olhou para as casa em volta para ter certeza se era aquela mesmo. Apenas tinha lembranças de vê-la na noite anterior, e estava escuro. Mas aquelas paredes cinzentas e as janelas brancas pareciam únicas por ali.

Trancou o carro e guardou as chaves no bolso. Quando suspirou viu a pequena fumaça de frio escapando por entre seus lábios, o inverno estava se tornando mais rigoroso. Haviam folhas secas caídas na calçada e todas as luzes da casa pareciam estar apagadas.

Minhyuk sentiu vontade de dar meia volta e ir para casa almoçar com seus pais. Havia mentido para eles dizendo que iria almoçar com Kihyun depois do colégio, mas na verdade estava ali em frente a casa de um cara ingrato que ele só queria ajudar.

Desde pequeno as pessoas diziam que ele era sensível e também mais capaz do que os outros de sentir os sentimentos que emanavam das pessoas. Minhyuk não entendia muito bem dessas coisas de aura e alma, mas sabia que tinha talento para analisar isso nas pessoas.

Parou em frente aquela porta branca de maçanetas prateadas. Leu os pequenos números dourados pregados na porta: 94, a casa de Lee Jooheon. Bateu duas vezes contra ela, com muito esforço misturado ao medo de ser enxotado de novo.

Demorou um pouco até ouvir o barulho da chave girando na tranca da porta e a abrindo lentamente, com um ruído assustador. Jooheon bateu seus olhos cansados nos do dele e estremeceu. Ele vestia um roupão e meias pretas nos pés, junto a uma pantufa simples cor caqui. Os cabelos dele estavam úmidos e o deixavam com o olhar ainda mais sombrio.

Seu braço direito segurava a porta aberta. Minhyuk o seguiu com os olhos, a manga estava lentamente escorregando para baixo revelando o nu antebraço de Jooheon. O visitante arregalou os olhos ao perceber alguns risco avermelhados ali, e Jooheon ao notar que Minhyuk estava olhando logo abaixou seu braço e o cobriu de volta com a manga do roupão.

— O que você está fazendo aqui? — Jooheon disse com um pouco de dificuldade, parecia ser as primeiras palavras que ele dizia em voz alta naquele dia.

—  Por que você faltou hoje? — Minhyuk disse após engolir em seco, tomando coragem.

— Você veio até a minha casa para saber o motivo de eu ter simplesmente faltado no colégio? — Jooheon dizia em deboche, junto a um curto suspiro — Eu poderia simplesmente só estar gripado, hoje está bem frio.

— E você está?  — Minhyuk perguntou e pode perceber que o outro havia trancado a respiração — Está doente, Jooheon?

— Talvez — Jooheon disse baixo, quase inaudível. Ele estava doente, não fisicamente mas mentalmente e sentia não ter salvação.

Minhyuk sorriu de canto e tirou os sapatos, tendo um olhar de surpresa sobre si.  O olhou de volta como quem queria dizer "não vai me convidar para entrar?". Quando Jooheon revirou os olhos e finalmente o deu passagem, Minhyuk observou sua casa.

Anotou mentalmente como aquele lugar era gelado e silencioso. Até as paredes tinham tons pastéis frios, tirando toda a vida que deveria haver na casa de um adolescente. E perceber isso, lhe deu uma dica sobre Jooheon. 

  

i wanna die | joohyukOnde histórias criam vida. Descubra agora