• This Is Me •

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Aberrações. Essa é a melhor palavra que os da alta sociedade têm para nos descrever. Somos o total desvio do que é considerado padrão nesta sociedade. Excluídos e marginalizados por cada um deles apenas por sermos diferentes. Mas temos um ao outro. Diria que somos peculiares, únicos. Melhor ser diferente do que igual a eles. Somos uma família graças ao Sr. Phineas. Fomos todos selecionados e recrutados para fazer parte do seu espetáculo, que, agora, chamam de "circo". Palavra deveras peculiar para simbolizar um seleto grupo de pessoas peculiares. Palavra deveras apropriada. Enquanto muitos deles giram às noitadas pelos salões com suas músicas clássicas e banquetes abarrotados, cada um de nós compõe a atração principal de uma "celebração de horrores". Imagine as piores características que quiser, todas nos são aplicadas por aqueles que insistem dizer que são melhores que nós.

Eu já estive em um salão antes, já vi suas roupas pomposas, vestidos esvoaçantes perfeitamente costurados, ternos caríssimos, pessoas dançando durante horas para, depois, arranjarem um casamento sem um pingo de amor verdadeiro. Sim, eu vi a tudo isso. Vi enquanto os servia. Enchia-os com suas bebidas entorpecentes enquanto eles riam baixinho da minha condição inferior. Via-os chegando em suas carruagens magníficas, eu que os recepcionava.

Após a morte de meus pais, papai na guerra e mamãe por peste, eu e Gustin tivemos de nos criar sozinhos e não possuímos aquisição econômica para isso. Tudo - que já não era muito, apenas o suficiente para sobreviver - nos foi tirado sem dó, nada nos sobrou. Necessitávamos, então, trabalhar dia e noite para, pelo menos, termos o que comer antes de encostarmos a cabeça em alguma aresta de uma viela qualquer.

Sr. Phineas mudou tudo. Deu-nos casa, alimento, esperança de um futuro melhor e uma nova família. Ainda assim, somos insignificantes para o restante. Nossa alegria está naqueles poucos que se regozijam com nossas apresentações no picadeiro. Aqueles que, genuinamente, apreciam nosso trabalho.

Alguns dias são melhores que os outros. Nem sempre vendemos uma boa quantia de bilhetes, nem sempre o público é amigável, nem sempre nos sentimos seguros em sair do cortiço... Eles nos humilham, olham-nos com ódio pulsando em cada veia, sentem repulsa.

Somos meros artistas, o mundo é nosso palco e cada um que está ao nosso redor é a plateia. Não buscamos por aplausos, apenas queremos sorrisos e que eles sejam sinceros. Nossa vida é simples, vivemos de forma modesta, mas somos os cidadãos mais felizes desta cidade. Os outros têm toda a ostentação e luxo aos pés, dizem que devemos nos esconder, ter vergonha das nossas diferenças, esfaqueiam-nos com suas palavras afiadas, mas nós somos guerreiros. Sabemos que temos um lugar onde somos gloriosos, sabemos que merecemos o amor de cada um deles, somos bravos, somos exatamente o que deveríamos ser, esses somos nós, essa sou eu. Amy Wheeler.

Recordo-me bem do último baile em que fui chamada para servi-los. Por baixo daquela máscara prata estava Jung Hoseok, seus olhos dançavam pelo salão juntamente com seus pés e sua acompanhante. No momento em que fiquei em seu campo de visão, encontramo-nos com o olhar, mesmo eu estando do outro lado da sala. A dança, que um vez já era lenta, tornou-se como uma fenda no tempo, tudo parou por uma fração de segundo. A família Jung é poderosa, conhecem todos os influentes políticos do país, sempre estão tendo jantares com a Rainha, são proprietários dos melhores navios da região e são os anfitriões da festa de hoje, a qual fui chamada a trabalho. Ponha-se no seu lugar, Amy, a criadagem não tem espaço e é isso o que você é e sempre será. Não se esqueça. Cri-a-da-gem! Repita até aceitar. Se ele estava a me olhar, deveria ser de repulsa como qualquer outro. Jung Hoseok é um dos melhores atores da América.

Ter sido olhada e ter sentido aquilo que eu senti fora lamentável. Tê-lo olhado e criado uma mínima expectativa dentro de mim fora um tremendo erro! Os Jung sempre são o centro das atenções em todos os bailes, eles são os "reis do show", eu sou uma empregada sem valor, miserável, insignificante, sou apenas Amy Wheeler. Devo repetir até aceitar esse fato. Mas, continuar a guardar aquele momento na minha mente é um segredo que eu tento esconder...

— Amy Wheeler, o que estais fazendo parada aqui? Faças o favor de servir as taças. Estais vendo ali o filho da Sra. Jung? — a música tinha acabado de terminar e as pessoas estavam dirigindo-se para suas mesas. — Sirva-o e a sua futura noiva também. Agora! Não fazes nada de útil e queres ser paga por isso? És uma imprestável mesmo.

— Perdoe-me, senhora. Estou indo agora! — Noiva? Será que era disto que se tratava o baile, então? O anúncio de mais uma união hipócrita?

— Criada, faças o favor de abaixar mais a bandeja da próxima vez que vieres me servir, estás me entendendo? — Chloe Bolton, a acompanhante e tal "futura noiva" de Jung Hoseok cuspiu suas palavras ríspidas em minha face com seu perfume europeu, maquiagem e vestido majestosos. — Consegues fazer algo tão simples de forma errada...

— Perdoem-me... — olhei para o chão para não parecer desrespeitosa e, após ambos pegarem suas taças, dirigi-me de volta para a cozinha.

Desde então, nunca mais o vi em nenhum outro grande evento, não soube se ele, de fato, está noivo...

A vida no circo é totalmente refrescante. Sinto-me tão especial. Ser parte de algo especial torna-te especial.

— My, tua performance não está muito arriscada, não? — Apollo diz.

— Não te preocupes, ainda possuo mais 2 dias de ensaio, ficarei bem, Apollo. Mas não ouses piscar, se eu cair e tu não me segurares, pagarás pelo meu curativo! — ele olha para cima onde meus instrumentos da apresentação estão preparados.

— Apenas o curativo? Que Ele te livres de algo pior, minha cara amiga! Olhe esta altura! Até hoje penso que és a mais corajosa entre todos nós. Arrepio-me só de me imaginar balançando em tais aparatos.

— Muita gentileza de tua parte, meu amigo. — sorrimos juntos.

— Meus trapezistas estão prontos? — Sr. Phineas falou de algum lugar que não conseguimos ver, mas sua voz veio direto para o picadeiro.

— Sim, senhor. My, vamos? — meu irmão estica a mão para mim antes de eu ser içada. Apollo fica a postos no local marcado.

Há um movimento diferente que estou treinando para a nossa próxima apresentação inédita, só que eu continuo caindo no momento em que devo me segurar nos braços de meu irmão.

Enquanto estou no ar, enquanto me apresento acima de todos, sinto-me digna dos aplausos e do apreço de cada um deles. É uma sensação que me provoca tamanho êxtase, cada giro milimetricamente calculado transforma-se em um calafrio. Abre-se um espaço no tempo, ele parece não passar ao mesmo tempo que passa mais depressa. Sinto como se estivesse correndo na areia da praia com a brisa acariciando meu rosto, o vento bagunçando meu cabelo. Tudo é tão cheio de significado. Só que no momento em que caio, sinto que tudo, que uma vez achei ser possível, é impossível, sinto o vazio no peito. A descida é cheia de velocidade e meu coração se aperta em poucos segundos antes de ser amparada pelos braços de Apollo.

Mais uma vez, encontro-me no clímax. A corda vai para frente. Pego impulso. A corda vai para trás. Inclino-me para pegar mais impulso antes de segurar a mão de Gustin. Jung Hoseok. Uma fenda no tempo. Nossos olhos novamente se encontram. Toda a velocidade do impulso tornou-se mais lenta que o nascer do sol. Prendo a respiração. Tudo ficou lento. Fui puxada de volta. A corda voltou para trás. A realidade me chamando sutilmente. Outra queda. Calafrio. Coração descompassado. Agitação dentro de mim. Contínua insegurança do grande espaço existente entre o meu corpo e o chão. Apollo segura-me. Falhei novamente!

O que ele faz aqui?

— Desse jeito, ainda achas mesmo que seria apenas um curativo, minha querida?

Soltei a respiração...


Happy birthday, my love of the same blood! mmmy_k , this is all for you! You know I love you to the moon and back! I'll be always by your side. I'll stand by you no matter what happens. I hope you enjoy it!

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