Anne Snow

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Deitado na cama após ter entregue a bruxa para as autoridades, tentava terminar de ler Orgulho e Preconceito de Jane Austen, porém relia os mesmo parágrafo várias vezes. Não conseguia me concentrar, aqueles olhos dourados estavam em minha mente. No que será que ela queria que eu a ajudasse? Era uma curiosidade que precisava descobrir. Mas sabia que provavelmente não me deixariam falar com ela. Larguei o livro e olhei para o teto. Por que aquilo me intrigava tanto? Afinal, ela era apenas uma bruxa. Nem sabia se o que ela falava era verdade. Sabia que estava sendo um tolo. Bruxas são apenas criaturas que sabem muito bem enganar e eu estava caindo direitinho. Mas ela parecia tão convincente... Balancei a cabeça, tinha que tirar aqueles pensamentos da mente ou iria acabar enlouquecendo. Me levantei, sai do quarto e fui para o terceiro andar. Vários caçadores passavam com armas ou livros e com os mesmos uniformes pretos, talvez fosse uma característica nossa. Abri a porta da sala de tiros. Precisava me distrair. Fui ao estoque de armas e peguei uma pistola mais simples. Me posicionei em frente ao alvo, relaxei e atirei. Um belo tiro por sinal. Armas sempre foram o meu forte.

- Boa mira, Sr. Klemann- me virei para trás e lá estava Jack Meyers, um dos coordenadores mais detestáveis da Ordem, seu cabelo sempre arrumado e gola alta, seu ar superior era notável.

- Obrigado - respondi deixando a arma no lugar - O que quer comigo?

- Bom, vim até aqui porque preciso de sua ajuda - disse calmamente - nesta manhã você e outros caçadores capturam uma bruxa, certo?- apenas confirmei com a cabeça- E você deve se perguntar por quê não a matamos? Certamente ela tem informações que precisamos, o bando dela nos tem causado muita dor de cabeça. A Srta. Winks me informou que a tal bruxa pediu ajuda a você. Então pensei que você seria a pessoa certa para conseguir as informações que precisamos - absorvi tudo aquilo. Não sabia se ela confiaria em mim novamente, afinal, eu havia trago-a para cá.

- Receio que seja difícil.

- Mas não impossível- completou Jack - Tentamos conseguir com que ela falasse, mas ela se mostra muito relutante quanto a isso - sabia que aquela proposta poderia tirar as minhas dúvidas quanto o acontecido na caçada, talvez não fosse me custar muito conseguir a confiança dela.

- Eu aceito.

- Me acompanhe - saímos da sala e pegamos o elevador. Fomos até o sexto andar em uma parte bem afastada onde havia muitas grades e guardas. Seguimos por um corredor até parar em uma das celas, no qual a porta era de ferro.

- Bom, ela está ai. Se precisar de qualquer coisa, terá guardas aqui fora.

- Quanto tempo eu tenho?

- Seja o mais rápido possível, se ela foi encontrada aqui perto, receio que o bando também esteja e para sermos mais rápidos conto com sua ajuda. Acredito que seu pai ficaria bem orgulhoso- lembrei do Benjamin, meu pai, ele é um dos quatro líderes da Ordem, um cara justo e honesto, diferente do restante da liderança , o admiro por suas virtudes. Empurrei a pesada porta e dois caras fortes saíram e uma pequena criatura estava ao chão encolhida contra à parede presa com algemas de ferro que pareciam como luvas. Fechei a porta, a cela era minúscula com uma pequena janela no alto com grade que deixavam um pouco da luminosidade passar. Me aproximei da garota e ela se encolhia ainda mais com meus passos. Seus olhos desviavam dos meus, pude ver os hematomas espalhados por seu corpo e seu rosto que também sangrava, a linda garota parecia bastante vulnerável, imaginei o quanto ela havia apanhado para estar daquele jeito. Seu cabelo estava bagunçado e sua roupa toda amassada, senti pena ao vê-la naquele estado. Sentei ao seu lado, não muito próximo. Ela se afastou mais um pouco.

- Me desculpe por hoje, por não ter lhe dado ouvidos- suspirei - estava apenas fazendo meu trabalho - ela continuou calada.

-Bom, prazer meu nome é John Klemann e o seu?- ela sussurrou algo incompreensível.

-Como?- perguntei.

- Pra quê quer saber? Vai me matar.

- Não vou lhe matar, não estou aqui pra isso.

- E pra quê então? É algum tipo de padre que vem na cadeia antes da sentença de morte?- ri com sarcasmo.

- Estou aqui para fazer companhia para você - disse entusiasmado. Ela finalmente olhou para mim, de um jeito confuso, como se eu fosse um louco. Meti as mãos nos bolsos da minha jaqueta e retirei algumas cartas de baralho, sempre as carregava comigo, não que eu fosse um viciado em jogos, mas aquelas cartas tinham vindo do meu avô e era algo que estava sempre comigo. Distribui as cartas igualmente, empurrei as dela para mais perto, ela se encolheu mais um pouco.

- Por que eu jogaria com você?- disse pasma.

- Só vejo nós dois aqui e pare de ser resmungona, jogue comigo! - ela ainda me olhava confusa.

- Não sei se você percebeu? - ela levantou os braços com as mãos presas, não lembrava daquele detalhe. Virei as cartas dela e as arrumei.

- Você me dirá a carta que quer jogar e eu a pegarei para você- disse como se fosse óbvio.

- Você vai roubar desse jeito.

- O que você pensa que eu sou? Um louco que joga cartas com uma bruxa em uma cela e ainda assim rouba? - ela demonstrou um início de um sorriso.

- Você é louco.

- Talvez - peguei uns chicletes que tinha nos bolsos, coloquei um na boca e ofereci o outro.

- Por que eu confiaria em você?

- Acredito que você não tem escolha. Quer?- ainda com o chicletes na mão, ela me olhou e vi que ela não havia perdido o brilho nos olhos dourados.

- Eu começo - começamos um longo jogo de cartas, confesso que deixei-a ganhar a maioria das vezes. Ela ditava as cartas, qualquer pergunta a mais era totalmente ignorada. No fim da tarde, obtive algum sucesso:

- Sou Anne. Anne Snow - sorri, talvez aquilo se tornasse divertido.

A DecisãoOnde histórias criam vida. Descubra agora