Apenas Mais um Garoto no Mundo

Capítulo 1

Dia 25 de dezembro de 2015, ah o natal... Uma época onde as pessoas passam em família, confraternizam como se a partir daquele momento, todas as desavenças ocorridas ao longo do ano desaparecessem. Todos sorriem e se abraçam, além da troca de presentes, das comidas... Enfim, uma tradicional celebração natalina.

Na noite do dia 25, já haviam passado as comemorações. Eu jantei na casa da minha avó Júlia, como já era de costume e então disse que iria para casa, que não era muito longe dali. Cheguei em casa, coloquei meu celular para carregar, fui até a cozinha e bebi um copo dágua. Enquanto voltava até a sala, fui antes em meu quarto. Sentei-me em minha cama, observei o espaço ao redor, simplesmente recostei minha cabeça no travesseiro e comecei a chorar.

Infelizmente ainda era tudo muito recente, ainda doía muito... Faziam apenas dez dias que ele havia partido. Meu querido avô materno José se foi e a sua falta me consumia, era como se não existisse (ou pudesse existir) alegria em meu ser. Eu só sabia chorar... E bem, depois de um tempo eu me levantei, olhei para o espelho diante de mim e observei atentamente o reflexo da figura que aparecia ali enquanto eu enxugava minhas lágrimas. Observava aquele rosto levemente arredondado, os olhos castanhos ligeiramente puxados (e opacos), o cabelo sempre penteado pra cima, o nariz afilado e os lábios grossos que contrastava com o olhar. Nunca me achei uma pessoa bonita, apesar de algumas amigas insistirem em dizer que eu era.

Saí do quarto e voltei até a sala, me sentei e aproveitei que estaria sozinho em casa, seria uma longa noite... Liguei a TV e comecei a assistir a maratona de The Big Bang Theory. Uns três episódios depois peguei meu celular e dei uma olhada no Instagram, via todos meus amigos e conhecidos em festas, se divertindo e eu estava em casa, vendo televisão e sentado no sofá, sozinho. A partir daquele momento eu comecei a pensar o que eu estava fazendo da minha vida, aos meus 16 anos comecei a pensar na forma que eu estava vivendo, se eu estava feliz com aquilo tudo... Cheguei a conclusão que não. Analisei cada vírgula, cada pormenor, tudo o que eu já tinha vivido e a forma como eu estava vivendo até então, e bem, eu era uma pessoa infeliz.

Não podia reclamar no quesito financeiro, já que tinha uma vida com uma boa estabilidade. Nunca me faltou nada, tinha sempre tudo o que eu queria, mas apesar daquilo tudo eu me sentia vazio. Era como se algo me faltasse... Comecei a analisar a vida de um contexto mais amplo, vi que tudo era passageiro demais, a vida em si passava muito rápido. De repente foi como se tivesse dado um estalo na minha cabeça, quase como um rompante.

Eu sabia que tinha desejos, desejos esses que não eram supridos. Porém tinha consciência deles, sabia que existiam, mas eu os renegava, ignorava a existência deles, reprimia-os. E bem, cheguei à conclusão de que aquilo me fazia mal, de verdade!

Porém, eu nasci e cresci numa família extremamente evangélica, meu avô paterno Augusto, era pastor. Tinha o fato de que também durante um bom tempo eu cantei na igreja, todos aqueles fatores pesavam muito no final das contas. Eu tive uma criação muito rigorosa, não podia assistir qualquer tipo de coisa, música só se fosse gospel, tinha que orar quando acordava, antes de cada refeição e antes de dormir, além de ter que ir pelo menos duas vezes na semana aos cultos. Minha vida sempre foi cheia de muitas restrições, havia o fator preponderante de que eu havia ouvido a minha vida inteira que homossexuais iriam para o inferno, que eram resultado de possessões demoníacas e que eles não herdariam o reino dos céus por serem profanos. No início da minha adolescência, lá para os meus 12/13 anos, surgiram os primeiros sinais de interesse no mesmo sexo, e foi quando começaram as minhas confusões em relação a isso. Por conta de minha criação, houve uma resposta automática do meu subconsciente de "repreender" isto e orar para pedir que isso saísse de mim, pois não era da vontade de Deus que eu fosse daquela forma, Deus me queria junto d'Ele e não junto de Satanás.