Capítulo 8

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Sendo eu sempre muito tímido quando diz respeito a isto, lá fui eu novamente aos apps. Instalei uns dois ou três, conectei minhas respectivas contas e dei uma olhada em alguns perfis que pareciam ser minimamente interessantes. Deixei o celular de lado e me concentrei no que a professora de geografia estava falando.

Enquanto arrumava as coisas para ir embora, o celular vibrou. Era um dos apps, o Scruff. Neste poderia mandar mensagem sem a necessidade de ser haver um like mutuo, como funcionava o Badoo ou o Tinder, esse em questão era mais direto. Enfim, um perfil sem foto de rosto visível e sem nome havia me mandado mensagem.

O ser em questão tinha 20 anos, algum emoji no lugar do nome e uma foto com um rosto de perfil, porém como se fosse somente a sombra deste. Começamos então a conversar durante o meu caminho até a parada de ônibus. Nesse meio tempo, ele me contou que cursava Odontologia, que morava na Barra e perguntou se eu poderia passar o meu número a ele.

Fiquei imaginando como as coisas ocorrem de maneira tão parecida nesses apps. Uma apresentação breve, se ocorrer interesse, troca-se números de telefone e então vão ao WhatsApp para se conversar mais e marcar algum encontro. E lá estava eu, seguindo o padrão de flerte/encontro que eu tanto criticava mentalmente.

Sim, eu ainda estava extremamente inseguro a respeito de tudo o que viria a acontecer. Sabia que tinha uma boa possibilidade de dar tudo errado e eu acabar igual a ultima vez, mas mesmo assim resolvi que deveria arriscar. Com isso, continuei a conversar com quem descobri se chamar Alexandre Moreira, por conta do meu celular, que mostrava o nome que as pessoas colocavam como identificação do WhatsApp. Com toda certeza, uma das razões pelas quais eu amava usar iPhone.

Conversa vai, conversa vem e ele me chama pra conhecer ele pessoalmente. Aparentemente ele estava organizando o aniversário surpresa de uma amiga e estava utilizando disso para que eu pudesse conhece-lo. A questão era que seria numa quarta-feira, sendo assim, eu teria que faltar aula para que eu fosse sair com ele. E assim o fiz, confirmei com ele e na quarta em questão lá estava eu, em um ônibus indo pra Gávea. Nem acreditava que estava realmente indo para o encontro mais aleatório que eu havia tido até então. E durante a ida para a PUC, eu pensava com os meus botões se realmente eu estava preparado para isso, se era mesmo a hora ou não.

Se eu já estava nessa, não adiantava mais fugir. E lá estava eu, na frente da PUC e não demorou muito para que Alexandre aparecesse. Eu me sentia um pouco desconfortável em estar em um lugar onde eu não conhecia ninguém, visto que nem o próprio que me convidou, eu conhecia direito. Tentei fingir plenitude e espero que ninguém tenha percebido que eu me sentia deslocado, mas creio que tenha sido visível.

A surpresa foi feita e eu continuava lá, em um cantinho sentado. As amigas dele tentavam ser simpáticas, mas eu era realmente muito fechado. Talvez pela experiência anterior, não sei... O fato é que eu realmente não conseguia interagir com aquelas pessoas e para piorar, eu só pensava no horário. Afinal, eu teria que chegar em casa como se eu tivesse voltado do colégio.

Falei para Alexandre que precisava ir ao banheiro e que procuraria um. Ele se ofereceu para ir comigo, então saímos da sala onde estávamos. Alexandre parecia muito com Bruno na questão física.

Ambos eram gordinhos, tinham o rosto um pouco mais sério e tinham aquele olhar doce. Mas diferiam em alguns pontos, visto que Alexandre era branco por exemplo, tinha o cabelo ondulado, um pouco comprido e era pouca coisa mais alto que eu.

Entrei no banheiro e Alexandre ficou do lado de fora me esperando. Fiquei encarando minha imagem no espelho por alguns instantes, lavei meu rosto e enxuguei-o. Assim que saí, Alexandre me acompanhou de volta até a sala em que estávamos e conversamos um pouco.

Depois de um tempo eu expliquei que precisava ir embora, de pronto ele se ofereceu para ir comigo. Disse que não precisava, mas ele insistiu e então fomos.

Com isso, ficamos na parada até chegar meu ônibus. Dei tchau a ele e subi. Mas, não muito longe da parada, recebo uma mensagem de Alexandre dizendo:

- "Esse deve ter sido o pior encontro da tua vida."

Dei uma risadinha e disse que não, que tinha aproveitado a companhia dele.

Fiquei pensando se realmente deveria continuar investindo nisso. Eu ainda estava muito inseguro com tudo, não sabia muito bem o que fazer e ainda tinha medo que tudo se repetisse. O fato era que eu não podia sair sempre, usava um celular escondido e sabia que quase ninguém seria compreensível com relação a minha situação. Sendo franco, não sei nem se eu mesmo seria capaz de me arriscar em um relacionamento com uma pessoa vivendo como eu estava naquele momento.

Continuamos conversando enquanto eu voltava para casa. Quando cheguei, avisei que não poderia continuar conversando e ele me deixou uma última mensagem:

- "Te devo um encontro de verdade, mas prometo que irei compensar no próximo"

Meu coração bateu forte, confesso. Então isso significava dizer que o meu jeito introspectivo não o afastou.

Guardei então meu celular e com um leve sorriso, passei pela portaria e peguei o elevador. Chegando em casa, joguei minhas coisas na minha cama, tirei minha roupa e fui ao banheiro.

Enquanto banhava, pensava em tudo o que eu havia feito hoje, se daria conta daquilo, de manter... Ainda havia tempo de desistir, inventar uma desculpa qualquer e sumir da vida de Alexandre, mas o destino não quis, eu não quis.

Os dias foram passando, as semanas também e eu continuava por conversar cada vez mais com ele. Sentia que finalmente estava gostando de alguém novamente e que parecia ser recíproco, então foi quando eu resolvi contar para Alexandre sobre a minha situação em casa, meu relacionamento anterior e tudo o que isso ocasionou na minha vida toda. Não queria que ele acabasse sendo pego de surpresa por esse ocorrido em algum momento, ou então que ele se aprofundasse mais e entrasse em algo "às cegas", por assim dizer.

Ao contrário do que eu esperava, ele foi bastante compreensivo. Disse que era só por um momento e que quando eu menos esperasse, a minha vida voltaria ao que era antes. Isso aqueceu meu coração e me deu confiança.

Alguns dias depois saímos, ele me chamou para ir ao cinema. Fomos até o Barra Shopping e assistimos "Mulher Maravilha". Durante o filme, eu digitei no meu bloco de notas e mostrei a ele: "Kiss me". Ele fez uns sinais com o dedo, representava dizer que depois o faria.

Assenti com a cabeça e continuei prestando atenção no filme. Acabamos saindo da sessão na metade, pois ele iria encontrar-se com uma amiga, a mesma do aniversário surpresa. Descobri que chamava Tábata.

Conversei brevemente com ela e não demorei a ir embora. Alexandre me convidou para sair com eles, mas não podia, meu horário já estava estourando. Então chamei um Uber e fui para casa.

Durante o caminho, ficamos conversando até que eu chegasse em casa.

Uma semana antes de eu ficar de férias, fui surpreendido por uma mensagem dele se declarando, me escreveu coisas lindas e no final, acabou por me pedir em namoro. Meu coração batia forte, sentia que ele queria sair do meu peito... Lá estava eu, novamente sendo arrebatado por esse sentimento voraz e avassalador. Com os olhos marejados enfim digitei:

- "Sim, eu aceito"

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