Capítulo 5

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Poucos dias depois, Bruno me falou que viajaria para Brasília com o pai, que teria compromissos por lá e com sua irmã. Durante este tempo, nos falamos bastante por ligação. Muito mais até do que por mensagem... Um belo dia, ele me manda uma mensagem pedindo a foto da minha mão e eu sem compreender nada, mandei mesmo assim. No final da tarde, ele me ligou para perguntar como foi a aula e para me falar que tinha um presente para mim, ou melhor, para nós dois. Ele havia comprado um par de alianças. Lembro que quando ele contou isso por ligação, eu fiquei perplexo. Não sabia o que falar. Pra ser sincero, eu só conseguia pensar em uma citação que representa exatamente como eu estava naquele momento. É um trecho de "O Primo Basílio", obra do escritor português Eça de Queirós.

"E Luísa tinha suspirado, tinha beijado o papel devotamente! Era a primeira vez que lhe escreviam aquelas sentimentalidades, e o que orgulho dilatava-se ao calor amoroso que saía delas, como um corpo ressequido que se estira num banho tépido; sentia um acréscimo de estima por si mesma, e parecia-lhe que entrava enfim numa existência superiormente interessante, onde cada hora tinha o seu encanto diferente, cada passo conduzia a um êxtase, e a alma se cobria de um luxo radioso de sensações!"

Eu só sabia agradecer por ele estar na minha vida, eu realmente fiquei muito tocado com esse gesto porque primeiro, de certa forma isso mostrava que ele estava levando nosso namoro a sério, visto que alianças são o símbolo universal de compromisso. Segundo pelo fato de que isso aparentemente só mostrava a mim o quão empenhado ele estava em mostrar que se importava comigo. Nunca cobrei nada do tipo, mas ele mesmo assim fazia... Aquilo que vem naturalmente, sem cobranças, pode-se ter certeza que é algo verdadeiro.

Na semana seguinte ele estava de volta. Já não me aguentava mais de saudades, e nem ele (de acordo com o próprio). E assim que acabou a minha aula, ele como de costume foi me buscar. Naquele dia em específico, passamos um pouco mais de tempo juntos e bem, para surpresa de ambos, a aliança não entrou em meu dedo. Tentamos de diversas formas, porém, infelizmente ela ficou apertada. Começou uma pequena peregrinação pelos shoppings do Rio para poder trocar a aliança por um número maior ao longo da semana. Durante a semana, um belo dia que eu acabei por não ter aula, então ele me chamou para ir na casa dele conhecer sua irmã, visto que seus pais estavam viajando. Naquele dia, ele me buscou na Barra como sempre e então seguimos para sua casa e bem, ficava também na Barra, porém em um ponto distante de onde ele sempre me deixava. Chegamos em um condomínio de casas chamado Villa Verde, e bem, era uma bela casa afinal. Ele me apresentou Bruna e a mesma foi extremamente cordial comigo, de cara já havia gostado dela. Naquele dia, passei a tarde com os dois. Assistimos TV, sorrimos um pouco e Bruna aproveitou para me apresentar sua namorada, Marcelly. Acabamos não conseguindo trocar no Rio, então, ele falou que viajaria em duas semanas para Fortaleza e de acordo com o site da joalheria, eles tinham uma loja no Iguatemi Fortaleza. Agora era torcer para ter o mesmo modelo por lá, visto que no Rio não tinha.

E então chegou março. Mal sabia eu que o pior mês da minha vida estava chegando, que dali em diante era só despenhadeiro abaixo. Coincidiu de o dia 5 de março, dia que completávamos um mês, eu acabasse indo para a casa do meu pai por ser final de semana. Como era guarda compartilhada, esse era o final de semana que eu passaria com ele. Neste dia em questão, eu liguei para Bruno, felicitamos um ao outro pelo primeiro mês e estávamos tentando organizar algo para comemorar o "nosso dia". De noite, fui até o calçadão de Ipanema com meu pai, minha madrasta e meu irmão Saulo Filho. Corremos e eu quase bati a minha meta no Nike+ Running de 3 km, fiz 2.88 km. Tomei meu suco verde e então voltamos para casa. Eu havia ganhado um iPhone novo fazia uma semana de presente do meu avô, então estava aparentemente tudo okay na minha vida. Mal sabia eu o que estava me aguardando...

Naquela noite na hora de dormir, meu pai me desejou boa noite e eu fui escovar meus dentes, terminei de falar com Bruno, liguei o modo avião e coloquei o celular embaixo do meu travesseiro. Até hoje eu não entendo como não acordei, mas o que aconteceu a seguir me foi contado com detalhes por meu pai e madrasta durante a manhã.

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