Capítulo IV

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Ordem e Resistêncis, capítulo 4: 

Não fazia ideia de para onde eu deveria correr então fui em direção ao meu quarto. Estava descalça e o chão era muito gelado, mas me proporcionava uma maior velocidade e agilidade. Conseguia ouvir as botas dos membros da Resistência batendo no chão conforme eu os deixava para trás após atravessar a ponte. Quando eu estava à porta da escada, tomei um puxão no meu cabelo. Era Solana.

-O que está fazendo? -Ela me encarou ferozmente e ofegante ao dizer as palavras, antes de desabar no chão, desmaiada.

Sem pensar duas vezes, empurrei a porta e comecei a subir as escadas enquanto Solana era uma distração para o próprio grupo. Apenas ao chegar lá em cima me dei conta de que estava encurralada. Não tinha saída. Entrei no meu quarto.

Parecia que havia sido deixado às pressas pela minha colega. O lençol estava no chão e o soro pingava nele pela ponta que antes estivera conectada à uma veia dela. A janela estava escancarada e a cortina balançava ao vento. Tinha uma chance dela tê-los deixado entrar por ali, mas eu nem queria saber como. Se tivesse resolvido ficar no meu quarto ao invés de ir até os bebês... Mal queria pensar nisso. Eu olhei para meu HB e minha bolsinha e os apanhei sem pensar duas vezes. Não sabia porque estava correndo nem de quem estava fugindo, mas saí às pressas do 713 e virei à direita.

Na porta por onde eu havia chegado vinham Páris e mais quatro pessoas. Me apressei em empurrar uma porta de entrada de funcionários que levava até o telhado. Subi. Me senti subitamente cansada mas não diminuí o ritmo. Minha visão ficou um pouco turva e eu respirei com dificuldade. Repeti Earine, 18, 713 para ter certeza de que tudo aquilo era real.

Esmurrei a porta e continuei correndo pela direita. A noite estava tão bonita. Dali sim eu podia ver a silhueta brilhante da Torre. Também dava para ver luzes refletidas e ondulando no rio Sena. Tropecei. Fiquei admirando a vista e não olhei para meu caminho, derrubei tudo o que carregava. Caí de cabeça em alguma coisa muito dura. Doeu muito no começo, mas depois tudo ficou rodando e rodando e rodando... Vi Páris se agachar perto de mim e dizer alguma coisa que soou como ‘escolta safira’. Senti braços fortes me erguerem do chão e vi um par de olhos azuis. Então eu mergulhei numa escuridão profunda que, por minha sorte, não durou muito tempo.

Acordei e estava passando pela porta do elevador. Pensei estar no primeiro andar. Páris delicadamente tocava a área da minha cabeça onde eu tinha batido. Ele e quem quer que estivesse me segurando estavam conversando, mas suas vozes estavam longe e eu não conseguia ouvi-las. Estava tonta mas queria pular dos braços que me seguravam e correr mais assim que possível. Estava esperando eles chegarem perto da saída. Tudo girava lenta e angustiantemente. Mal deram três passos para fora do elevador e algo os deteve. Estavam discutindo com alguém, mas ainda pareciam bem longe.

Respirei fundo porém discretamente. Fechei bem os olhos e repeti calmamente para mim mesma: “Meu nome é Earine Calendryne, tenho dezoito anos e moro no quarto 713 do Hôpital Notre Danme de Lourdes, em Paris.” As mãos que me carregavam se apertaram confortavelmente, porém ainda estava assustada. Continuei: “Vai ficar tudo bem. Eu vou sair dessa, e vai ser logo.”

Ajudou. Eu consegui ouvir a discussão.

-Não se atreveriam a faz isso –era a voz de Páris.- Já não basta arruinar a vida de uma população inteira.

-Deixem. Earine. Em. Paz –era a voz de Dra. Piotto. Mal posso explicar o quanto fiquei aliviada.

-Tenho que dizer que não concordo com a afirmação do mocinho ali –eu não conhecia aquela voz, mas estava vindo do lado de Dra. Piotto, então devia estar do meu lado. –Não arruinamos uma nação, como você e seus amigos  sugerem, transformamos uma. Tudo o que fazemos é para um bem comum.

Ordem e Resistência [HIATUS]Onde histórias criam vida. Descubra agora