ABRA OS OLHOS!

379 37 6
                                    

Onara caminhou o mais rápido possível até a sua casa. Quando chegou no imóvel em estado deplorável, derramou uma pequena lágrima, ao lembrar do pai.

Balançou a cabeça e subiu os três degraus da escada que levava até a porta de entrada do lugar. A medida que caminhava dentro da casa, era acompanhada pelo ranger da madeira velha, que inexplicavelmente, ainda conseguia suportar o seu peso.

— Vocês poderiam pelo menos me dizer como é o tal Orbe para que possa procurar! – gritou para o vazio.

Você saberá que é ele quando o encontrar.

— Mas que merda! Não custa nada ajudar! – Chutou um vaso que estava próximo ao seu pé. A peça se espatifou ao chocar com a parede, os cacos da cerâmica velha voando para todos os lados.

É melhor manter a calma, se não quiser se acusada de desacato, querida On. – Aquela mesma maldita voz, que há minutos atrás a consolava, agora adquiria um tom de ameaça.

— Eu estou me lixando para vocês! Porque não me matam de uma vez heim? – Continuou provocando. Sua paciência se esgotando a cada minuto que ela perdia procurando algo que nunca tinha visto na vida, como uma tola.

Eu vou deixar passar dessa vez Onara, porque sei que está nervosa, e seus batimentos cardíacos estão elevados, mas lhe darei um conselho: não grite para mim novamente. Não queira saber quais consequências poderia ter caso o faça. E não iremos te matar, a não ser que seja extremamente necessário.

A garota pôde sentir na pele que ele não estava brincando. E ao constatar isso, um medo subiu pela sua espinha, se alojando bem profundo na sua alma.

Sem dizer qualquer outra palavra, continuou a procurar pelo objeto.

Olhou no seu quarto, na sala, cozinha, no porão e na garagem. E como era de se esperar, ela não encontrou absolutamente nada que se parecesse com um Orbe. O que quer que isso significasse.

Havia apenas um cômodo que ela não tinha entrado até o momento. On sabia que seria difícil, mas teria que fazer um último esforço, caso quisesse se ver livre daquelas vozes.

Caminhou lentamente pelo corredor até parar de frente com uma porta descolorida, que anos antes possuía um tom café escuro.

Empurrou a prancha de madeira pouco a pouco, liberando apenas um pequeno espaço para que ela conseguisse passar sem problemas.

O quarto do pai estava da mesma maneira que ela lembrava. A cama de casal com o lençol azul, agora desbotado, a cômoda de madeira maciça, que continha os estudos e teses do pai sobre a vida no espaço e por último, a estante de parede que albergava a grande variedade de livros que ele usava para suas investigações. O arrependimento por nunca haver apoiado o pai enquanto podia, se apoderou do seu corpo e ela teve que sentar na cama por alguns minutos para recuperar o ar que insistia em escapar dos seus pulmões.

Quando se sentiu melhor, se levantou e empreendeu novamente a sua busca.

Abriu cada gaveta da cômoda, procurou nos papéis desordenados, nos cadernos com textos que ela ainda não compreendia e nas caixas de sapatos cheias de bugigangas. Nada. Ela não sentiu nada diferente. Aquilo não era um bom sinal.

— Vamos papai, o que você roubou dessas coisas? – Perguntou para o quarto vazio enquanto observava uma vez mais o imóvel, como se talvez, o Orbe fosse aparecer magicamente.

Não somos coisas, querida. Somos uma espécie bem desenvolvida, se quer saber.

Onara deu um pulo e um grito escapou pela sua garganta. Estava a tanto tempo sem vozes na sua cabeça, que por um momento esqueceu que tinha companhia.

— Como seja, eu não os conheço então não sei o que de fato são. – Debochou e uma risada rouca ressoou na sua mente. Aquele som por incrível que pareça, lhe pareceu extremamente... empolgante. Por não dizer excitante.

Ainda observando o quarto, tentando se livrar daquele calor que crescia inexplicavelmente no seu corpo, On começou a fuçar nos livros que o pai guardava com tanto afinco. Ia puxando um por um, talvez, o Orbe estivesse naquela estante, detrás de algum dos livros empoeirados.

Continuou puxando, até que um deles não quis sair. Por mais que ela fizesse força, o objeto estava preso na estante, como se tivesse sido colado ali.

— Vamos! – Suspirou e empreendeu o máximo de força que pôde, até que finalmente conseguiu movê-lo, porém, o livro apenas deslizou até ficar pendurado na ponta da prateleira e de repente, a estante começou a se mover, fazendo com que a garota pulasse para trás rapidamente, pensando que o móvel fosse cair em cima dela.

No entanto, o que aconteceu a seguir a impressionou ainda mais, do que quando a voz falou com ela na primeira vez: a estante se moveu para dar espaço a uma abertura na parede, do tamanho de uma porta. Ela podia ver alguns degraus na escuridão e sem pensar duas vezes, movida pela curiosidade e assombro, adentrou naquela fenda, sem nem pensar nos perigos que poderiam estar esperando por ela lá dentro.

Sem ver nada, tateou a parede em busca de apoio, não seria conveniente se machucar, ainda mais na situação em que se encontrava. Quando finalmente sentiu que chegava em um lugar plano, procurou por algum interruptor.

Alguns minutos se passaram e ela ainda não podia ver um palmo sequer diante do seu nariz.

— Como vou procurar o Orbe, se não vejo nada! – praguejou, começando a entrar em desespero. Outra vez aquela risada se fez presente e de repente, o cômodo ficou tão claro quanto a luz do dia.

— O que você fez comigo? – sussurrou impressionada e assustada ao mesmo tempo.

Te dei visão noturna para te ajudar a encontrar o meu Orbe. Veja, não sou tão ruim, não é mesmo?

Onara bufou, mas decidiu não abusar da "boa vontade" daquele ser desconhecido. Se adaptou rapidamente a aquele tipo de visão e ao olhar ao redor, sua respiração falhou por alguns segundos. Aquele lugar era tremendamente assustador. Haviam prateleiras nas paredes, cheias de vidros com partes de corpos, mas não eram partes normais. Eram mãos e pés desproporcionais, com unhas enormes, e a cor da pele era azul. Também haviam vários objetos que ela nunca tinha visto na vida. Uma arma comprida, com um tipo de lança na ponta e com pequenos círculos desenhados em todo o seu comprimento, um pequeno objeto que parecia um controle de Playstation, porém era cheio de botões com letras irreconhecíveis. Outro que parecia um espelho, porém não refletia nada. A cada objeto que On encontrava, ficava mais espantada. Como o seu pai conseguiu esconder aquilo dela por tanto tempo? E como ele tinha acesso a aquelas coisas? As perguntas surgiam na sua cabeça como uma enxurrada de palavras, tirando completamente o seu foco.

Eu lhe disse que explicaria tudo Onara, deixe de fazer perguntas que não terá respostas agora e continue procurando. – A voz advertiu e ela piscou saindo daquele transe involuntário. Continuou olhando ao redor, pegando com cuidado cada objeto, tentando saber se era o que procurava e os descartando na mesma rapidez, ao perceber que não lhe serviam. De repente, uma bola de metal chamou sua atenção, e a medida que ela foi se aproximando, um calor começou a tomar conta do seu corpo. Ela pegou o objeto nas suas mãos e uma sensação incrível a invadiu, arrancando arrepios na sua pele.

— Acho que encontrei o que estava procurando.   

ABDUCTI [ON]Onde histórias criam vida. Descubra agora