REVELAÇÕES I

342 33 21
                                    

Eu pensei que já havia me visto, Cyhan. Várias vezes me olhei no espelho durante esses anos todos... - zombou quando finalmente conseguiu pronunciar algo coerente.
— Eu tinha acesso apenas à sua mente On, não podia ver o que você via. Uma pena... - Cyhan a olhava atento.

A garota era realmente uma espécie digna de ser admirada. Em toda a sua existência, ele nunca havia visto um ser tão lindo. O cabelo branco cortado na altura dos ombros e os olhos cinza quase cristalinos lhe intrigavam. E o que era aquilo no seu... Como eles chamavam? Ah, nariz. Parecia um aro de metal, mas para quê serviria?

Em um impulso se aproximou da garota e tocou o objeto estranho. Quando sua mão roçou o seu rosto, uma corrente elétrica passou por todo o seu corpo, fazendo com que se afastasse imediatamente.
Onara ainda assustada e com os olhos arregalados, soltou o ar lentamente e observou sua mão que pairava no ar, como se quisesse tocá-la novamente.

Aquela atração no ar era novidade para ambos. Cyhan era o líder da Ordem Interplanetária e ela bem... Uma terrestre comum e corrente. Isso não deveria acontecer. A não ser que...

— O que vai acontecer comigo Cyhan? - A pergunta saiu ofegante. On estava com medo. Ela sabia que era questão de tempo até que não servisse mais.
— Não se preocupe Onara, se fizer tudo o que dissermos, você sairá ilesa. - Passou a mão novamente no seu rosto, como se não pudesse resistir ao seu toque, à sua proximidade.
— Me desculpe Cyhan, mas não consigo confiar em você. - On retirou sua mão delicadamente, se afastando do ser hipnotizante.

— E você tem razão querida, não deve confiar em mim. - Piscou e On franziu o cenho. O seu humor era estranho.
— Agora precisamos conversar. - Sentou na beirada da maca e fechou os olhos por alguns minutos. — Como eu já disse, há dois seres no universo capazes de descifrar o Orbe, um deles sou eu e bem o outro é... Você.
— C-como assim? E porque eu posso descifrar? Eu sou uma humana qualquer!
— Também estamos tentando entender o porquê, mas uma coisa é certa, precisamos de você.
— O que isso quer dizer Cyhan? - On saltou da cama em um pulo e praticamente correu até o canto do quarto. Seu coração estava tão acelerado, que ela podia senti-lo golpeando contra seu peito.
— Onara fique calma. Seus batimentos estão muito acelerados.

— SAIA DA MINHA CABEÇA MALDITO! - gritou e pela primeira vez, Cyhan demostrou uma expressão que não fosse indiferente. Arregalou os olhos e se aproximou dela, passando seus braços ao redor do corpo minúsculo e assustado da garota.
— O que isso quer dizer, Cyhan? Por favor me responda! - sussurrou contra o seu peito e ele estremeceu com a sensação.
— Significa que não poderemos te deixar partir. - declarou e nesse momento, Onara simplesmente perdeu o controle das pernas e teria desabado, não fosse o ser azul a segurando firmemente nos seus braços.

— Porque eu Cyhan? Porque não outra pessoa? - murmurou, mas o ser continuava em silêncio. Onara não tinha parentes que a queriam, nem uma casa para voltar, mas a Terra era o seu lar. Era lá que ela queria construir a sua vida. Ela sequer sabia se ainda se encontrava no planeta natal, por isso uma nostalgia se instalou no seu coração e ela não conseguiu fazer outra coisa senão chorar. Estranhamente, encontrou consolo nos braços musculosos, mesmo sabendo que eles poderiam passar de abraça-la a esmaga-la em questão de segundos.
Alguns minutos depois, ao perceber que a situação passava de um impulso a algo desconfortável, Cyhan se desvencilhou do corpo esguio e deu alguns passos para trás.

Ele nunca havia tido aquela reação. Não sabia sequer o que aquele movimento significava e porque teve a impressão de que contornar Onara com seus braços, de fato ajudaria. O ser estava desconfiado. Talvez ela tenha usado algum poder desconhecido, mas se ela tivesse algum poder, ele saberia, afinal esteve bastante tempo dentro da cabeça da garota. A não ser que ela não tenha conhecimento do que é capaz...
— Cyhan? - A voz de On o tirou dos devaneios e o levou a olhar para ela novamente. — Eu... Eu estou com medo. E se me machucarem? E se quiserem fazer estudos comigo? E se... Me matarem no processo? - Ao ver o medo estampado no rosto da garota, Cyhan experimentou uma nova sensação: ele precisava protegê-la dos seus subordinados, pois sabia que não hesitariam em matá-la se fosse necessário.

— Onara, não posso te prometer nada, mas farei o possível para que isso não aconteça. - Em outro impulso desconhecido, se aproximou e beijou a fronte da garota. Respirou profundo ao sentir o seu delicioso aroma e se despediu, com a promessa de que voltaria a vê-la no dia seguinte.
O que estava acontecendo? Porque ele se sentia estranho? E porque On tinha de ser tão... Encantadora?

Depois de ser deixada só, a garota se deitou na maca e fechou os olhos. Apesar de haver dormido por bastante tempo, ainda se sentia cansada. Mas na sua cabeça se passavam tantas coisas, que era impossível dormir.
Uma delas era porque ela era capaz de descifrar o Orbe. Talvez por isso sentiu aquele calor ao encontrar o objeto? E para que ele servia? O que fariam com ela? Será que a dissecariam como naqueles filmes que vira junto com o pai? Eram tantas perguntas e tão poucas respostas!
E assim passaram-se horas até que ela finalmente sucumbiu ao cansaço e se entregou ao sono profundo.

O que é essa coisa papai? - Aquela bola era muito estranha, será que era algum jogo novo?
Isso é um Orbe minha filha, muitas pessoas o querem, mas ele não pode cair em mãos erradas, é por isso que estamos o escondendo.
Para que ele serve?? Eu posso brincar com ele?
No tempo certo você vai saber querida. No tempo certo você vai saber.
Mas eu quero saber o que é agora! - Porque papai nunca responde as minhas perguntas?
Onara, se eu te disser o que é agora, você ficará em perigo... As vozes na minha cabeça, elas me proibiram de contar a qualquer um sobre ele. Você entende isso?
Eu entendo. Já sou grande. - Já tenho cinco anos, não sou mais criancinha.
Agora, eu vou guardar ele no nosso esconderijo secreto e você nunca vai mais perguntar por ele, okay? Será o nosso segredo.
Tudo bem papai, será o nosso segredo.

— Que merda foi essa? - On acordou assustada e toda suada. Aquele sonho foi tão real... Ou será que era uma lembrança? Ela conhecia o objeto a tanto tempo assim? Será que seu pai era uma espécie de guardião? E caso fosse, porque ele não poderia cair em mãos erradas?

— Onara! Você corre perigo, se levante e venha até mim, te indicarei o caminho!

ABDUCTI [ON]Onde histórias criam vida. Descubra agora