Capítulo 10

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Ryan Jenkins

HAVIA SE PASSADO dias desde a surra que levei, e agora não tinha nenhuma marquinha que sinalizasse minha quase morte. Não sentia dor e nem ao menos me lembrava da sensação terrível de engasgar com o próprio sangue. Lana Collins tinha a habilidade de se lembrar, já eu tinha a de me esquecer.

Estacionei o carro, coloquei a mochila nas costas, meu fone de ouvido e fui para o treino. O dia estava quente e o suor fazia meu cabelo grudar na testa de forma nojenta. Tomei um gole da minha água e continuei a andar, passando pela pista de corrida onde estava tendo aula do professor Morris.

Essa era uma grande ironia, um professor tão gordo dar esse tipo de aula... sorri só com o pensamento. Dizem por aí que ele foi um grande atleta em sua época, tipo o que? Uns cem anos atrás? Enfim, difícil acreditar. Senti um puxão em meu ombro e me virei surpreso.

- Mas que porra... Oh, professor Morris, oi. - fiquei sem graça quando o vi. Será que o cara ouviu meus pensamentos?

- Cuidado com essa boca, Ryan Jenkins. - advertiu-me. Ele usava um boné e camisa polo por dentro da calça. O volume de sua barriga redonda ficava extremamente visível.

- Desculpe, mas o que quer? - perguntei, tentando disfarçar a impaciência na voz.

- Uma aluna se machucou, ao que parece torceu o pé e não consigo levá-la até a enfermaria. Faz isso pra mim? - pediu, cruzando os braços. Claro que não consegue. Acho que a única coisa que ele levanta é seu prato de comida.

- Bem que eu queria, mas...

- Ótimo! Obrigado garoto. - me interrompeu antes que eu conseguisse me esquivar. Soltei um suspiro pesado, mas ele fingiu que não ouviu e deu dois tapinhas em meu braço. - Ela está ali, sentada no banco. - apontou uma garota de cabeça baixa. Seu cabelo estava preso pra cima, um pouco bagunçado. Que tipo de idiota consegue se machucar enquanto corre? Fala sério! Revirei os olhos e fui até ela.

- Oi, o professor pe...- minha voz se perdeu no ar ao ver que a aluna era Lana. Óbvio, tinha que ser!, pensei irônico. Cada músculo do meu corpo se enrijeceu e ela me olhou, tão surpresa quanto eu. Ficamos parados nos encarando num silêncio constrangedor. Há dias não a via nem falava com ela. Até a aula que fazemos juntos faltei para não ter que sequer ficar perto dessa garota, não depois de tudo que falou de mim, mesmo que cada palavra tenha sido verdade e por ser verdade, doeu mais que os chutes em minhas costelas. Apesar do meu "dom" de apagar as coisas da mente, isso não consegui esquecer, e ainda ecoava em minha cabeça, não me deixando em paz nem por um segundo.

- O que está esperando, Jenkins? Ajude a aluna! - gritou o professor Morris. Contive a vontade de dar meia volta e correr daqui e me inclinei para que Lana colocasse o braço em meu pescoço. Saímos dali com ela pulando a cada passo, fazendo um enorme esforço. Assim com certeza demoraria anos até chegarmos na droga da enfermaria.

- Com licença. - pedi a ela. Então num movimento rápido me abaixei, passando o braço por trás das suas coxas sem nenhuma delicadeza, pegando-a no colo. - Foi mal, é que preciso ir pro treino ainda. - expliquei. Lana se ajeitou, segurando em meu meu pescoço. Ela não era pesada e não era necessário fazer muito esforço, mas a cada passo meu coração parecia sair pela boca. Isso era aterrorizante.

- Desculpe. - ela sussurrou e a olhei, sem entender. Lana me encarou com seu estúpido olhar petulante, aquele que odiava. - Por tudo que te disse. - completou, sua expressão calma e séria. Travei o maxilar, esperando a raiva falar por mim.

- Só disse a verdade. - respondi, minha voz saindo branda de uma forma que nunca saiu. Sua seriedade se desfez um pouco, fazendo seus olhos brilharem.

NUNCA SE APAIXONE POR ESSE CARA (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora