Capítulo 3

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Lana Collins

TEVE UMA VEZ, acredito que a mais ou menos 1 ano atrás, fiquei entediada. Sabe quando não há absolutamente nada pra fazer? Me encontrava nessa situação. Coloquei em minha cabeça que devia usar esse tempo livre para realizar algo produtivo, aprender mais. Foi então que comecei a estudar mecânica. Eu sei, sou uma pessoa extremamente estranha. Mas acho que todos devem saber pelo menos o básico a respeito desse assunto, como: por que algumas luzes acendem no painel; qual o motivo de certos barulhos que o carro faz; quando trocar o óleo; como trocar o pneu; ou ainda, esvaziar o pneu um pouco. E para quem acha que isso é besteira, meu conhecimento, nesse exato momento, veio muito a calhar.

Cheguei mais cedo na escola, após passar numa loja de ferramentas para comprar uma chave de fenda. Fiquei dentro do Mercedes de vidros escuros do meu pai, esperando meu querido colega Ryan Jenkins chegar, atenta quanto ao lugar que colocaria seu carro. Assim que o estacionamento esvaziou, fui até seu Porsche Boxster, me abaixei perto da roda traseira, removi a tampa da válvula e coloquei a chave de fenda no pequeno buraco, sentindo o pneu murchar aos poucos. Repeti o mesmo com a outra roda de trás. Fazer isso poderia causar alguns danos, mas quem liga? E não era como se eu fizesse coisas desse tipo sempre, na verdade era a primeira vez, apenas porque nunca me esconderia atrás do meu irmão. Uma garota precisa saber se defender.

Coloquei a chave de volta na bolsa, passei no meu armário para pegar meu livro de matemática e corri para a aula. Estava atrasada como sempre, mas valia a pena. O professor, um senhor gordo e de cabelos brancos, pareceu não notar meu atraso, pelo menos não dissera nada, para meu alívio. Sentei na única cadeira vaga, ao lado de um garoto. Todos copiavam o que estava sendo passado no quadro, exceto eu. Fiquei imaginando a cara que o Ryan faria ao notar o pneu de seu carro destruído... empolgação e ansiedade tomavam conta de mim. Com certeza depois disso ele não se atreveria a me importunar mais.

- Não vai copiar? - uma voz me trouxe de volta. - Acredito que essa matéria é importante para a prova. - sussurrou o garoto ao meu lado. Pela primeira vez olhei pra ele. Tinha o cenho franzido, olhos azuis, mas não aquele típico azul, era escuro e me lembrava o oceano. Sua boca era um traço fino, nariz arrebitado e os cabelos arrumados de forma desorganizada, de um tom castanho. Ele era lindo. Usava uma camisa de botão azul clara, justa nos braços, mostrando ser forte. - E então? - insistiu quando não respondi, e notei que o encarava.

- Não, já sei a matéria. - respondi, me recompondo, ignorando a queimação em minhas bochechas. O garoto acenou com a cabeça, voltando a copiar.

- Você deve ser a Lana. - deduziu, acertando em cheio. Como sabe? Seus olhos estavam fixos no caderno, já os meus estavam nele.

- Como sabe? - repeti meu pensamento, continuando a encará-lo. Uma mecha do seu cabelo caiu na testa e cruzei os braços para não tocá-lo. Seria estranho pra caramba se fizesse algo assim, mas vontade não faltava.

- Bonita, inteligente e atrasada. São as características que usam pra te descrever. - sorriu, fitando o quadro e o caderno, copiando tudo numa letra não muito bonita.

- Quem usa? - fiquei curiosa. Estava aqui a poucos dias, não era possível que já houvessem tantos comentários a meu respeito. Esperei por sua resposta, sem conseguir desviar os olhos daquela boca que formava um sorriso perfeito. Ele molhou os lábios com a língua, e meus pensamentos voaram para a necessidade de beijá-lo. Mas que loucura é essa, Lana?, meu subconsciente me repreendeu. 

- Senhorita Collins! - chamou-me o professor, batendo um livro em sua mesa. Me virei completamente envergonhada. - Vejo que é mais interessante conversar com o colega que copiar minha matéria. O que acha de resolver esse problema no quadro? - perguntou e todos pararam de escrever para me olhar. Sem sombra de dúvidas era mais interessante! Será que ele notou o quão perturbadoramente bonito esse garoto é? - Estou esperando. - insistiu, balançando a caneta impaciente. Levantei desajeitadamente e me dirigi até a frente da sala. Era um problema muito fácil, que resolvi em questão de segundos. Olhei para o professor, que estava completamente vermelho. Envergonhado? Com raiva? Não sabia.

NUNCA SE APAIXONE POR ESSE CARA (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora