Maus, só que não

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— Lojas Kim, Park Chanyeol, boa tarde?

— Desculpe te acordar tão cedo Channy, mas é emergência – A voz de Kai soou aflita e eu me ergui da cama assustado. Olhei para a tela do celular e vi que nem eram seis da manhã do domingo. Meu deus! – A Nini está gripada, não vou poder ir no Comic con com vocês, desculpa mesmo...

— A Nini está doente cara, como assim só me avisa agora? - Eu me levantei ainda grogue e calcei meu tênis de qualquer jeito equilibrando o celular entre o ombro e o queixo – 'Tô indo aí, chego em meia hora.

— Não precisa Channy e...

— Relaxa, eu aviso o povo, só espera aí!

  Desliguei antes que ele começasse a dar desculpas e me arrumei saindo correndo do meu apartamento ligando para o Minseok no caminho. Íamos para uma feira naquele dia de viciados no mundo nerd, todos juntos, até porque precisávamos animar o espírito geral, já que depois de Sauron me dar aquele ultimato e o Lay descobrir que o barzinho que cantava no fim de semana ia fechar, precisávamos mesmo de um domingo ao ar livre vestidos de espectros de anel e nos divertir com a mini Orc da equipe, que agora estava gripada...

  Nini estava doente, como assim?

  Puxa, eu precisava mesmo aceitar a escravidão do malevolente, assim poderia dar uma vida melhor para nossa chaveirinho oficial. Kai era um bom pai, mas a vida era cara e difícil ali, na imensa Seul. Ainda mais para criar uma pequena menina.

  Depois avisei os outros e por último Sehun que com certeza estaria no décimo sono. Quando finalmente alcancei a quadra do apartamento do Kai o dorminhoco acordou, no fundo a poodle dele latiu animada. Eu sorri.

— Dê meu bom dia para a Vivi!

— Porque está me ligando ao invés de bater na porta, Channy, pirou?

  Ele resmungou meio irritado, eu ri.

— Nossa orc 'tá doente Sehun, 'tô indo ajudar o Kai, o evento está cancelado, vem para o Kai assim que der e traz a Vivi, vamos animar a Nini hun?

  Sehun suspirou e por fim riu baixo:

— Vamos vestidos? Seria legal mesmo assim né?

  Eu ri, as vezes era bom que meus amigos tivessem a chave de casa. E fossem um pouco loucos e bagunceiros.

— Pegue minha roupa, eu te espero aqui.

  Desliguei e apertei a campainha, não podíamos sair com a Nini doente, mas podíamos diverti-la em casa. Todo mundo viria, e faríamos nossa própria diversão de domingo. Afinal amanhã eu ia servir ao olho que tudo vê, tinha que rir agora, era meu último dia...

  O portão simples se abriu e eu corri escadas a cima até o quarto andar.

  Nini estava enrolada em um cobertor na porta me esperando.

— Bom dia tio Channy!

  Não vou mentir, eu amava aquela garotinha! Sorri e me ajoelhei diante dela vendo Kai fazer a mamadeira dela na cozinha colada à sala. Nini parecia meio jururu, mas ainda era fofa e era a cara do pai, uma mini Kai espertinha.

  Eu tinha mesmo que trabalhar para o monstro da sala de cima. Por ela, para ela ficar em casa e não mais ficar doente.

  Peguei ela no colo e brinquei de aviãozinho até colocá-la no sofá. Kai me entregou a mamadeira e foi fechar a porta com um sorriso agradecido. Eu ainda não entendia porque ele sempre se sentia obrigado a agradecer, éramos amigos e amigos ajudam uns aos outros.

  E eu era servo confesso da pequena orc.

— Muito bem, agora me diz como você deixou o monstro preguiçoso e malvado da gripe entrar em casa, dona Nini?

— Ahhh tio Channy! Eu esqueci a janela aberta...

  Ela disse de bico e olhou para o pai chorosa. Eu ri baixo, ela tinha feito de propósito para não ir para a creche, pode isso?

— Eu tenho uma criança voluntariosa não?

  Resmungou o amigo mais novo sorrindo de canto. Eu assenti, mas acabei fazendo cócegas nela e depois cutucando a barriguinha de leve:

— Então hoje os nove espectros no anel vão fazer companhia para a mini orc dodói e se a mini orc for boazinha, um dos poderosos reis antigos vai dar um presente para ela, combinado?

— Preseente! Eeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee!!!

  E ela ia pular no sofá, mas eu a peguei e fiz não com o dedo.

— Boazinha é quietinha e tomar os remédios dona Nini, hun? Temos um acordo?

— Okie tio Channy! Temos um acordo!

  Ela estendeu o dedinho e eu fiz o mesmo. Selamos nosso pacto de domingo.

 

 

  Algumas horas depois e depois de metade de nós já estarem espalhados pela sala dormindo também, afinal brincar com criança cansa mesmo, ainda mais vestido de espectro do anel e tendo que levar Vivi para passear duas vezes de manhã em volta da quadra, eu finalmente estava com Kai na pequena sacada e podia falar para ele o que planejava. Mas antes que eu dissesse algo, ele se virou para mim e me abraçou:

— Obrigado Channy, você é o melhor amigo que eu poderia ter, mesmo!

— Vocês dois vestidos dos pés à cabeça de preto na sacada de um apartamento suburbano se abraçando em plena hora do almoço. Cuidado para os vizinhos não acharem que a terra está sendo invadida por assassinos medievais homossexuais.

  Eu rolei os olhos e Kai riu quando Baek veio com latinhas de café quente para nós. Ninguém bebia cerveja na casa do Kai, por causa da Nini. Baekhyun sorriu para nós e se escorou na murada alta, pensativo:

— Devíamos todos morar mais perto sabe, só acho.

— Eu também.

  Disse mais pensando comigo mesmo. Devíamos morar juntos, ao menos no mesmo prédio, seria tudo mais fácil e legal.

— Eu passei várias vezes em frente a loteria hoje – Baek continuou desviando os olhos para a paisagem da sacada, seis metros e outras várias janelas vazias – Eu não sou de ter muita sorte, mas acho que se eu pedir com jeitinho ao povo lá de cima, talvez eu ganhe o suficiente para comprar uma casa imensa para todos nós vivermos com a Nini, o que vocês acham?

— Que talvez devíamos pedir com muito jeitinho e em grupo - Kai falou sorrindo mais amplo – Vocês são os melhores tios do mundo para a minha filha gente, sério, eu amo vocês!

  E foi ali que eu soube que estava fazendo a coisa certa, eu ia dar o meu melhor para ser tudo o que o Sauron queria e ia conseguir bastante dinheiro e claro, ia pedir com jeitinho pelo Baek também em minhas orações noturnas, vai que o povo lá de cima está ouvindo aquela noite?

  Nunca se sabe...

 

 

Minha vida de call centerOnde histórias criam vida. Descubra agora