Minha vida de call center

E foi assim...

— Lojas Kim, Park Chanyeol, boa tarde?

— Nossa que voz sexy, fala mais gato, pode falar hun?

Arregalei os olhos e a mulher falou tão alto que Minseok pode ouvir do meu lado. E ele acabou rindo baixinho:

— Diga para ela que você tem dono e ele é o olho que tudo vê, ela não pode com o Sauron.

Suspirei cansado e ignorei ambos, o amigo e a cantada em plena duas da tarde:

— Senhora, eu ligo a respeito do seu débito com as lojas K...

— Mas eu achei que era só para falar comigo e eu poder me tocar ouvindo a sua voz...

Eu engasguei no segundo seguinte e Minseok deu tapinhas em minhas costas solidário enquanto Baek rolava os olhos e pedia para transferir a ligação; eu não era de fazer isso mas fiz, transferi e ouvi Baek dizer com voz séria:

— Senhora Lee, você tem uma dívida com a nossa empresa, eu aconselharia a fazer essas coisas no banho, ou com seu vizinho e me dizer quando pretende pagar para que eu possa agendar, que tal?

Eu queria bater a cabeça na mesa da P.A e nem tudo era por culpa da ligação indecente.

Duas semanas, duas semanas se passaram daquele dia fatídico em que toda a central soube que dormi com o chefe e aquele era o dia em que eu ia saber se ia ficar como secretário mesmo ou não.

Como pedi para senhor Huang esquecer de tudo isso e agir normal comigo, eu estava meio que rolando de sono e culpa no banco do carro, meu chefe fez, e com a ameaça dele, ninguém ficou mais comentando sobre eu ser ou não ser o noivo do chefe dentro da central, todos acreditavam mais que foi só uma brincadeira idiota e ficou por isso mesmo.

Contudo eu contei a verdade para meus amigos que também me aconselharam a deixar para lá. Não valia a pena ficar louco com algo que nem tinha certeza que aconteceu, e eu não tinha mesmo, era tudo obscuro e sonolento, não lembrava de nada concreto e senhor Huang nunca disse também. Era como se nunca tivesse acontecido, só que aconteceu e aquilo me perseguia dia e noite.

Eu já não dormia bem, nem comia bem e estava claramente mal, só fingia não estar. E percebi que era um ótimo ator, quem diria...

E percebi outra coisa também, que depois de acordar e ver meu chefe nu, eu realmente sentia coisas que não deveria perto dele, agora. E o pior era que os sorrisinhos de canto, os modos educados com que abria e fechava a porta para mim quando me levava para jantar e para casa, agora ele fazia isso todas as noites e ai de mim de reclamar, e até mesmo como falava comigo desde a aquele dia, mexiam com meu cérebro e meu coração, era errado, eu não queria, ele era o malvado da central, mas ainda assim eu cai pelo meu chefe como o Frodo pelo anel.

A diferença era que não havia um Sam na minha vida para "dar" da minha cara e me fazer voltar a razão. Eu continuava a cair nas garras do Sauron como um cordeirinho idiota. Ou um hobbit gigante.

Eu era um idiota.

— Hora de ir, Channy, vá lá saber se vai ser um de nós para sempre ou vai ser servo direto do senhor do escuro.

— Eu sempre serei um de vocês Minseok, que ideia absurda!

Resmunguei chateado, ele se curvou e me abraçou: