tio jorge

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Depois do Kovelsky's, Konan me deixou em casa. Tentei convencê-lo que poderia voltar de ônibus, mas ele fez questão. Ao chegar, acenei para ele quando ele arrancou com o carro e antes mesmo de abrir a porta mandei uma mensagem pro Shawn dizendo que iria à festa.
Entrei e me deparei com Genny no sofá. Akinli estava ao lado dela e me cumprimentou. Respondi ao seu cumprimento e olhei em volta buscando papa, mas ele provavelmente tinha tirado hora extra.

— Seu treino demorou hoje. — Observou Genny.

— Não demorou. É que fui com Konan treinar num lago congelado depois.

— Aquele que você me mostrou a foto? — Perguntou. Parecia não lembrar da presença do namorado ao seu lado, que encostou o nariz em seu pescoço enquanto ela falava.

— Sim. Konan Stevenson. — Fiz uma pausa quando percebi que Mina não estava na cozinha. — Cadê sua mãe?

— Lavando os banheiros lá em cima. E não muda de assunto. Vocês treinaram?

— A gente saiu pra comer. Nada demais, se é isso que você tá querendo insinuar. — Caminhei até o armário da entrada e tirei meus patins da bolsa. Pendurei-os no cabide e tirei meu casaco, pendurando-o também.

quando fechei o armário e voltei a olhar na direção do casal, eles estavam se pegando.

— Vocês podem fazer isso quando eu não estiver mais aqui, por gentileza? — falei andando em direção às escadas e fui pro meu quarto.

Quando fechei a porta do banheiro por trás de mim, me despi e joguei todas as roupas no cesto de roupas sujas. Eu havia suado mais do que o normal por causa do treino intensivo. Entrei na banheira ainda seca e preferi tomar banho de chuveiro normal, sem deixá-la encher. O banho foi rápido, e como eu já tinha algumas roupas no armário abaixo da pia, me vesti lá dentro mesmo. Assim que abri a porta, senti frio e notei que o aquecedor do quarto estava desligado. Liguei-o, claro, e deitei na cama. Havia sido um dia bem cansativo, visto que na faculdade filmamos o dia todo e treinei o dobro no patins. Patins. Por falar em patins, eu e Konan nem havíamos trocado os números.
Mais tarde, desci e liguei a TV numa série que estava passando. Era uma que eu costumava assistir sempre naquele horário. Genny e Akinli haviam sumido da sala. Foi aí que a programação foi interrompida para passar breaking news. Um ataque terrorista na fronteira dos EUA pro canadá. Haviam explodido bombas em vários caminhões. Gelei, pois me lembrei que o marido de Mina era caminhoneiro e estava fazendo exatamente aquele percurso, pois tinha entregas em Minnesota. O ambiente estava um caos e o repórter parecia desesperado para entrevistar alguém que pudesse dizer o que estava acontecendo. Mas as pessoas que estavam ali eram bombeiros tentando apagar as chamas dos veículos e tirar os motoristas de dentro.
Então o homem de camisa social com o microfone começou a falar. Ele disse as placas dos caminhões explodidos e alegou que até então não havia sinal de sobreviventes. 7 caminhões. Obviamente anotei as placas, mesmo sem saber a placa dele. Subi as escadas e me dirigi ao quarto de visitas, onde suspeitei que Genny estaria com Akinli. Mina havia saído para fazer as compras.

— Seja lá o que vocês estão fazendo, Genny, eu preciso que desça. — Falei depois de muito bater na porta.

A garota abriu a porta e colocou a cabeça pra fora.

— O que é? — Disse de cara feia.

— Qual a placa do caminhão de seu pai?

— Não acredito que você nos interrompeu pra isso! — Revirou os olhos e ia fechar a porta na minha cara. Mas segurei.

— Houve um ataque terrorista a caminhões de carga na fronteira pros EUA. Disseram as placas dos veículos atingido. — A expressão dela mudou repentinamente.

— Espera, já vou descer. — Disse fechando a porta em choque.

Desci correndo novamente, pra ver se não conseguia mais nenhuma informação. Foi quando ao fundo do repórter, vi corpos sendo tirados e deitados no chão. Mas puseram blur nos corpos e não dava pra ver em que estado estavam.

Genny então apareceu. ela ainda estava abotoando a calça e o Akinli por trás ainda estava sem camisa. Ela parou olhando para tv ao ver o caos. Procurou o celular pela sala e se lembrou de tê-lo deixado lá em cima.

— Me empresta o seu, eu preciso ligar pra ele. — ela parecia não acreditar no que estava acontecendo.

Então ela ligou. E dava como se o celular estivesse desligado. Foi aí que ela se lembrou que tinha o contato do patrão do pai, o verdadeiro dono do caminhão. Caixa postal.

— DROGA MERDA CARALHO! — Ela xingava e começou a chorar de desespero. Vou ligar para a mamãe. Akinli, é melhor você ir. — Então o garoto ainda sem camisa beijou a namorada, disse algo em seu ouvido e foi embora sem levar o resto das roupas que provavelmente estariam no chão do quarto de visitas.

— Não. Melhor não ligar pra ela, não temos certeza. Vamos esperar. — Tentei convencê-la, mas ela já estava digitando os números na tela.

— Mãe? — tentou disfarçar o desespero na voz. — Você sabe a placa do caminhão do papai?

Genny repetiu a placa que a mãe disse e gelei. Era uma das que eu havia anotado. A essa altura a série já tinha voltado a passar e não passava mais nada sobre o acontecido.
Eu não consegui dizer nada, apenas mostrei as notas do meu celular com as placas anotadas. Ela levou a mão à boca, tirou o celular do ouvido e começou a chorar. Antes que derrubasse o aparelho, tomei de sua mão e coloquei próximo ao meu ouvido.

"O que aconteceu? O que está acontecendo, Kai, você pode me explicar?" Disse um tanto preocupada.

"Desculpa, Mina... Eu não sei como te dizer isso mas..." Fiz uma pausa caçando as palavras e deixei que lágrimas caíssem nas minhas bochechas. Eu não queria ter que dar essa notícia a ela. "É melhor a senhora vir para casa. Rápido." Chorei. Ela começou a falar algumas coisas que não ouvi e desliguei.

O segundos ficavam cada vez mais tensos enquanto Mina não chegava e eu tentava acalmar minha amiga. Mas nem eu estava calma. O tio Jorge, como eu o chamava, a pesar de não vê-lo muito, era uma pessoa muito especial para mim. Ele era alegre e sempre nos natais que íamos passar com a família de Mina ele fazia varias brincadeiras com as crianças.
Não podia ser verdade, tio Jorge não podia estar morto.

Quando Mina chegou ela estava tão preocupada que nem desceu com as compras. Então dissemos tudo. Com o máximo de eufemismos que conseguimos. Ela não chorou, não desmaiou, não gritou. Ela não reagiu, apenas ficou imóvel sem saber o que fazer. Seus olhos ficaram distantes durante longos segundos até que ela começou a derramar lágrimas. Eu e Genny já estávamos chorando mesmo. Então abracei a mulher que pra mim era uma mãe e minha amiga se juntou a nós.

Que dia estava sendo aquele?! Me perguntei quando voltava para casa depois de ter deixado as duas. Não sei se receberam alguma ligação depois que voltei, se tiveram mais notícias. Mas o repórter havia sido bem claro ao dizer que não haviam registros de sobreviventes.

***

Quando me vi sozinha chorei. Ele era realmente como um tio pra mim. Meu celular então vibrou nas minhas mãos e era o Shawn confirmando o horário de ir me buscar no dia da festa. Tive vontade de dizer que não ia mais, mas eu havia prometido. Apenas ignorei a mensagem o máximo que pude.

- -

Continua...

If I Can't Have You|| S.M. (cancelada)Onde histórias criam vida. Descubra agora