O jogo continuava 0 a 0. Enquanto a equipe médica do São Cristóvão retirava um jogador capenga do campo, Betá, segurando uma meia arriada, observava a pequena marca avermelhada acima do tornozelo, ocasionada por uma dividida de bola . Como a meia amortecia o choque, o jogador já não sentia dor, apenas um incômodo.
O jogo recomeçou com um jogador de branco cobrando uma falta. A bola bateu na barreira, um jogador americano lançou uma bola longa para a direita; foi recebida por um colega que ganhou velocidade. Um jogador de branco deu carrinho, tirando a bola do americano; a bola foi à lateral.
Betá foi se posicionar para ficar próximo de um jogador de sua equipe que fosse receber a bola da cobrança da lateral. A lateral foi cobrada com o pé. O americano que a recebeu ganhou velocidade e passou a bola para Betá, que também ganhou velocidade, fazendo tabela com este, e alvoroçando a torcida rubra. Após driblar outro jogador, Betá devolveu a bola para o colega. Esta bateu na mão do americano e foi ao chão. O americano chutou; Júlio César mandou a bola para cima da rede, arrancando aplausos dos torcedores do São Cristóvão. Escanteio.
— Eta juiz cegueta! Não viu a bola bater na mão? — gritou uma voz que parecia um barítono protestando.
"Ora, um rival do remo", pensou Vítor. "Pelo menos, no futebol, torcemos para um mesmo time."
Observou os músculos de seu braço direito e os músculos do torcedor parrudo.
"Tenho que reconhecer que os deles são maiores, mas não tão maiores."
***
Desde que se mudara para o Leblon, Vítor planejava dar uma volta pela Lagoa Rodrigo de Freitas; por diversas vezes adiou o evento. Num fim de semana, quando ganhou coragem, o tempo fechou. No fim de semana seguinte, o céu estava de brigadeiro. Por fim, o garoto resolveu contornar o espelho d'água.
Enquanto caminhava pela margem da Lagoa, Vítor prestava atenção nas construções, pedestres — principalmente nas pedestres —, na fauna e na infraestrutura do trajeto, com pistas de ciclismo, patinação, aparelhos para ginástica, etc... Reparou na Igreja de São José, que, devido à arquitetura singular, demorou a descobrir que era um templo.
Após percorrer alguns quilômetros, resolveu parar um pouco. Encostou-se numa árvore e apoiou o braços num galho. Enquanto seu coração desacelerava, olhava a movimentação de pássaros: frangos d'água, que o rapaz ainda não sabia que diabo de espécie era aquela, nadavam entre o manguezal; biguás estavam sobre estacas fincadas no fundo da lagoa; fragatas cortavam o céu, enquanto alguns da espécie mergulhavam no espelho d'água e bicavam algo.
Vítor desviou a atenção dos pássaros ao notar três pedestres que se aproximavam: três moças um pouco mais velhas do que ele. Uma loura que usava legging, uma mulata com um maiô fitness e uma gordinha de camiseta e short. A loira mirou a lagoa e estacou; as outras duas olharam para onde ela apontava os olhos. Vítor passou a fazer o mesmo.
— O que foi, Marina? — quis saber uma delas. — Está reconhecendo alguém?
— Está longe, mas acho que o remador que está na extremidade é o Marcão — deduziu enquanto retirava algo de um bolso.
A cem metros, havia uma embarcação com nove homens; oito puxavam a água com remos enquanto um ficava de frente aos remadores. Todos usavam uma camiseta negra com uma faixa diagonal branca; nas pás dos remos havia um desenho vermelho que, devido à distância e à movimentação dos remos, Vítor não sabia o que era.
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HISTÓRIAS ALTERNATIVAS
Science FictionDois cientistas de garagem, na tentativa de desenvolverem um motor quântico, acidentalmente criam uma máquina de translocamento temporal. Um deles é enviado ao passado e acaba alterando um pouco a história, inclusive a história do futebol carioca. U...