Capítulo 7

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Decisão da Copa do Brasil 2006 (Bruno e Vítor)

Betá cobrou a lateral e correu direto à pequena área, na esperança de receber uma oportuna bola, mas ao se tocar de que a marcação ficara forte, a jogada planejada logo se dissolveu. Um jogador de branco lançou bola alta para o meio de campo, dando início a um contra-ataque; outro jogador cadete a recebeu e ganhou velocidade; cruzou a redonda para a esquerda, sendo recebida por Luizão, que ganhou velocidade. Localizou alguém do time próximo à pequena área e lançou a bola, que foi recebida com sucesso. A bola foi ajeitada e tocada para o gol. Um zagueiro de vermelho a afastou, impedindo-a de balançar a rede. Um jogador de branco a rebateu, e a bola foi desviada por outro americano, anulando pela segunda vez, em menos de dez segundos, o grito de gol da torcida do São Cristóvão.

Um jogador de branco foi logo cobrar o escanteio. Um jogador do America, mais ligeiro, lançou a bola para a sua esquerda, que foi recebida por outro americano. Ele cruzou a bola para a frente, e esta foi recebida por outro de vermelho, que localizou Betá próximo à pequena área. Betá visualizava a bola vindo em sua direção. Ouviu um apito, o juiz apitara o impedimento. De raiva, Betá chutou a bola, que balançou a rede; Júlio César foi buscá-la.

Diversos torcedores do America xingavam o juiz, alegando a inexistência do impedimento.

— Foi impedimento sim, seus cornos! — gritou Bruno batendo a boca com uma torcida organizada do America que não estava longe. O nome da torcida era Diabófilos, e também trocavam insultos com integrantes da Energia Imperial. Vítor não participava dos insultos; aquela imagem lhe trazia más lembranças.

***

Depois que o atual estádio do São Cristóvão foi inaugurado, em 1942, e o antigo e pequenino estádio da Figueira de Melo demolido, no lugar foram feitas algumas edificações. Mais tarde, o imóvel foi alugado para o exército, que o usou para abrigar cavalos. Na década de 70, com demolições, virou um estacionamento. Recentemente, após obras,

Dezenas de integrantes da escola ocupavam a quadra para tratar de preparativos para o desfile do segundo grupo. Havia algumas alegorias que estavam pela metade. Bruno Ebner fitava a bandeira da escola, com listras pretas e brancas que iam das extremidades a um círculo, no centro. Contornando o círculo, letras douradas com o nome da agremiação Energia e Imperial estavam como que sendo eletrocutadas. Na parte interna havia o desenho de Dom Pedro I erguendo uma espada, que se tornou o símbolo do clube, além do santo padroeiro dos motoristas, na década de 50, graças a um radialista esportivo que passou a chamar os jogadores cadetes de imperiais — uma alusão à alcunha do Bairro de São Cristóvão.

Bruno considerava que a ideia do Silveira, da torcida organizada, de formar uma escola de samba fora genial. O dinheiro público que a empresa de turismo enviava a eles era considerável.

— Então, seu Bruno, neste ano a escola sobe? — gritou um homem com sotaque mineiro, que estava aplicando Colorgin numa alegoria.

Bruno sorriu erguendo um dos polegares.

— O lado chato é que essa brincadeirinha me obriga a conviver com o Zé Povinho. E para pagar menos mico, tive que me matricular numa academia de dança para aprender samba no pé. O pior é que nunca gostei de samba, sempre gostei de rock: tanto ouvir como dançar. Mas qualquer coisa que faça entrar dinheiro e me coloque nos refletores é bem-vinda.

Ouviu-se um som de maquinário. Um dragão, ainda em construção, passou a agitar as asas vagarosamente. Uma parte da alegoria, destinada para o encaixe da cabeça, também se movia.

HISTÓRIAS ALTERNATIVASWhere stories live. Discover now