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O CONFRONTO

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O CONFRONTO.

Horas antes do encontro com a Ana...

Passei a noite em um bar e entre um copo e outro, eu via a imagem da Rose projetada na minha frente. Ela era tão pequena, tão meiga. Resolvo que não é hora de sentir pena de mim e sim, é hora de correr atrás do tempo perdido. Faço sinal para o garçom e deixo uma nota de cem largada sobre a mesa. Saio do bar me sentindo meio tonto, mas bem capaz de voltar para casa. Subo na moto e acelero ganhando o asfalto quase sem movimento. Minutos depois, deixo a moto na garagem e vou para dentro do meu antigo quarto, onde passei a minha infância, mas que agora, já não me sinto em meu lugar. Essas paredes guardam muitas mentiras. Como eles puderam? Na sala, encontro o meu pai sentado em um dos sofás lendo o jornal. "Esse confronto seria algo inevitável." Penso. Ele percebe a minha presença e deixa o jornal de lado. Os olhos claros e frios me encaram duramente e neles não há um pingo de arrependimento. Nem um remorso. Nada. Há apenas uma pedra de gelo em cada retina. Com mais dois passos me aproximo do homem que se diz meu pai. O homem que destruiu a minha vida e que me tornou o que sou hoje. Tão frio quanto ele. Calculista, cruel, intolerante, sem alma e sem coração. Inabalável. Pelo menos até ontem eu era.

— Ainda está vivo — diz com um tom seco, sem tirar os seus olhos dos meus.

— Esperava que eu morresse? — indago tão frio quanto ele.

— Pelo jeito que saiu daqui ontem. Não sei porque ainda fico surpreso — rosna. E só consigo pensar que o filho da puta esteve em casa e não me recebeu. Ficou incluso o tempo todo. Assinto lentamente para o seu comentário. — Imagino que sua mãe lhe contou tudo. — Ele continua. Dou-lhe as costas em silêncio e caminho até o bar de canto sem muita pressa e me sirvo uma dose generosa de uísque.

— Aceita? — Ofereço ignorando a sua afirmação.

— Não, ainda é muito cedo, penso que você também não deveria. — Rio sem vontade.

— Você acha? — ralho irônico. — O que mais você pensa, senhor Fassini? — questiono, me virando e volto a encará-lo. Ele não desvia o seu olhar. Porra ele se acha o dono da vida e que somos suas marionetes que ele pode mexer como quiser e bem entender.

— Edgar, filho...

— NÃO ME CHAMA DE FILHO, PORRA! — esbravejo, puto da vida. Vejo o meu pai endurecer a face ainda mais e assentindo, ele começa a andar em direção da biblioteca.

— Precisamos conversar, e essa conversa não acontecerá aqui, no meio da minha sala onde os empregados possam nos ouvir — diz sem olhar para trás.

— Claro, não podemos manchar a reputação do senhor Enrico Fassini — rebato debochado. Ele se quer me olha e continua sua caminhada para o seu destino... O escritório. Entorno a bebida de uma vez, que desce me rasgando por dentro. Respiro fundo, ajeitando o meu terno e o sigo logo atrás do meu pai. O escritório ainda está do mesmo jeito. Velhas estantes de madeira escuras, ladeiam a enorme parede do lado esquerdo do cômodo. A enorme mesa colonial ainda está lá. Os estofados negros... Nada mudou por aqui. Como sempre, ele se senta em sua cadeira imponente, como se fosse um grande rei olhando os seus súditos com o seu olhar superior. Eu não fico por menos. Aprendi a não sentir medo de nada e nem de ninguém. Aprendi a esmagar as feras com minhas próprias mãos.

3. FRAGMENTOS DO PASSADO -  APENAS DEGUSTAÇÃO.Onde histórias criam vida. Descubra agora