Você ja pensou em marcar uma consulta com o psicologo?

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— Parem os procedimentos! Parem! Isso tem que parar agora! — Grito eu. E minha mãe me olha, como se eu tivesse perdido totalmente a sanidade. E olha, mãe, talvez o seu julgamento indireto esteja certo, eu devo estar pirando.

Por um momento tudo ficou em silêncio, os enfermeiros pararam a disputa pela maca, e todos os olhos se voltaram para mim. Na mosca. Ótimo jeito de conhecer os novos vizinhos.

— E quem diabos é você? — Para o meu azar, o loiro se desvinculou de Momo, só para dar alguns passos na minha direção; um, dois, três. E se fosse possível eu correria de costas, mas quando arrisquei alguns passinhos para trás, senti a parede bater contra mim.

Ele estava tão próximo que eu conseguia ver claramente a linha fina que delineava o seu maxilar quadrado e seus olhos num tom escarlate. Não sei ao certo se era raiva, mas algumas veias estavam saltando da testa dele, e só ai percebi que estava o encarando sem dizer nada a um tempo.

— Izuku — Começo eu, tentando não deixar transparecer o nervoso na voz — Eu sou o novo morador-

— E o que você tem a ver com os assuntos daqui? — O grandão me interrompe, cruzando os braços sobre o peito, não tirando os olhos de mim.

— Eu... Bem... — Limpo a garganta. — Acho que não está na hora certa de ele ir embora.

— Izuku. — Minha mãe suspira. — Sei que você está estressado no momento, mas, sério... — Ela se dirige à Bakugou. — Sinto muito. Não temos realmente nada haver com isso. Ele precisou deixar o namorado e não tem sido o mesmo desde então. — Bakugou volta o olhar para mim, com desdém desta vez, preconceito, deu pra sacar.

— Não tem nada a ver com isso! — protesto indignado, mas todos me ignoram.

— Ah, me poupe desse draminha! Já não temos enfermeiros para cuidar dos que estão sã, imagina de um que não pode nem se mexer? Ele iria querer isso — Diz ele — Podem levá-lo.

Para meu horror, o garoto corre para a base da cama e começa a tentar trazê-la de volta. Mas seus braços não conseguem, eles sempre o atravessam.

— Por favor! — Ele olhe em minha direção, sem muita expressão. — Impeça-os!

Estou começando a entrar em pânico mesmo. Não sei por que estou alucinando nem o que isso significa. Mas ainda assim parece real. O tormento dele parece real. Não posso simplesmente não fazer nada.

— Não! — grito — Parem!

— Izuku, pelo amor de Deus, você está me deixando envergonhada... — minha mãe começa.

— É sério! Existe um motivo justo para que esses aparelhos não sejam parados. Vocês precisam parar! Agora! — Saio correndo pelo corredor, me coloco na frente da porta de saída.

Um motivo? Fala sério! Eu queria gritar que o motivo era que eu tinha perdido uns parafusos na viagem de volta para o Brasil.

— Bem... hã, eu — Gaguejo eu.

— Diga que você se responsabiliza por mim — Diz Shouto, que está do meu lado, bem, não de corpo presente, você sabe. — Diga isso. Fala logo!

— Você pode calar a boca, só por um minutinho? — Esbravejo eu.

— O que disse? — Estoura bakugou.

Balanço a cabeça e tento parecer normal. E decido fazer a egípcia para a pergunta.

— Eu me responsabilizo por ele, vocês disseram que não tem quem cuide dele, não é?

Eles se olham apreensivos, e o silêncio pela segunda vez na tarde ganha espaço. Veja bem, tudo não poderia estar pior, quero dizer, qual é? Um cara que ninguém nunca viu, está ali, dizendo que vai tomar conta de alguém que provavelmente está vendo pela primeira vez — e eu realmente estava — O fato maior era: É difícil pensar direito com um fantasma... como posso dizer? Bonitinho demais, gritando no meu ouvido, que eu devo cuidar dele.

Não que essa fosse a razão principal, estou te dizendo, não mesmo. Mas eu tenho valores.

— Você tem algum preparo para isso? — Foi o enfermeiro que perguntou, ajeitando os óculos quadrados, me fitando por cima deles.

Pense rápido. Pense rápido.

— Sim, mas é claro que eu tenho — Minto eu, demonstrando estar ofendido, com as mãos sobre o peito — Eu sei tudo que precisa ser feito. Tudinho mesmo.

E o que precisa ser feito é eu dar sebo nas canelas, correr do papa-léguas, fazer a maluca, chame como quiser. Só... você sabe, dar um perdido daqueles.

— É mesmo? — O maldito loiro recomeçou, com um sorriso torto. — Porque você não me parece entender de nada disso, além de... — Ele me olha de cima a baixo — pintura?

Olhei para as minhas mãos. Droga. Eu estava decorando o quarto.

Ele da uma gargalhada — Veja só um artista.

Então, eu disse, mesmo não devendo dizer, mas disse mesmo assim. Meus lábios se fecharam numa linha fina e tentei usar a voz mais firme possível no momento.

— Eu sou... — Você consegue, você consegue. — Sou enfermeiro, formado e tudo, quero dizer, você sabe — Levei as mãos ao quadril — Nos Estados Unidos.

O que me faz lembrar que eu não era formado em nada, que eu não sabia de nada. Quer dizer, uma única vez me vesti de enfermeira, para Shindou, quando ainda namorávamos. Aquele babaca. E não preciso dizer as frases prontas: "Ai doutor, estou tão mal, acho que preciso de ajuda, uma injeção, talvez?". Parece que posso ouvir a voz dele ainda sussurrada no meu ouvido: "Poxa, você está dodói, é? Eu tenho o tratamento que você precisa." E que tratamento.

— Então você é enfermeiro? — Bakugou, me tirou dos devaneios, mais uma vez — Ótimo. Então não vai ter problemas em ficar com ele vinte e quatro horas, não é? — Ele sorri — E, dar banho, remédios, tudo isso ai.

— Espera, eu- — Eu estava tentando dizer.

— Diga que sim, diga! — Shouto estava atrapalhando os meus pensamentos, ele não parava de falar, acho que foi por isso que eu disse, não queria dizer, mas disse mesmo assim.

— Sim, é a minha profissão, oras! — Eu estava rindo, de nervoso, claro — Vou cuidar dele.

Lembra que eu disse que tinha valores? Ok, valores de um tremendo mentiroso.

Quem me surpreendeu foi quem eu não esperava. Nem um pouquinho. Ela se desencostou da parede, tossiu alto e disse:

— Olha aqui... Izuku? — Momo me olhou de cima a baixo — Shouto é meu namorado, entendeu? M-E-U! De modo que, eu sei muito bem o que você está planejando. Sei mesmo. — Estalou a língua — Você não me engana nem um pouco. Então, fica esperto, porque eu também vou ficar.

Bem, se você acha que ela iria me agradecer, dizer que estava muito contente que um "enfermeiro" estava se dispondo a cuidar do namorado dela, se enganou, e se enganou feio. Ela não me pareceu nem um pouco agradecida, ela parecia ofendida. E isso me faz lembrar de nunca mais rir da frase "Fé nas malucas". Aliás, quem inventou essa frase? Puxa vida, abomino-o mesmo sem o conhecer. Otário.

— O que os olhos não vem, o coração não sente — Gargalhava Bakugou, enquanto eu tentava pensar numa resposta.

— Ah, o meu tá sentindo tudo, o que vê, o que não vê, eu sou louca — Me encarou — Ta entendo?

Shouto, que estava do meu lado, estava rindo.

No Brooklin, Estados Unidos, descobri uma coisa muito boa: Um bom soco no nariz é capaz de calar uma boca, ok, mas não de um fantasma.

— Você deveria procurar um psicólogo, já pensou nisso? — Foi o que eu disse.

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